Para lá de Bagdade
«Unless I write something, anything, good, indifferent or trashy, every day, I feel ill.» W. H. AUDEN & «Thanking the public, I must decline/ A peep through my window, if folk prefer/ But, please, you, no foot over threshold of mine» House, Robert Browning, 1874
segunda-feira, maio 30, 2005
Há gente "passada" mas há os que abusam
"Se continuar a tendência de despenalização do aborto na Europa, "os contentores de resíduos hospitalares vão transbordar de crianças mortas". (...) "Os corpos esquartejados de bebés vão aparecer em lixeiras de toda a espécie ao olhar horrorizado ou faminto de pessoas e animais", continua o padre Luciano Guerra no seu texto. "Estou a recordar imagens que têm aparecido publicamente e serão mais numerosas à maneira que o aborto deixar de ser considerado crime", diz ainda o artigo, publicado no passado dia 13.Luciano Guerra contesta o acesso das "mulheres abortistas" aos hospitais, "onde já faltam camas e serviços para as parturientes, para os doentes das urgências e para os que estão meses ou anos à espera de ser operados". Prevê então que esta "visão do sangue de tantos corpos inocentes atirados para as lixeiras" ou "transformados em cremes de amaciar a pele das próprias mães" criará uma revolta, maior do que a "dos dramas das mulheres pobres que morrem em abortos clandestinos". ler comentário in Renas e Veados
NON
Enganam-se aqueles que julgam que o "não" francês à Constituição Europeia, tem a ver com um descordo em relação à sistemática adoptada no texto, ou em relação a um crescimento do poder de Bruxelas. O "não" de França tem tão só a ver com uma fobia, quer em relação a qualquer perda de privilégios, nomeadamente, dos "obesos" agricultores franceses, quer, ainda, de uma perda de influência da dita Europa tradicional, com a deslocação mais para Leste de algumas políticas comunitárias.
Claro que esta Constituição devia morrer aqui. Não é possível uma Europa, onde nem a França, nem, muito provavelmente, a Holanda, ou o Reino Unido, estão. É pena, no entanto que não morra pelas melhores razões.
sábado, maio 28, 2005
Em "The Big House" uma das melhores descrições do que é regressar a casa:
“When I come back here, all the time I have been away seems like a dream. Everything is exactly the same here; the same conversation, the same jokes, the books in the same place on the same tables. My rooms just as I left them. One cannot believe that five months have passed away. Home seems very calm and comfortable; a refuge quite inaccessible to any of the vexations and troubles of the world.”
Christopher Sykes, Março 1854
Ingenuidade "À La Carte"?
Depois do episódio da carta de Ratzinger a Freitas do Amnaral, o Expresso volta hoje à carga com a carta de Freitas a Condoleeza Rice, alegando ter sido essa carta o factor decisivo para a nomeação de Guterres para a ACNUR (As If!?!).
Das duas uma, ou o Expresso anda numa de naive, ou então alguém deve muitos favores a Carneiro Jacinto (o todo poderoso porta-voz das Nevessidades)...
Ler os outros
A propósito do sigilo fiscal, ou será bancário o Portugal dos Pequeninos e "Sigilos" (link disponível na coluna ao lado)
sexta-feira, maio 27, 2005
às vezes fico com a impressão, especialmente pelos Blogs que leio, que, a maioria, prefere deixar morrer o paciente que tem uma perna gangrenada (convencendo-o perversamente que ele vai sobreviver) em vez de, corajosamente, lhe amputar uma perna...
é óbvio que a economia nacional não pode continuar a sustentar o actual nível de despesa, nem sequer com um aumento da receita, por isso é necessário cortar, pelo menos no que for mais acessório, de forma a poder-se preservar o essencial.
quinta-feira, maio 26, 2005
a telenovela nacional - educação sexual
O Ministério da Educação pede um parecer ao Conselho Nacional de Educação sobre o modelo de educação sexual actualmente em vigor nas escolas.
O secretário-geral do dito orgão afirma não ter recebido nenhum pedido de parecer.
O semanário Expresso diz que há manuais que fazem parte da bibliografia para o ensino da educação sexual nas escolas.
