Para lá de Bagdade
«Unless I write something, anything, good, indifferent or trashy, every day, I feel ill.» W. H. AUDEN & «Thanking the public, I must decline/ A peep through my window, if folk prefer/ But, please, you, no foot over threshold of mine» House, Robert Browning, 1874
segunda-feira, agosto 28, 2006
sexta-feira, agosto 25, 2006
Será que só pode haver sobremesa com sopa?
Incomodam-se algumas almas mais à direita com o anúncio ministerial da criação de salas de chuto entre nós. sempre que alguma "autoridade" fala por cá numa qualquer das chamadas "questões fracturantes" os argumentos que, com mais frequência, temos ouvido por aí proferirem têm que ver com o facto de haver com certeza outros problemas mais importantes a resolver. É como se nos dissessem que é preciso dar mais benefícios às chamadas familias tradicionais antes de legalizarem os casamentos homossexuais, ou conferirem mais privilégios à procriação e à multiplicação das criancinhas, antes de despenalizarem o aborto. Também em relação às salas de chuto, nos vêm agora dizer que com tudo o que há por fazer na saúde, que este era um não problema. Afinal de contas todos acham que os cerca de 40 Mil toxicodependentes portugueses e os seus "problemas", nomeadamente os causados pela falta de higiene com que se drogam, são só desses 40 Mil e , quanto muito, dos seus papás e mamãs. Esquecem-se que na vida real a sociedade tem poucas divisórias e que os universos, aparentemente mais distantes, por vezes se tocam. E que as salas de chuto podem contribuir para que os encontros esses universos diferentes corram melhor.
Por último continuo a não compreender os argumentos mais direitistas e menos liberais relativamente a estas questões fracturantes são, pelo menos, tão primários como aquela tentativa paternalista de comdicionar a sobremesa à aceitação da sopa. Nem nós temos 6 anos, nem o governo é nosso pai.
De Bag
quinta-feira, agosto 24, 2006
esperança e desesperança
Os ventos que sopraram, ainda que só momentaneamente, do Sado eram de feição. Afinal parecia que, se calhar pela primeira vez, um político eleito se preparava para se demitir face à conclusões graves de um relatório de um Instituto Público (neste caso o IGAT). Mas esses ventos que vinham de Setúbal foram de pouca dura. O autarca eleito pela CDU demitiu-se, não por assumir responsabilidades face aos seus eleitores, mas porque o Partido assim o ordenou.
Foi bom percebermos o que, para este Senhor (ex) autarca, é realmente importante.
De Bag
quarta-feira, agosto 23, 2006
Ler os Outros: George Michael, Hampstead Heath, Engates Gay e a Tradição
Segue um excerto do texto que sugiro leia na íntegra:
Cruising is nothing new. It's been going on for hundreds of years, and its history is a part of the history of our cities and public spaces. As cities grew and populations became more anonymous, new opportunities for chance encounters arose, for straight and queer people alike, and the figure of the stranger took on an erotic allure. Parks have always been places where strangers meet for overlapping and divergent reasons. By day, children play, families picnic, tourists take respite, neighbours walk their dogs, joggers jog. By night, teenagers hop fences to snog, hookers and rent boys ply their trade, lovers admire the moon, addicts shoot up, and gay men fuck.
These encounters are embedded in our cultural history. In one of the cruising poems I like best, Thomas Gilbert's 'A View of the Town' from the 18th century, a man leaves his wife in their bridal bed, sneaks off to St James's Park, 'roams in search of some vile ingle prize' and 'courts the foul pathick in the fair one's place'. Gilbert condemns this behaviour - 'for hanging is too mild a punishment' - but such queer encounters in parks, on embankments, in toilets, streets and back alleys are an integral part of the way our cities - and sexualities - express themselves. Where there is public space, there will be diverse appropriations of it, and so it should be.
quinta-feira, agosto 17, 2006
Trivia
"There have been more translations of Kant into Persian over the last decade than into any other language."
in New Republic, 1 de Junho de 2006
De Bag
Nos Cem Anos do Nascimento de Caetano
Não perder hoje no Público um extenso texto de Vasco Pulido Valente sobre o último Presidente do Conselho, onde percebemos, melhor, porque Caetano não foi Gorbachev.
