Copiado do Portugal dos Pequeninos: a melhor análise sobre o congresso PPD de Barcelos
CONFIA, A SÉRIO?
Há sensivelmente seis meses, em um outro Barcelos, Durão Barroso - lembram-se? - pedia aos congressistas do PSD que "confiassem nele". Confiem em mim, confiem em mim, repetiu o então líder diante das hostes. Nesse mesmo conclave, Morais Sarmento desvalorizou a hipótese do partido ir coligado com o PP nas eleições legislativas de 2006. Ontem confessou-se "espantado" com Marques Mendes por ele ter dito o que os militantes do partido pensam sobre a matéria e quase lhe batia. Mas voltemos ao "confiem em mim". Na madrugada de sábado para domingo, Santana Lopes, que levou umas horas a digerir Marques Mendes, decidiu falar. Despiu o fato de primeiro-ministro que Sampaio talhou especialmente para ele e no qual não se sente à vontade, e apresentou-se aos indigentes militantes como o velho entertainer dos congressos do PPD/PSD. Retive duas coisas. A primeira, que ele aspira governar até 2010. E a segunda, um meio para atingir aquele sublime objectivo, o pedido para que "confiassem nele". A experiência, mesmo a de devotos acéfalos e oportunistas dispostos a seguir qualquer chefe, aconselha a desconfiar desta "confiança". O último a pedi-la, Barroso, "pisgou-se" para Bruxelas umas semanas depois de a ter pedido. Lopes, apesar do lacrimejante "amor" ao partido e a Portugal, pode perfeitamente reduzir 2010 para 10 meses ou 10 semanas, sem pestanejar. Ficou-se também a saber que Santana fará tudo para que Cavaco Silva não seja candidato a Belém. A encenação de Barcelos, a que não faltou um filme evocativo da vida do novo "grande líder", para além do "ar Coreia do Norte", tem um propósito. "Confiem em mim", na linguagem "santanética", quer dizer "preparem-se que em qualquer altura eu posso ser qualquer coisa e ir para qualquer lugar". O PPD/PSD, comovido, agradecido e sobretudo obrigado, ungiu este one man show sem uma inquietação ou um murmúrio. Não sobrou igualmente uma ideia deste congresso vocacionado para a exclusiva exploração do fenómeno do "eu" e da superficialidade. Tudo somado, há razões de sobra para continuar a temer o resultado prático desta grotesca manifestação que se traduz quotidianamente num "governo". Este "governo" assenta agora numa coligação que começou a desfazer-se este fim de semana. Portas e Santana estão literalmente "a mais" um para o outro. O poder, a única coisa que os une, é o perfume simultaneamente mais fraco e mais forte deste conúbio com morte anunciada. Para já, Santana Lopes consagrou-se o "homem do leme". A questão está em saber se você confia nele. Confia, a sério?
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