O Ministério da Educação diz que não há disciplina de educação sexual, nem sequer programa oficial.
É assim desde que a lei foi aprovada, no final da década de 80.
É por isso, que cada um faz o que quer, ou seja, nada ou quase nada, no que se refere à prevenção da gravidez na adolescência e das infecções de transmissão sexual.
Esta deve ser a telenovela nacional mais antiga, já tem pelo menos 20 anos de existência.É obra!!
Porque nunca é demais deixar o aviso (especialmente depois do dia de ontem)
A HISTÓRIA DA MORAL
Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
Alexandre O'Neill
quarta-feira, maio 25, 2005
abre hoje em Lisboa e no Porto
Em Lisboa, no Parque esburacado e em obras, onde os jacarandás que restam já começaram a florir !
O mesmo título, com outro enredo? Ou mais do mesmo?
Relativamente ao discurso de Sócrates, a primeira impressão é positiva. Muito embora tenha feito a maior parte do discurso incidir sobre as receitas do Estado, a parte do discurso que incidiu sobre as despesas deu-me alento. Ou seja, embora não considere eficaz a velha receita do aumento indiscriminado dos impostos e taxas (não nos podemos esquecer que em Espanha os impostos são mais baixos e que já ha muitos portugueses a alimentar o Tesouro Espamnhol), considero que pode ser eficaz uma reformulação dos benefícios fiscais em sede de IRC, uma revisão do estatuto da zona franca da Madeira, entre outras. Assim como considero que a segunda parte do discurso sobre a despesa é, no mínimo, positiva, porque propõe, pela primeira vez na nossa história recente, uma verdadeira revolução em certas áreas: desde a idade da reforma na função pública, à progressão na carreira.
Toda atenção tem de estar agora sobre a proposta de Orçamento Rectificativo e 29 de Junho, para vermos o que se concretiza e como se concretiza.
terça-feira, maio 24, 2005
Acabo de saber que Guterres vai ser o próximo Alto Comissário para os refugiados da ONU. Será que ele vai ser a arma secreta europeia contra o embaixador Bolton?
(imagem do Economist)
Uma vergonha: é a única forma como se pode classificar o processo negocial entre Timor e a Austrália quanto à partilha dos recursos energéticos do Mar de Timor. Caso o Direito Internacional Marítimo fosse aplicado e a fronteira marítima fosse estabelecida a meio, os principais poços petrolíferos e áreas de exploração de gás ficariam todos a pertencer a Timor.
Com este acordo Timor vai passar a receber 50% de uma receita que lhe deveria pertencer por inteiro. Não obstante já é uma evolução em relação aos actuais 18% que recebe...
..E assim vai o "conservadorismo com compaixão" à Australiana.
Hoje, no jornal Público, chegam-nos notícias de que a CML segue alegremente...
...em contra ciclo, ou seja, apesar de uma diminuição de efectivos, em 2004, as despesas com pessoal na autarquia Santanista subiram nove por cento, essencialmente, através do recurso a contratados a prazo e a avenças. Isso sim é obra!
Será que vi bem ontem a equipa de futebol do Benfica a galgar dois a dois os degraus da longa escadaria de acesso à Casa da Música?
A ser verdade, pelo menos lá foi utilizada, coisa que não acontece concerteza desde a sua inauguração...
O Défice
Mais importante que analisar a cara de pau de uns, ou a falta de vergonha de outros (como se os seus três anos de governação não tivessem existido) é importante transformar esta questão num desígnio nacional, em que a oposição é chamada a colaborar e não a se desresponsabilizar.
