segunda-feira, junho 27, 2005

Da Liberdade

O fim de semana que acaba de passar foi o momento escolhido em todo o mundo e, também, em Portugal para celebrar o "Pride", evento que, para quem não o sabe, comemora o que se passou num bar Nova Iorquino, quando um grupo de Travestis se uniu e revoltou contra uma acção policial violenta, obrigando, pela primeira vez, as forças policiais a reconhecerem comportamentos homofobos violadores dos mais básicos conceitos de Liberdade.

Ao longo das décadas o Pride foi sendo adaptado aos locais em que ocorria, actualizando as mensagens políticas respectivas. À semelhança de outras efemérides assinaladas, como o final de Grandes Guerras, a Libertação dos internados nos campos de concentração, a abolição da escravatura, ou a concessão de direitos políticos iguais às Mulheres, o Pride deveria ser tratado com mais "respeitinho", especialmente por pessoas supostamente inteligentes.

Esta semana li algumas crónicas como a de Pereira Coutinho no Expresso, em que o autor se sente à vontade para brincar com o conceito de adjectivo e substantivo, sem explicar como é que resolve a situação de negação absoluta de direitos à população homossexual nacional (presumimos nós que não resolveria...). Mas é claro que o pior que pode acontecer a Pereira Coutinho, tirando o ser "arrastado" em Carcavelos (que, também, presumo ele não frequente) é ser assediado por uma prostituta na Fnac. Ele não sabe, nem tem de saber o que é a perseguição pela diferença, nem sabe, mas devia saber o que é a negação de direitos, que continua a ser a realidade entre nós, aos casais do mesmo sexo (desde a assistência em doença, à herança, etc). Também não compreendo como se pode confundir uma legítima aspiração a esses mesmos direitos com questões estéticas, ou modelares. Ou seja, não compreendo aqueles que tentam desmontar a questão reivindicativa de direitos iguais, dizendo, por exemplo, que os homossexuais estão a «"copiar" o que existe de mais piroso no "outro lado" - o ritual do casamento e o espalhafato da "cerimónia"», porque o que está aqui em causa nem são os gostos pessoais de cada um, nem a valoração desses mesmos gostos, mas tão só direitos, os quais cada um deve poder exercer como melhor lhe aprouver.

A marcha, ou Pride servem para chamar a atenção dos políticos que parecem persistir numa patológica distracção para este problema. O facto de alguns participantes escolherem fazê-lo vestidos exuberantemente não deve diminuir o valor do evento. Da mesma forma que não diminui o valor de uma ópera a ausência de gravata no espectador. Antes reflecte as diferenças das pessoas e as suas distintas formas de estar, ou algum cosmopolitanismo, o mesmo que Clara Ferreira Alves, na sua última crónica na Revista do Expresso, considerava ser um conceito ainda incompreendido entre nós.

Por último, nota positiva este ano para a organização que conseguiu que o Pride fosse mais mediatizado: medida actual do sucesso, ou insucesso de todas as coisas...


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