sexta-feira, outubro 01, 2004

Zapatero no seu melhor

Algumas perguntas da entrevista com José Luís Rodrigues Zapatero, que sai na edição de hoje do Púlico, link acima e que me parecem demonstrar um homem com capacidade de visão, muito além dos horizontes de curto e médio prazo, a que nos habituaram alguns dos nossos políticos. Zapatero é capaz de defender princípios mais elevados de política externa, sem se tornar num antiamericano primário, é capaz de falar do papel do sonho na vida política de forma pragmática e é capaz de levar a cabo rupturas em nome de valores como a Igualdade, ou a Liberdade, sem ser extremista.

Talvez Sócrates encontre algum tempo, nos próximos dias para ler esta entrevista e mergulhar de cabeça no que significa pertencer a uma Esquerda Moderna...

P. - Ainda sobre a recente cimeira tripartida em Madrid. Escreveu-se que quis com ela substituir a imagem da célebre cimeira dos Açores. Crê que, nesta Europa a 25, o eixo franco-alemão continua a ter condições para liderar a UE?
R. - A Espanha tem uma posição muito europeísta e queremos ter uma perspectiva de politica internacional no quadro da UE. Sobre o encontro com a França e a Alemanha,. o que quis dizer é que ele representou uma afirmação da vitalidade e da juventude da "velha Europa". Mas como Presidente do Governo, o meu objectivo é ter boas relações com todos e fazer da Europa um eixo contínuo. O que creio firmemente é que a Europa tem de ter uma voz única e forte no mundo. Isto é o mais importante. Tudo o que seja fortalecer a Política Externa e de Segurança Comum (PESC), uma politica de defesa comum europeia, uma política comum de cooperação, é enormemente importante para a Europa e para o mundo. O meu compromisso com os cidadãos foi que a Espanha estivesse na fotografia da Aliança Contra a Fome e a Pobreza. Estivemos, com a França, com o Chile, com [o Presidente brasileiro] Lula e com o [secretário-geral da ONU] Kofi Annan. E cumpri. Foi esta a foto que eu prometi na campanha eleitoral em alternativa à dos Açores. Tirar a Espanha da foto dos Açores e colocá-la na foto da cimeira da luta contra a fome. O primeiro-ministro Santana também lá esteve.
P. - O seu antecessor Aznar queria fazer da Espanha uma potência de peso mundial, como a França ou a Alemanha. Queria, por exemplo, fazer entrar a Espanha no G-8. Para si isso não é importante?
R. - O que quero é que o meu país seja conhecido no mundo como um país que luta pela paz, um país solidário que contribui para o desenvolvimento dos países mais pobres. P. - Propôs na ONU uma Aliança entre as civilizações ocidental e islâmica. Não era melhor que a Europa se preocupasse mais com a democracia e os direitos humanos nessa parte do mundo, em vez de propor alianças que se arriscam a perpetuar os déspotas?
R. - A ideia é tentar evitar que se erga outro muro. E, no actual contexto histórico, é bastante evidente que o mundo árabe e islâmico e o mundo ocidental têm diferenças que se agravam em consequência do conflito no Médio Oriente e da guerra do Iraque. Creio que é imprescindível reagir a tempo, fazendo com que os povos se conheçam, que as culturas se respeitam, que o diálogo de religiões e de tradições se desenvolva, porque é isso que facilita o desenvolvimento e a modernização necessária à sua transição para regimes políticos de natureza democrático. Que tem de ter o seu ritmo. É preciso entender que os condicionamentos culturais e históricos não permitem implantar de maneira automática os modos de funcionamento das nossas democracias.
P. - Declarou-se um feminista. Porquê?
R. - Sem qualquer dúvida. Creio que o termómetro mais importante para avaliar os avanços de uma sociedade, o avanço da sua cultura, é o lugar ocupado pelas mulheres. Quanto mais mulheres a trabalhar, quanto mais mulheres mandando na política, mandando nas empresas, mais avançado é um país.
P. - Porque é que resolveu abrir uma guerra com a Igreja - que, como em Portugal, tem muito poder - por causa dos casamentos gay?
R. - Na Espanha, as sondagens dizem que mais de 60 por cento das pessoas apoia o matrimónio de pessoas do mesmo sexo. A Igreja não está de acordo, o que é normal. Tenho um grande respeito pela Igreja Católica e pelas outras confissões religiosas, mas tenho a certeza absoluta de que uma sociedade é sobretudo um colectivo civil feito de valores públicos, onde as crenças religiosas não podem impor-se. Democracia acima da verdade. São quatro palavras da [filósofa espanhola] Maria Zembrano que gosto muito de citar. A sociedade espanhola votou um programa eleitoral que incorpora uma reforma da lei do divórcio, o casamento de homossexuais e uma reforma do ensino da religião. As pessoas votaram. O problema da Igreja Católica ou de alguns dos seus bispos não é com o Governo, é com a maioria da sociedade. Estou convencido que esta lei vai obter no Parlamento mais de 60 por cento dos votos dos deputados.
P. - Disse à revista americana "Time" que não queria ficar conhecido como um grande líder. Quer ficar conhecido como?
R. - Como um grande democrata. Preocupam-me muito os líderes políticos que acabam a ler biografias de grandes líderes políticos.


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