segunda-feira, maio 23, 2005
A Bondade Intrínseca do PCP
A propósito de um post aqui publicado (sobre uma tentativa do PCP de reabilitar Estaline) há uns dias, surgiu este ("A Irrelevância da Ortodoxia Comunista", no Resistente Existencial), com o qual em essência concordo, mas que suscitou uma troca de comentários saudável (algo que só é possível em regimes não comunistas), especialmente entre mim e um dos autores do Blogue de Esquerda. Quando decidi ir dando resposta às respostas de Filipe Moura, já estava a ver para onde os seus argumentos iam. É que certa esquerda continua a achar mais condenável o Pinochet que o Castro, ou o Hitler que o Estaline. Certa esquerda que não perdoa, nem compreende determinadas posições e políticas da Igreja, já acha inteiramente compreensíveis todas as congeminações provenientes do Hotel Vitória (até purgas internas). Certa esquerda continua a dizer que consegue separar a acção executiva de partidos ortodoxos como o PCP, mas já não o conseguiria caso fosse um partido ortodoxo de direita. Ou seja, defendem que as duas não se comparam e que há “apesar de tudo” uma bondade intrínseca nas gentes comunistas. Concerteza a bondade que eles tão bem demonstraram possuir sempre que tiveram um miligrama de poder…
Não terá sido inocente...
...a escolha do timing para divulgar o número do défice, numa manhã em que muitos portugueses acordaram estremunhados, depois de uma noite a celebrar a vitória do Benfica e que, por isso mesmo, devem estar distraídos em relação ao que se prepara.
domingo, maio 22, 2005
Notável
a "transformação" do Expresso em pasquim, quer pelas sucessivas guinadas para um campo ideológico, relativamente, indefenido e amorfo em que milita a maior parte da chamada população bem pensante (também vulgarmente designada de classe média com pretensão a algo mais) nacional avessa à mudança e a grandes racionalismos.
Igualmente notável a crescente perda de qualquer credibilidade. Veja-se, por exemplo, a publicação de uma suposta carta pessoal do novo Papa a Freitas do Amaral, carta essa que não passava de uma circular enviada a milhares de pessoas em todo o Mundoe que qualquer jornal "mais sério" saberia indentificar, ou então, atente-se à forma como foi tratada a matéria sobre Educação Sexual nas escolas, a qual só, aparentemente, o Expresso logrou vislumbrar...
Two Funerals
'Such a beautiful service,' everyone said,
But you missed your own party,
because you were dead.
We wolfed down the canapés,
drained the champagne,
and you'll be remembered like last
Thursday's rain.
My ranks of friends are getting serried;
Another one has just been buried.
I often wonder what I am doing -
Mourning their loss, or simply queing?
Alexander Shivarg
sexta-feira, maio 20, 2005
A propósito dos 20 anos da ascensão de Cavaco na Figueira
pergunto-me o que estará Cavaco a pensar quando se deixa aparecer próximo demais de Dias Loureiro? Afinal não nos deram a entender os fans do Professor que uma das razões para o tabu era o facto de ele se ter "enojado" com o fenómeno da grande corrupção que tinha conhecido grande desenvolvimento durante o seu consulado? E não será Dias Loureiro tão só um Isaltino um pouco mais sofisticado?
quinta-feira, maio 19, 2005
Leio a notícia que Pacheco Pereira prepara o movimento português contra a aprovação da Constituição Europeia em Portugal, numa acção semelhante quiça à da defesa pública da Invasão do Iraque e da existência de Armas de Destruição Massiva.
Contrariamente a Pacheco Pereira, considero a aprovação do Tratado Constitucional Europeu importante no processo de construção europeia. Embora o Tratado não seja, obviamente, o ideal, é o melhor possível e pode e deve ser encarado como um ponto de partida e não só de chegada. É nesse sentido que é essencial a vitória do Sim no referendo português.
quarta-feira, maio 18, 2005
Cinema invisível
O GRIP - Grupo de Reflexão e Intervenção do Porto é um grupo de interesse integrado na Associação ILGA-Portugal, que se pretende constituir como uma resposta de âmbito local para as questões gays, lésbicas, bissexuais e transgénero a partir da cidade do Porto.
Uma iniciativa interessante - cinema invisível - no Bar Pinguin, no Porto, no próximo dia 20.
Home at the End of the World: após ter lido aquele que achei, a par com Flesh of my Flesh, como o melhor livro de Cunningham, não posso deixar de registar a desilusão que foi ver o filme. Haverá, de facto, personagens ficcionais que não devem, ou porque não podem, ou por que não devem mesmo, ser passadas ao cinema? Ou estaremos perante uma infelicidade de realização? Ou um insucesso do guionista, que por curiosidade era o próprio Cunningham?
