Sócrates, ou o triunfo da Esquerda Alheira
1. José Sócrates é o novo líder eleito do PS. E foi eleito com quase 80% dos votos dos militantes, após uma campanha viva, em que se debateu com Manuel Alegre e com João Soares. O triunfo de Sócrates significou o triunfo inegável de uma certa facção do PS a qual está mais próxima da herança de Guterres e do chamado centrão do país. Isto não obstante persistirem figuras nos círculos próximos de Sócrates, tais como António Costa, que tem mais a ver com a tradição Soarista do partido e com valores mais à esquerda.
2. O triunfo de Sócrates significou ainda que mesmo no partido da esquerda nacional por excelência só aqueles que aparecem com mensagens políticamente fáceis (não retirada do Iraque; novo referendo sobre o aborto; ou as posições assumidas quanto aos direitos homossexuais) têm hipóteses de ganhar. Se isto é verdade dos militantes do PS, imagine-se como será o restante eleitorado do país.
3. O triunfo de Sócrates significou, por último, uma outra coisa que a esquerda se abriu definitivamente à nova forma de fazer política, em que o mensageiro é mais relevante do que a mensagem, em que o embrulho é mais importante que o presente. Interessante que Sócrates tenha sentido necessidade de ler um ponto para proferir o seu, por acaso bom, discurso inaugural. Igualmente interessante a escolha de música de um filme oscarizado Americano, O Gladiador, para reforçar a sua combatividade. Combatividade essa limitada, claro está, àquilo que é fácil e que não suscita questões de maior.
4.Irónicamente, apesar de todas estas limitações, Sócrates é a melhor solução, de entre as três que se perfilavam no PS, para derrotar o Governo e para liderar a oposição. E se pensarmos em termos de prioridades, o derrube deste governo tem de ser a primeira prioridade, pelo que o apoio a Sócrates nesse fim é importante.
5. Poderá não ser contudo quem certo tipo de eleitores, mais urbanos, mais instruidos, mais informados gostaria de ver como próximo primeiro ministro, ou até como líder da oposição, mas, a maior parte das vezes, a política é feita de possíveis e de males menores. E este é certamente um desses casos.
6. Sócrates é, pois, o melhor representante daquela esquerda que ao dizer-se moderna faz um pouco aquilo que o mito diz que os cristãos novos faziam no Portugal de seiscentos, cozinha uma alheira, que só aparentemente está recheada de porco, para que ninguém o incomode. Assim é a esquerda de Sócrates, a esquerda-alheira.
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