De Bag
quarta-feira, agosto 16, 2006
Bill+Bill+Melinda
Toronto II
A presença de Bill Clinton, de Bill Gates e de Melinda Gates tem sido um ponto forte nesta conferência. Os três têm marcado a sua participação por discursos convincentes de defesa de acesso a prevenção e tratamentos para todos. Bill Clinton defendeu a troca de seringas como fundamental na prevenção do VIH, o que é extremamente importante, sabendo-se que nos EUA, em muitos estados esta prática está proibida. Bill e sobretudo Melinda Gates defenderam o rápido acesso aos microbicidas e aos comprimidos de profilaxia da infecção, sobretudo para as mulheres, que já representam globalmente mais de 50% das pessoas que vivem com VIH, no mundo.
Mas muito falta fazer e a luta pelos genéricos parece ser ainda um campo de dificil solução.
Para lá
terça-feira, agosto 15, 2006
Frenético em Madrid
Em Madrid, para um frenético fim de semana passado na melhor das companhias, a visitar exposições (a antológica de Picasso, um pouco aquém das expectativas, talvez exageradas, que íam daqui criadas e outra de Cranach a Monet no Thyssen) e museus de dia e, em esplanadas no Madrid dos Aústrias de noite.
Em Madrid respira-se o ar liberto das grandes cidades. Tal como Londres, Paris, ou Berlim, econtram-se pessoas e "coisas" vindas de todo o Mundo. Tal como todas essas outras grandes metrópoles seguras de si, em Madrid não se vive a olhar para os outros que, por uma razão, ou outra, estão melhor. Vive-se obcecado com o umbigo.
Surge, por vezes (raras vezes), num acesso de saudade por um passado nada distante, um artigo, um texto, um livro, uma obra que fala sobre um campo qualquer, uma cidade mais pobre qualquer, um país subdesenvolvido qualquer e provoca o interesse e a paixão short lived dos "Madrilenhos".
A escasssas centenas de quilómetros daqui, no centro de uma península que aprendemos a, desigualmente, partilhar, vive-se sem se olhar para o lado. Olha-se para dentro por cima.
De Bag
domingo, agosto 13, 2006
Toronto I
As coisas arrancam hoje. A noticia mais importante do jornal de hoje refere-se ao facto do primeiro ministro do Canada ter declinado o convite para abrir esta conferencia mundial. Foi para o Alasca, tratar de assuntos relacionados com o clima. Por aqui, igual ao estilo da nossa casa!! Political leadership tambem parece ser coisa oca por estas paragens. Shame on him!!!!!!!!
Para la
sexta-feira, agosto 11, 2006
Mudo-me para aqui
nos próximos dias. Se conseguir uma computador disponível, pode ser que vá postando noticias do que por lá se passar.
Para lá
segunda-feira, agosto 07, 2006
Do Internacionalismo de Portugal
Desenganem-se aqueles que julgam que só as grandes potências, como os EUA, Israel, ou o Reino Unido conseguem afectar as vidas dos outros, quer sejam, ou não seus cidadãos para além das suas fronteiras respectivas. Portugal, neste âmbito, encontra-se entre os mais eficazes. Sempre que o seu interesse nacional o exige o país não olha a meios para executar, ou fazer executar esse mesmo interesse nacional. Foi assim aquando da possibilidade de atracagem de um barco holandês com uma clínica a bordo onde pessoal médico especializado procedia a interrupções de gravidezes. O país e as suas forças armadas mantiveram-se alertas, não cedendo no braço de ferro que se seguiu com a dita embarcação que bem podia ter sido de guerra. E no final ganhámos, o barco holandês arrepiou caminho e nem um aborto fez.