Ontem passei pela FNAC e assisti a um pouco do debate sobre a homofobia com a participação da ILGA, Panteras, Associação do Festival de Cinema, entre outros. Daquilo que ouvi, pareceu-me ser um conjunto de apresentações interessantes. O que me incomodou foi a falta de força anímica daquela gente. Percebo a gravidade e seriedade com que encaram o tema e não é para menos, não obstante, acho que poderiam torná-lo mais "animado" dando-lhe maior força e projecção adoptando uma atitude irreverente, carismática e energética.
Força gente!
terça-feira, maio 17, 2005
ontem, no programa Prós e Contras, na RTP, a figura de Isaltino Morais que decidiu aceitar o convite para participar no programa, que era sobre corrupção na classe política, abriu uma janela para um país que, acho eu, poucos querem que continue a existir. Um país onde o descaramento, populismo e desonestidade, quer financeira, quer intelectual são as qualidades predominantes à direita e à esquerda.
Isaltino Morais, dizia a certa altura que toda a gente se tinha esquecido que ele era e fazia outras coisas antes de ser edil de Oeiras e que seria esse seu passado que justificava a fortuna na Suiça. Pois então caro Isaltino regresse a esse seu passado e leve consigo o Avelino, o Major e tantos outros...
A propósito da comemoração do 60º aniversário do final da II Guerra Mundial, o jornal Avante publicou um artigo elogioso de Estaline. Fiquei admirado com a forma como isto passou relativamente despercebido à maioria dos Blogs. Alguém imagina o barulho que e geraria caso fosse o orgão oficial do PP a fazer um elogio a Mussolini, ou a Salazar? E o consequente barulho?
Não gosto definitivamente de dois pesos e duas medidas. E afinal Estaline até acabou por ser responsável por um número bem superior de mortos do que o próprio Hitler. Espero que se lembrem porque é que o PCP continua a ser um não partido...
segunda-feira, maio 16, 2005
Não gostava de ter o mesmo filme do Presidente para a matiné...
...é que ninguém gosta de ser chamado à realidade, especialmente quando a realidade é tudo menos delicodoce.
Embora concorde com o essencial dos argumentos de Mark Leonard para justificar o seu conceito de poder (soft e hard power) e a sua tese de domínio europeu (tais como a forma como a Europa trata o seu "backyard", ou o envolvimento a níveis diferentes da UE e dos EUA com países designados em vias de desenvolvimento, basta fazer uma comparação entre as relações de ajuda dos EUA à Colômbia e as da UE à Sérvia, ou à Ucrânia, para concluirmos que a estratégia americana não tem sido, até agora, bem sucedida e que a da UE tem), não deixo de ter dúvidas se este livro não será um livro "feel good" para as relações internacionais, uma vez que não acho que vá ser outro Emanuel Todd no sentido de estar tão inteiramente certo como Todd, quando este previu, nos anos setenta, a queda dos regimes do Bloco Soviético.
VI
Live in my living;
When I am sad, be sad;
Take from our chaos
Few of your own wise smiles,
For I have merriment enough for both,
Too much for one to bear,
And, if we make it cruel laughter,
We shall have time,
A space of lies,
To show we can be kind.
Here is your breast,
And here is mine;
This is your foot,
And this is mine;
But live,
In all I offer you a little thing
So small you can but give it.
Dylan Thomas (Notebook, 1930-1932)
Homofobia Legítima
De qualidade mediana os artigos, quer do DN, quer do Público que saíram hoje, aproveitando a manifestação anti-homofobia em Viseu. Apesar de tudo, tema melhor tratado no DN, com uma entrevista surrealista com César das Neves, a propósito da qual podemos tirar conclusões interessantes sobre o nível do ensino ministrado na Universidade Católica Portuguesa, ou, ainda, a entrevista de Herman José, de quem cheguei a esperar mais, ou o recordar do caso Calado.
