Conversas em familia
Na véspera da revelação de mais um relatório da ONU dizendo que somos o segundo país europeu em matéria de pobres, o Ministro das Finanças apresentou-se aos Portugueses num registo proto salazarista. Digo proto porque ele se atrapalhou um pouco com os papéis que levava, uma coisa que o Salazar não toleraria, dando de si uma imagem trapalhona, nada consentânea com o cargo que ocupa. Proto, ainda, porque não disse nada, falando muito. Não se percebeu, sequer, onde estava a novidade que justificava aquela pompa toda de uma mensagem ao país.
Afinal nem os números divulgados eram novos, nem houve uma única medida inovatória falada, isto para além daquelas medidas desbragadas como a correcção do regime benefícios fiscais, que já percebemos irá tentar beneficiar, ainda mais, as familias, ou a nebulosa da duplicação de institutos estatais a fazerem exactamente a mesma coisa, algo de que já se fala há anos, sem que um único desses institutos feche e nos poupe uns euros. A única novidade, de que já suspeitavamos aliás, é a de que passados dois anos de governo PPD/PP estamos, em matéria de défice, exactamente iguais ao último ano do governo Guterres. Digo em matéria de défice, porque quanto ao rendimento disponível, emprego, solidariedade e coesão com a Europa estamos seguramente pior.
Parece, pois, que o Bagão aprendeu bem com o mestre Lopes, regente geral desta orquestra.
Este discurso teve contudo uma virtude. Mostrou para álém de qualquer dúvida de que existem profundas diferenças entre esta direita e a esquerda em Portugal. Uma acredita no mantra de menos estado, melhor estado, na sobreposição do princípio do utilizador-pagador ao da solidariedade, na privatização até de sectores estratégicos que deveriam permanecer na esfera pública e na imposição de valores ideológicos arcaicos ao estado, nem que para tal tenham de utilizar meios desproporcionados, normalmente reservados para teatros de guerra.
Ah! Teve ainda outra virtude, a de vermos o Bagão com uma gravata cor de rosa...
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