O Fim da Aventura, Vasco Pulido Valente, in Público de hoje
Vale a pena ler quase tudo o que ele escreve. Penso que no futuro alguém editará as suas crónicas, da mesma forma que editaram as Farpas de Eça e Ramalho.
"Em Barcelos, Santana insistiu muito na ideia e "combate" e de "combatentes". Provavelmente imagina a sua "vanguarda" esmagando um diabólico inimigo. Fora a desagradável origem desta fantasia (o nazismo, para falar francamente), existe ainda um pequeno pormenor: quem é esse inimigo que Santana se propõe tão ardorosamente bater. Um PS pacato e "guterrista"? O minúsculo BE? Um PC defunto? Ou o Estado previdência e as leis laborais? Ninguém sabe. Suspeito que nem ele. A direita de Santana e Portas precisa de uma certa histeria para ganhar e crescer. Ora Portugal não está dividido ou radicalizado. Espera pacatamente o dia de correr com a coligação. Uma grande campanha contra a esquerda ou qualquer outro bode expiatório, conduzido por dois demagogos sem crédito ou cabeça, não irá longe. Portugal não é a Inglaterra de Thatcher ou a América de Reagan e de Bush; e esta direita, que chegou ao poder por uma série de acidentes, não assenta numa doutrina, numa cultura, num programa, num descontentamento. Vive no ar. A querela das listas mostra bem que já só se trata de salvar alguma coisa do desastre. O PSD quer salvar uma hipótese de futuro para além de Santana e o PP quer simplesmente salvar a vida. De qualquer maneira, a aventura acabou. Falta a fase do "bunker: uns meses de governo impotente e cercado, de retórica e delírio."
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