Grave mesmo é que após a denúncia do que sucedeu em Viseu e que, aparentemente continua a ocorrer, nem Governo, nem Presidente da Republica tenham vindo até agora dizer seja o que for. Nem um voto de solidariedade, nem uma exigência de cumprimento da Lei. Trata-se, sem dúvida, de uma forma de exprimirem à população em geral a mensagem de que, embora não seja desejável, a homofobia, entre nós, ainda é compreensível, senão legítima, especialmente a que é dirigida a quem é visível.
domingo, maio 15, 2005
17 de Maio de 2005
LISBOA
11h - Entrega da Petição na Assembleia da República
14h50 - 17h30 - Curta-metragem, Mesa de Debate e Documentário na FNAC Chiado
21h - Homofobia Explícita: projecção no Largo Camões de vídeos de violência homófoba
Há 4 (extraordinárias)
Ontém, nas escadarias da Gulbenkian assistiu-se a um espectáculo extraordinário.
Os clássicos, Shakespeare, dito, explicado, ensaiado e interpretado.
Assitiiu-se a uma master class, com a professora de voz Patsy Rodenburg e os alunos foram os actores participantes no evento, portugueses e estrangeiros, que em frente do púlico executaram exercícios de respiração e de projecção de voz, ouvindo as histórias da Patsy que ensina e encena por esse mundo fora.
Para mim, o actor João Reis foi uma agradável supresa, mas William Nadylam (já referido neste blog) é extraordinário. As explicações do tradutor António Feijó, sublimes.
Queremos mais!!!!
PS - a entrada era livre!
sexta-feira, maio 13, 2005
E hoje foi dia de Snobs
que é como se chama esta pequena colecção de histórias da escritora Britânica Muriel Spark, que começa com umas suas divertidas aventuras em castelos franceses e termina com uma jovem mulher que, ao receber uma herança de um Tio excêntrico, se vê perante um dilema: acabar um livro que o Tio estava a escrever e que ela ocultou quando vendeu o espólio literário do Tio, ou acabá-lo ela e recolher os louros?
Sousa Tavares e o Animal Míope
MST torna, hoje, a abordar o tema do acórdão do Tribunal de Ponta Delgada e a inconstitucionalidade do artigo 175º do Código Penal (entretanto reforçada por uma decisão do próprio Tribunal Constitucional) para repetir o que tinha dito há duas semanas atrás. É pena que MST não leia Blogs, ou pelo menos este, porque assim poderia ter evitado utilizar o mesmo argumento, ainda por cima tão facilmente rebatível, de que o que está em causa é, por um lado, a forma como a sociedade olha para o abuso em causa e o trauma que isso causa na pessoa abusada e, por outro, o tipo de acto, que MST não tem coragem para dizer, mas que é a penetração anal.
Quanto ao primeiro plano, como já aqui escrevi, o legislador não pode punir os actos em função dos preconceitos da sociedade, mas de acordo com o entendimento baseado em princípios racionalizáveis que obedeçam ao tratamento equitativo e não discriminatório dos cidadãos. Se não porque não punir agravadamente os abusadores de raça negra? Não será afinal o trauma de uma criança branca abusada por uma pessoa negra, em função dos preconceitos existentes, maior?
Quanto ao segundo, porque não, caso se considere que a penetração anal cause maiores traumas, agravar a pena, não em função da orientação sexual do perpetrador do acto, mas em função do tipo de acto? Desta forma um heterossexual que abuse de uma menor e a penetre desta forma, veria a sua pena ser agravada da mesma forma que o acto tivesse sido de natureza homossexual.
Relativamente aos exemplos do reino animal de que MST tanto gosta, porque não aplicar na organização social humana outros princípios, como o da sobrevivência do mais forte, ou o não tratamento de qualquer doença, entre outros corolários igualmente valorosos? Assim, MST que se calhar já tem de usar óculos para ler as teclas do seu computador, não nos poderia brindar nem com estas pérolas, nem, para grande pena minha, com mais livros como o “Equador”, uma vez que no mundo animal eu não conheço qualquer exemplo de uma criatura com óculos…
Um Ano
13 de Maio aqui no "Para lá de Bagdade" está muito para lá de Fátima. É que hoje este Blog faz um ano. Um ano já é tempo, não muito, mas algum tempo e, ainda, mais posts. Para mim, escrever aqui tornou-se parte dos meus rituais diários, a par do banho, ou do jantar, em Portugal, ou no estrangeiro. Pelos números, ainda que por vezes duvidosos do Bravenet, também parece que a visita a este Blog se transformou para algumas pessoas um ritual, se não diário, pelo menos ocasional.
