segunda-feira, julho 25, 2005

A Chuva

Desde sexta-feira que a realidade parece ultrapassar-me inexoravelmente. Primeiro foi a sucessão de bombas, falsas e verdadeiras. Um homem bomba, que afinal não o era, em Londres numa repetição de um ritual macabro que já parece não nos impressionar e uma bomba numa estância de mares calmos e quentes na antiga terra dos Faraós. Esta última com direito a filmagem do momento em que explodiu e da destruição, gloriosamente detalhada, que se lhe seguiu e com um número de mortos a rondar a centena. Do outro lado daquele estreito mar quente, outra terra antiga, aparentemente esquecida da sua antiguidade (como quase todas as terras antigas) continua assolada por bombas diárias, crueis e quase inevitáveis.

Depois, foi o fim de semana presidencial alucinante. Quando Cavaco e Alegre perceberam a iminência do avanço de Soares correram, como não o tinham feito até agora, para, ou clarificarem posições, ou se colocarem numa posição de "pré-partida". Soares, mestre nesta arte, marcou o seu tempo, provocou a acção de um até agora relutante primeiro ministro e de um igualmente até agora esfíngico Cavaco, que tudo aparenta não se deixará amedrontar por este novo velho nome. Soares é o melhor de todos os nomes de esquerda surgidos até agora e apesar dos seus 80 anos, é uma personalidade que soube, por agora, manter-se ao corrente, no meio da corrente e influenciar a corrente. Mas será que estará preparado para a urgente renovação que a dignidade do cargo presidencial reclama para ontem? A sua actuação passada demonstra que sim, mas em 10 anos, o tempo que Cavaco também se "ausentou", muito muda...

Depois, ainda, a presença constante e claustrófobica dos fogos. Para onde quer que nos voltemos, na Televisão, onde os "populares" choram a perda dos seus tractores, casas, culturas, pinhais, na paisagem calcinada, onde se constata vincada nas colinas, gravada nos vales a rota das labaredas, os troncos negros despidos ao sol vê-se o Fogo e não se compreende como é possível haver dinheiro para sucessivos estudos sobre a OTa, ou o TGV e não uns míseros milhões para um, ou vá lá, dois Canadairs. Como é que alguém pode ainda dizer que não se justifica o investimento em meios aéreos de combate a incêndios? Quando irá Costa mudar isto? Ou persistirá ele em continuar a montar a onda do conformismo nesta área?

Por tudo isto, ontem, a meio de uma viagem ao Porto, na A1, apeteceu-me mandar parar o carro e saborear cada gota da chuva que caiu. Chuva que saboreio como o primeiro gelado de Verão, ou o primeiro scone de Inverno, único "elemento" verdadeiramente bem vindo neste país carente.


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