Carta de Bruxelas
Um dos aspectos que se tornou mais interessante nas minhas frequentes deslocações a Bruxelas foi o da viagem em si. É que com a, cada vez maior, comunidade nacional lá radicada de políticos, assessores e outros tecnocratas não é invulgar dar de caras com o Pedro R0seta a passarinhar como uma marioneta desengonçada em direcção à capela, ou como lá se diz em "politicamente correcto" espaço de culto, do aeroporto de Bruxelas. Ou, então Deus Pinheiro, acompanhado da sua fiel assessora numa segunda bem cedo pequenino e, ainda mais, pequenino no meio de todos os passageiros que querem entrar depressa para o avião. E ele sem nunca perder a postura e, como diria Queiroz, o " chic".
Depois, também houve a vez em que viajei quase ao lado da mulher de Barroso, a qual me pareceu genuinamente cansada, mesmo "estoirada", não pude deixar de reparar que carregava vários presentes, pequenas peças de prata do Leitão, pelo menos a ourivesaria nacional está a ser promovida por terras brabantes.
Mas até agora a cereja no topo do bolo tem de ser a viagem que fiz ao lado de Miguel Portas. Fiquei intrigado ao vê-lo. É que carregava num bolso, já deformado, do seu, convenientemente verde, blazer de veludo um grande calhamaço de um qualquer intelectual francês. Livro esse obviamente muito manuseado, de tal forma manuseado que a lombada estava totalmente vincada e os cantos a enrolarem. Pensei logo eu com os meus botões, que não ficava atrás, e levantei ainda mais a capa do segundo volume da trilogia de Lourenço "Curso das Estrelas" para também ele poder reparar que não era só ele a ler coisas interessantes. Qual não foi o meu espanto pois, quando o vejo a enfiar o seu livro mais o blazer no cacifo por cima da sua cadeira e retirar repimpado, para repimpadamente passar a viagem toda a ler o Timtim em francês. Pensei logo eu com este bloco, para além de ser tudo fogo de vista, para americano ver, a literatura, nem a de bolso.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home