Quem somos? (III)
Do outro lado do Atlântico esta discussão tem se mantido acesa nos últimos tempos também graças ao "The Hispanic Challenge" de Samuel Huntington. Nesse trabalho Huntington considera que o fluxo constante de imigração hispânica para os EUA põe em risco a identidade nacional de natureza anglo-protestante dos Estados Unidos. E recorda que no passado outras vagas imigratórias foram zelosamente absorvidas por sessões propagandísticas de americanização (o autor menciona mesmo alguns exemplos de sessões levadas a cabo por Henry Ford e outros, em que os seus trabalhadores Italianos, Alemães, Greg0s e de outras nacionalidades faziam pageants vestidos como Americanos) e, também, por ser mais dificil a manutenção da ligação ao país de origem, algo bastante facilitado, hoje em dia, pelos avanços tecnológicos (baixo custo das telecomunicações e internet).
Huntington alega que ao escrever sobre este tema como scholar sente, frequentemente, conflitos relativamente ao seu lado patriota. Enquanto académico a sua busca da verdade leva-o a especular sobre diferenças raciais e sentimentos patriotas, relacionados com a performance económica, o que, por sua vez, pode alienar alguns grupos de leitores, nomeadamente os Americanos de origem Africana.
Neste trabalho nota-se, ainda, um certo receio, temperado por algum sentimento de culpa, quanto aos Estados Americanos que até a meio do Século XIX pertenciam ao México. O autor aponta o perigo de secessão nos EUA, a primeira vez desde a tentativa de separação dos Sulistas esclavagistas, uma vez que a grande parte da comunidade hispânica se concentra em regiões como o Texas, ou o Novo México e Califórnia. Mas esta observação talvez provenha de alguma má consciência Americana devido a uma expansão nunca muito bem justificada e à custa dos seus vizinhos a Sul.
Quanto a esta questão do quem somos aplicada aos EUA, continuo a inclinar-me mais para as observações de Todd, no seu livro Após o Império, em que o autor analiza aquilo que considera a queda do Império Americano (a outra previsão feita pelo autor foi, nos anos 80, a queda do Regime Soviético). E aí Todd fala, sem rodeios, do racismo prevalente na sociedade americana, da sua enorme dificuldade em aceitar, assimilar e integrar outros, especialmente quando esses são muito diferentes. Ou seja, não foi dificil integrar os imigrantes Alemães, ou Escandinavos, que foram os primeiros a chegar, mas tem-se revelado impossível a integração dos de origem Africana que chegaram logo a seguir. Foi dificil a integração dos imigrantes Irlandeses e Italianos, mas apesar de tudo, aos olhos dos Wasps, eles ainda eram brancos e provemientes de nações de uma matriz semelhante à deles. Agora com os Hispânicos, a aventura está a começar.
Contrariamente a Huntington considero que a força da América está na sua liberdade e no espaço que dá ao individuo para se realizar, com poucas, ou nenhumas interferências estatais. Tal permite a libertação de uma força criativa que se renova a cada geração e a cada nova vaga migratória. Tem sido assim até agora. Acredito que continuará a sê-lo. Até porque é precisamente essa a visão que também atrai os emigrantes Hispânicos: uma sociedade livre.
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