A "Despreparação" para o Aborto
Passados anos e mais anos sobre o primeiro referendo e sobre todas as discussões sobre o tema parece-me, pelas primeiras vozes que se fizeram ouvir na blogosfera que certo país continua muito pouco preparado para o debate sobre a despenalização do aborto.
Uns agarram-se a argumentos surrealistas que só acrescentam aos sentimento de desresponsabilização que grassa pelo país, ao pedirem que o aborto seja simultãneamente crime, mas que não seja julgado (como se fosse possível, para usar um ditado inglês, ter o bolo e comê-lo).
Outros, supostamente um pouco mais sofisticados, que alegam nada ter contra o aborto, afirmam recearem que as mulheres o passem a utilizar como meio contraceptivo "habitual" e, só por isso, se opõem à sua despenalização. Um argumento quiça utilizado por alguém que nem é mulher, nem sabe muito bem como se fazem abortos, nem as "marcas" que deixam...
Depois, há, ainda aqueles, quase todos juristas, que alegam que a actual lei já é suficiente e que bastava a sua aplicação. Ou seja, querem convencer-nos de que a escolha de uma mulher nesta matéria deve deixar-se nas mãos de um conselho de médicos, os quais como benignos e iluminados ditadores (na maioria dos casos nada preconceituosos) sancionaram, está-se mesmo a ver, a decisão da mulher que optar por abortar.
Quanto mais penso sobre estes argumentos e sobre as pessoas por trás deles, mais me vem à cabeça uma atmosfera digna de uma Alice no País das Maravilhas ("Corta a cabeça! Corta a cabeça!") em que a pobre Alice descobre um universo em que pouco faz sentido, a não ser as piores características humanas que nos aparecem como que sob o olhar de uma lupa: "inchadas" para além de tudo o que seria razoável.
De Bag
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