domingo, abril 03, 2005

KAROL WOTJYLA - JOÃO PAULO II (1920-2005)

Morreu o Papa. Morreu um Papa que, ao contrário de alguns dos seus antecessores mais próximos, irá ficar para a História de uma forma mais presente e marcada. Este Papa, pode-se concordar com parte, ou toda a sua vida, com algumas obras, ou nenhumas, sendo que eu concordo com pouco, reaproximou a Igreja das suas reais origens dogmáticas, numa lógica de que mais vale diminuir em dimensão e força, mantendo-se “puro”, do que conciliar e evoluir, perdendo identidade. Parecendo-me notável que o Papa, pelo menos em algumas áreas, conseguiu os dois objectivos: manter poder e “pureza” dogmática.

Para mim, este Papa foi muitas coisas ao longo da minha vida. Numa primeira fase, quando tinha 11, 12, 13 anos, foi o Papa da Liberdade, associado a um combate contra as ditaduras em que a maior parte da Europa de Leste vivia mergulhada e, em especial claro a Polónia. Combate esse que apesar de poder ter tido como motivação tanto a democratização como um crescimento do poder de influência da Igreja, que resultou numa implantação efectiva de regimes democráticos e numa melhoria generalizada das condições de vida na maior parte dessas sociedades.

Numa segunda fase, veio o Papa que eu não conseguia compreender. O Papa que, quando chega a Timor, não beija o chão. O Papa que não fala alto, como tinha feito poucos anos antes, contra a opressão dos Timorenses às mãos do regime de Suharto. Mas, igualmente mau, o Papa que se apressa a consolidar o poder e ascendente da Opus Dei sobre a hierarquia da Igreja e, logo, sobre a sociedade.

Depois, vem o Papa, em relação ao qual já não alimentava ilusões. O Papa que em África apela à não utilização do Preservativo, mesmo sabendo da evolução galopante da SIDA. O Papa que corta pela raiz o debate em torno da ordenação de mulheres. O Papa que, nos últimos anos, emite uma série de Encíclicas sobre temas como o papel da mulher na sociedade, a homossexualidade, a investigação cientifica, células estaminais, entre outros, que, a serem adoptadas, significaria um retrocesso brutal.

Muito embora a Igreja seja, em teoria, uma organização particular e, logo, livre para assumir as posições que muito bem entenda, não se pode deixar de considerar que a projecção e impacto singular das palavras do Papa e de toda a hierarquia da Igreja Católica os poderiam ter talvez levado a pesar melhor algumas intervenções. E, contudo, isso seria quiçá o mesmo que pedir a Álvaro Cunhal para ter feito alguma coisa diferentemente…As pessoas, especialmente certas pessoas teimosas, conservadoras e capazes de se elevarem a uma certa forma de “autismo” no seu quotidiano não vêm sequer outra forma de orientarem as suas acções.

Não obstante, só o facto de eu, tal como muitos outros, sentir a necessidade de escrever aqui sobre este Papa, demonstra a sua importância e o seu estatuto único mundial. E isso é algo que eu tenho de reconhecer e talvez o único elemento unânime e consensual em todos estes escritos.


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