sexta-feira, fevereiro 04, 2005

O debate

Começando pelo fim, acho que Sócrates ganhou o debate. Mas não o ganhou por KO e até evidenciou algumas fragilidades que me surpreenderam, as quais terão tido a ver, em parte, com o formato negociado para o debate.

Assim, se é certo que Sócrates demonstrou assertividade, preparação e, acima de tudo, credibilidade, não é menos certo que não conseguiu prender suficientemente Lopes ao fracasso das políticas do Governo e, em especial, das trapalhadas dos últimos 4 meses. Acabando Lopes por conseguir transformar o debate numa apresentação das suas propostas para os próximos anos, em vez de uma explicação dos últimos 4 meses.

Se, por um lado, compreendo a importância de o PS apresentar propostas concretas para o futuro, muito embora os debates não sejam os locais mais adequados á "explicação" de matérias complexas de engenharia financeira que a maioria dos portugueses não entende; por outro, não revelou acumen o facto de Sócrates não ter insistido em relembrar os portugueses a forma como os professores não foram colocados este ano, ou a maneira como a descentralização de ministérios se transformou em deslocalização de algumas secretarias de estado e os custos que isso acarretou, ou, ainda, a forma como eram prometidas medidas e o facilitismo e pouco estudo por detrás da grande maioria delas (nomeadamente a proposta da criação de um cartão de utente do serviço nacional de saúde, para conter informação quanto ao pagamento das taxas moderadoras diferenciadas, ou, ainda, o passe social tão mais caro quanto o rendimento declarado no IRS).

Para a história da noite ficam ainda as propostas muito "fashion" de Lopes sobre a colocação de idosos pobres a fazer formação profissional, ou, ainda, a formação de jovens para o artesanato, demonstrando uma crescente dissociação da realidade.

Por último, um comentário ao começo do debate e à questão dos boatos e dos casamentos homossexuais. Aqui Sócrates esteve bem ao encostar Lopes às cordas quanto à forma como ele tem conduzido a campanha, a falta de nível da mesma e, ainda, sobre o facto de Lopes estar a querer trazer assuntos que, nem estão na ordem do dia, nem tiveram o debate necessário e maturação adequadas na sociedade portuguesa.

Por outro lado, no entanto, Sócrates perdeu a oportunidade para reafirmar a fidelidade do PS aos princípios da Liberdade e do respeito e protecção da diversidade, princípios aliás que constam da Constituição Europeia e que um número crescente de países europeus acolhem. Tendo sido a primeira vez que o assunto dos direitos lgbt foi debatido em campanha eleitoral pelos dois principais partidos, Sócrates perdeu uma oportunidade de entrar para a história, mas talvez tenha ganho São Bento.


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