quarta-feira, janeiro 17, 2007

Felicidade e Preconceito

Há muito que se discutem as novas formas de família e as múltiplas resistências da Lei e do establishment em acompanharem a evolução da sociedade. O que tem estado em causa é a defesa de um conceito de família que pouco mudou ao longo dos últimos dois mil anos. Continua-se a privilegiar o sangue sobre os afectos, a predeterminação sobre a liberdade, a forma sobre o conteúdo. Só assim se explicam as restrições que persistem à livre disposição do património, caso hajam cônjuges e descendentes e, ou ascendentes vivos, ou que no regime da adopção se sobreponha, por vezes de forma tão gritante, o interesse da família, ou o preconceito, àquilo que é o “melhor para a criança” – que deveria ser o único critério utilizado por qualquer magistrado para decidir.

A raiz do problema está no facto de sermos herdeiros, por um lado, de um conjunto de valores “judaico - cristãos” e, por outro, de uma visão da sociedade evolucionista (mais ou menos iniciada pelo Renascimento e pela Revolução Francesa), a qual é, pela sua natureza, antagónica em relação à “verdade” moral propugnada por qualquer religião.

Esta reflexão ocorre-me por ocasião do “caso” da pequena Esmeralda (um tribunal decretou, segundo a Lei vigente, que uma menor que só tinha conhecido os seus pais adoptivos, fosse entregue ao sue pai biológico, um indivíduo que só terá demonstrado interesse em ser pai após um teste de paternidade – ao qual foi forçado pelo próprio Tribunal). É que não podemos “have our cake and eat it”. Ou seja, não podemos num dia acordar e opormo-nos à Igualdade de Direitos para os Homossexuais porque tal iria pôr em causa a sociedade e, no dia seguinte, chocados com a injustiça daquilo que o tribunal decidiu para a Esmeralda, defender que se ponha em causa um princípio tão caro ao nosso sistema como o da primazia quase “no matter what” dos pais biológicos em relação às suas proles.

É natural que a maioria dos nossos raciocínios seja afectada por preconceitos. Já é menos aceitável que quem ocupe lugares de responsabilidade, de cujas decisões e trabalho dependam as vidas de outros, se deixe guiar mais pelos seus preconceitos e fantasmas do que pela Razão. Ou não seria a Esmeralda e tantas outras pessoas, afectadas negativamente nas suas vidas pelo preconceito, mais felizes se o nosso sistema fosse um pouco mais racional?

De Bag


referer referrer referers referrers http_referer Who links to me? More blogs about http://paraladebagdade.blogspot.com.
Visited Countries
My Visited Countries

Get your own Visited Countries Map from Travel Blog