Ter o bolo e comê-lo
Se alguma coisa pudesse ser dita que ilustrasse na perfeição as causas do estado do país, escolheria a forma como os que se manifestam contrários à despenalização da IVG o fazem. À semelhança das más práticas de muitas das nossas instituições e das "pequenas hipocrisias" de parte da nossa sociedade eles pretendem manter uma lei que proíbe uma acção, sabendo de antemão que essa lei é ignorada e contornada e querem manter essa mesma acção como crime, sem que os autores do mesmo sejam penalizados.
Irónicamente este movimento que se poderia dizer conservador (apercebendo-se de que a maioria dos portugueses não gosta de assistir ao espetáculo de mulheres a serem arrastadas pelos tribunais pelo "crime" de aborto) contraria um dos princípios que tradicionalmente lhe é mais caro: o de a um crime dever corresponder um castigo.
Se há aspecto que tem sido abordado e esmiuçado em Portugal até à exaustão é o da falta de responsabilidade. A ponte em Entre os Rios caiu, dezenas de pessoas morreram, ninguém foi responsabilizado. O processos "apito dourado" , "Isaltino", "Felgueiras" e tantos outros não parecem ter fim à vista. Poucos duvidam que há crime, ou crimes e, no entanto, não há, até ver, nenhuma punição (ao contrário, por vezes, parece haver até uma premiação da suspeita de crime).
Pretende-se agora em relação ao aborto fazer a mesma coisa: É crime, é proíbido, mas não é penalizado. Esteve bem o Primeiro-Ministro a recordar as pessoas que não podem ter o bolo e, simultaneamente, comê-lo...
De Bag
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