Mário Pinto no Público de hoje sobre Buttiglioni
"Sucede que partilho as convicções católicas de Rocco Buttiglione, e gostaria de saber se isso é um impedimento para o exercício de funções políticas governativas (em certas áreas... só por enquanto). Não que seja candidato, mas só para saber qual é o meu estatuto cívico. Isto é: a democracia do século XXI não excluiria ninguém, por delito de opinião, do exercício dos seus direitos políticos, excepto os católicos coerentes. Coerentes são os que livremente estão em união (de inteligência e de vontade) com a doutrina e a autoridade da Igreja - porque há muitos, e até padres, que fazem uma administração autónoma da doutrina e se importam pouco com os mistérios (isto... digo eu).
Os defensores do casamento homossexual em igualdade com o casamento heterossexual têm podido manifestar-se e reclamar a não discriminação pelas suas "orientações sexuais". Pelos vistos, os católicos têm de preparar-se para também fazerem manifestações reclamando a não discriminação pelas suas "orientações religiosas". É que este episódio não é insignificante nem isolado. Em lugares diversos desta Europa dos direitos humanos, e em nome dos ditos direitos humanos (e talvez em resultado da novíssima revolução francesa que foi a lei escolar contra os símbolos religiosos), estão a multiplicar-se casos de repressão e condenação de crentes: porque ostentam sinais religiosos por vestirem uma batina (caso de um padre em Toulon); porque se manifestam contra os casamentos de homossexuais (pastor protestante na Suécia); porque usam véus religiosos equiparados aos véus muçulmanos (freiras no Baden-Wurtenberg); vários alunos islâmicos e sikhs, em França; etc. Os católicos que se cuidem. É prudente revisitar as catacumbas. "
Depois de ler esta crónica de Mário Pinto acabo a acreditar ainda mais convictamente que Buttiglioni não deve ser Comissário para Assuntos Internos e Cooperação em Justiça. Há fés que por serem fés nos impedem de desempenhar com isenção certas profissões. Mário Pinto podia, mas não o fez, defender que seria totalmente normal advogar a nomeação de um Mulçumano purista, que defendesse os valores do Corão (entre os quais que o adultério é crime, sempre dizendo no entanto que não iria criminalizar a prática do mesmo) para o cargo de Buttiglioni. Mas creio que nesse caso Pinto não o defenderia tão acaloradamente. Porque o que se passa com Mário Pinto passa-se crescentemente com um série de outras pessoas, especialmente, Católicas, a constatação de que os sistemas de valores defendidos pelas suas fés não são compatíveis com o conjunto de valores que as sociedades modernas evoluíram para entender como fundamentais. E é exactamente nesse sentido que a profissão de determinada fé, aliada a uma defesa intransigente dos princípios que essa mesma fé entende como cruciais, deve ser uma causa de exclusão do exercício de certos cargos. Da mesma forma que de há anos a esta parte a defesa de valores racistas, ou de certas ideologias passou a ser uma causa de exclusão, basta recordar a Lei sobre os agrupamentos políticos de natureza fascista expressamente proibidos...
1 Comments:
O Economist esta semana acrescenta alguns dados interessantes: 1º este senhor está a ser investigado numa série de acções por corrupção em Itália; 2º tem participado activamente nas decisões de Berlusconi de limitação do poder judicial, especialmente para julgar o próprio Berlsuconi; 3º ele é o primeiro a misturar as suas convicções religiosas e políticas, uma vez que quando foi Ministro para a Europa a partir de 2001, chocou os seus colegas ao propôr, entre outras coisas uma proibição de inseminação artificial, financiamento público para escolas privadas (presume-se que católicas) e pagamentos a mulheres que se recusassem a fazer abortos.
Ele tem, pois, ao longo da sua vida tentado sempre tarzer valores religiosos de volta à vida política.
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