Lanche na Garrett
Comemorou-se, há pouco tempo, uma efeméride relacionada com Almeida Garrett (cuidado ao lerem o seu último apelido, é que ele, aparentemente, "afinava" com quem perante um nome com dois ts, nem lhe pronunciava um). E a propósito dessa mesma efeméride, lembrei-me da última vez que voltei à Garrett do Estoril, o meu café de lanches e encontros, especialmente durante os tempos de universitário.
A Garrett é talvez o último dos "grandes" cafés do antigo Estoril e como tal, ainda que recentemente redecorada e reactualizada, poiso para alguma fauna muito especial.
Como já lá não ia há alguns meses, não deixei de ficar surpreendido com as pessoas, ou estereotipos que apesar de ter conhecido toda a vida, não deixam de me surpreender. Desde a possidoneira do um beijinho, à conversa sobre os costados, desde os cabelos cuidadosamente escovados com gel, a roçar o blazer monogramado de sábado à tarde, ao olhar blasé de quem finge não reconhecer quem se conhece.
Entre as "familias" que estavam sentadas ao meu redor, encontravam-se as de, pelo menos, dois ministros, que por acaso por essa altura tinham acabado de saber que iam deixar de o ser. Nos seus gestos, olhares e deporte nada os traía. Afinal não são eles filhos, netos, ou sobrinhos dos senhores que nos governavam antes? Afinal não estarão eles tranquilos relativamente à certeza que têm que o tempo deles, num país que se recusa a avançar, voltará, senão nas suas vidas, pelo menos na dos seus rebentos?
Espalhados nas mesas, o material de leitura que estas "familias", representantes da nossa classe dirigente e, em parte pelo menos, da nossa elite, folheavam distraídas entre um cumprimento a um primo e uma dentada num brioche: a revista Caras e o jornal 24 Horas.
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