Agora, numa repetição da história (neste país que parece teimar em viver de costas voltadas para a História) os tentáculos de um Portugal que ainda é pouco "Estado de Direito", do seu Governo pouco audaz em matérias de direitos fundamentais e a sua caótica e arbitrária burocracia chegam a uma cidadã nacional que vive em Espanha e a quem os nossos representantes por lá impedem, ao não procederem à emissão da documentação necessária, de se casar, de acordo com a Lei local, com uma pessoa do mesmo sexo.
Os portugueses no estrangeiro afinal, não serão identificáveis por qualquer qualidade de peçonha. Só se distinguirão das restantes pessoas pela perseguição que o seu Estado lhes faz, empenhado, qual uma Coreia do Norte, em fechar, pela via administrativa, as portas a um certo tipo de progresso.
De Bag
domingo, agosto 06, 2006
País do desenrasca...
«El vicecónsul, sin embargo, sugiere una solución: que las mujeres intenten tramitar el matrimonio sin esos papeles. "Hay portugueses que se casan en España que lo hacen", indica.» declarações do vice consul de Portugal em Madrid a propósito do impedimento de casamento entre uma portuguesa e uma espanhola.
Para lá
sexta-feira, agosto 04, 2006
A Europa e o Cavalo de Tróia
Será que o processo de construção europeu pode piorar ainda muito mais? Sim. Veja-se o que se está a passar nos "alunos modelo" a Leste. Governos fracos e populistas, processos políticos incipientes, fim e retrocessos mesmo nos processo de reformas encetados.
Não se terão transformado alguns países de Leste em enormes Cavalos de Tróia que, uma vez ultrapassadas as negociações ara a adesão à UE arrepiam caminho e regressam aos seus "old ways", desestabilizando a UE de caminho? Reclamando, por exemplo, a re-instauração da pena de morte (como faz a Polónia)?
De Bag
O Mundo a Preto e Branco
Não vivendo obcecado com o que José Manuel Fernandes, ou Esther Muznick dizem, não posso deixar de continuar a reparar na visão que ambos têm sobre o mundo, como se ele fosse a preto e branco, derivado, talvez, das saudades que terão de um tempo de guerra fria que inspirava uma maior (falsa) segurança.
JMF julga os seus colegas de metier por (algo que ele com certeza, enquanto director do Público nunca terá feito) por não terem dado o mesmo destaque à descoberta de que em Qana teríam morrido "só" cerca de metade das pessoas que inicialmente se julgava terem morrido. Para JMF a notícia deixaria de ser as mortes de pessoas civis, para passar a ser o empolamento dos seus numeros, tal como para JMF a utilização de quatro capacetes azuis pelo Hezbollah "justificará" a sua morte.
EM vai um pouco mais longe ainda e tenta convencer os leitores do Público que Israel luta por nós, que a luta de Israel deveria ser a luta de todo o Ocidente, numa visão muito conveniente que faz tentar passar o Estado Israelita como se de um "normal" estado ocidental "civilizado" (o termo é de EM) se tratasse. EM esquece-se que nenhum cidadão europeu vive numa casa espoliada a uma familia que lá habitava antes, nem cultiva terra de outrém, nem, muito menos, habita "colonatos". Nenhum europeu vive num estado que discrimina "legalmente", ou ilegalmente os seus cidadãos de acordo com a etnia e credo. Nenhum cidadão de um estado europeu vive num país para quem as resoluções e decisões de organizações internacionais só são invocadas e utilizadas quando lhe são favoráveis.
Claro que os processos de formação da maioria dos estados europeus se assemelham e muito à da criação do estado de Israel, a única diferença é que com o passar dos séculos deu-se, infelizmente para Israel, o desenvolvimento e consolidação de uma coisa chamada "direitos humanos" a que só os estados, verdadeiramente "civilizados" (para utilizar a terminologia de EM) ligam.
Mas afinal de contas não terá Israel mais a ver com os seus vizinhos (os mesmos que tanto critica) do que julga?
De Bag