Tenho uma vaga ideia dos meus anos de Direito que uma das causas para a anulação de negócios jurídicos, vulgarmente designados como contractos, era a "reserva mental", ou seja quando A, ao contractar com B afirmava algo completamente diferente daquilo que iria fazer, ou querer.
Nestes dias não me ocorre figura jurídica que assente melhor ao candidato Cavaco, que apesar de ter oficialmente começado a falar continua a dizer pouco, especialmente quando as questões são controversas. Veja-se o caso da capa do último Expresso, em que o mesmo candidato é o único a evitar pronunciar-se em relação aos casamentos homossexuais. Toda a gente sabe que face ao perfil Católico dele a resposta mais sincera e honesta seria dizer que é contra, mas Cavaco nem isso consegue sussurrar.
Aqueles que respondem a esta critíca alegando que o candidato não quer perder nem um voto, esquecem que no passado este tipo de questões sempre surgiu. E que os candidatos, também à Presidência da Républica, nunca se furtaram a responder a elas. Basta recordar, também no Expresso, uma entrevista a Soares e Freitas em que a ambos era solicitada uma opinião sobre o assunto. Nem Freitas, do alto da sua pusilânidade, se recusou a dizer que não considerava a homossexualidade no mesmo plano que a heterossexualidade.
Hoje, no Público, reparamos que este medo de Cavaco de desagradar, que o leva a, por vezes, fazer declarações "falsas" se estende à PT. É o único candidato que não se pronuncia em relação à utilização da música do hino nacional por aquela empresa de telecomunicações.
E é também por este tipo de comportamento que transmite uma ideia de constante "contenção" do candidato (ele não diria melhor) que um número crescente de portugueses se interrogam sobre o que verdadeiramente Cavaco pensará sobre uma série de temas, uma vez que nas suas declarações aquilo que perpassa é a utilização intensiva da "reserva mental".
Resta saber se este comportamento não levará alguns dos seus eleitores a quererem, após as eleições e depois do verdadeiro Cavaco se revelar , anular os seus negócios com o candidato.
De Bag