A Oeste de Praga, na cauda da Europa
Chamar debate ao que se passou ontem entre Alegre e Cavaco é a mesma coisa que chamar democrata ao Mugabe. O que se passou ontem foi, se calhar até por culpa das respectivas candidaturas, uma acumulação de salamaleques, piropos e discursos vazios de ideias com que os dois candidatos se brindaram mutuamente, bem como aos dois jornalistas que pretensamente ali estavam para conduzir os trabalhos. Um untado como salvador da pátria, o que o naturalmente obriga a guardar-se como se fosse o terceiro segredo de Fátima, ou a própria Irmã Lúcia, sendo que qualquer brecha no segredo resulta na mesma desilusão para o seu eleitorado que a inexistência do Pai Natal para uma criança; o outro convertido em bardo do país, com rima riscada na palavra pátria, pátria, pátria...
Alegre e Cavaco pareciam duas damas antigas num salão de baile de aldeia receosos de serem apelidados de uma qualquer “sem vergonhice”. Um não queria dar um passo de dança, sem que o outro também o desse, um não queria mostrar a perna, sem que o outro mostrasse um pouco de coxa e até pareciam estar os dois combinados, talvez numa qualquer ida à casa de banho.
Naturalmente só em Portugal é que se pode colocar no mesmo plano a ausência de substância e o respeitinho pelos outros, a cobardia política e o sentido de modéstia, ou a recusa absoluta da frontalidade ou do esclarecimento com um “somewhat displaced sense” de dignidade institucional. Como Vasco Pulido Valente hoje escreve no Público “a ocidente de Praga” não lhe cheira que algum deles pudesse alguma vez ser eleito.
De Bag
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