Espero, pois, que consigam continuar a "aturar-me" por mais algum tempo.
quinta-feira, maio 12, 2005
quarta-feira, maio 11, 2005
O argumento de Alegre
Contrariamente a muitos, entre os quais se inclui o visado, não acho que Alegre fosse má escolha para candidato do PS à Presidência da Républica e, mais, acho que o argumento utilizado por Alegre para se auto-excluir da corrida fraco e contraditório em relação à pesonalidade, que ao longo dos anos, tinha revelado.
Alegre acha que a sua designação eventual como candidato pelo PS significa em si uma admissão pelo seu partido de que a mesma está viciada à partida (o que revela muito da sua auto-estima) e que o ganhador é Cavaco. Sem querer contrariar em absoluto esta sua última premissa gostava de ter a ousadia de o recordar, a Alegre, que a vida em política é cheia de surpresas e que ele, acima de qualquer outra pessoa, devia saber isso.
É no mínimo esquisito...
As informações que têm surgido quanto à investigação criminal de governantes do PP no que se refere à sua actuação em ligação com um grupo financeiro e uma autorização apressada para um abate de sobreiros (o petróleo do país) fazem antever o pior (algo que toda a gente comentava à boca fechada) relativamente às ligações entre o anterior governo e alguns negócios, fazendo-nos mesmo suspeitar de que se trata apenas da ponta do iceberg. Não obstante o timing com que isto sucede é suspeito, quer pela rapidez da investigação e actuação dos magistrados (recorde-se que os factos remontam só a Fevereiro e que esses senhores não são famosos pelo desvelo que revelam no cumprimento das suas obrigações de forma tempestiva), quer por este processo acontecer numa altura em que o MP e o Procurador Geral se encontram sob fogo cerrado devido a uma série de miseráveis falhas. Claro que a conjugação destes dois factores faz-nos suspeitar que a justiça em Portugal continua a ser instrumentalizada, o que definitivamente é mau, porque, por muito culpados que estes senhores sejam, não merecem, nem mais, nem menos que quaisquer outros cidadãos a braços com a Justiça e os seus meandros.
terça-feira, maio 10, 2005
Hoje foi dia de Camus e Argel
e de imaginar como nenhum de nós (que prezamos a vida) terá alguma vez a oportunidade de deambular assim, pela parte baixa da cidade de Argel, junto ao Mediterrâneo e olhar de lá para cá.
Um estudo curioso
Será que os resultados deste estudo, que liga o olfacto com a orientação sexual, terá algo a ver com uma certa obsessão por cosmética mais frequente entre alguns homossexuais homens, que em heterossexuais homens?
"Gay men showed a strong preference for the body odour of other gay men in the scientific test of how the natural scent of someone's body can contribute to the choice of a partner."
Sobre a Justiça
Ora aí está um texto com o qual me identifico, não só pela visão do problema, mas também pelo posicionamento do autor e o seu indisfarçavel bocejo pelo facetiousness do debate e dos seus protagonistas.
Certa a estratégia do governo sobre a Justiça, inspirada por certo na velha máxima: "Grão, a grão enche a galinha o papo".
A Penguin está de parabéns, celebra os seus 70 anos de vida
E que melhor forma de o fazer do que com a edição de 70 sintéticos títulos de variados autores, britânicos e não só, responsáveis pela transformação do nome Pengui Books numa marca quase tão conhecida como a Coca-Cola. Eu já comprei alguns e hoje deliciei-me com uma antologia de crónicas de Alistair Cooke, "Letter from Four Seasons" (não confundir com os hoteis). Cooke era o decano dos correspondentes ingleses nos EUA, tão decano que acabou americano. Estas crónicas falam-nos das estações do ano e da forma como elas acabam por correr diferentes do outro lado do Atlântico, ao sabor de um ritmo cunhado por um mundo que já não existe. Claro que Cooke não se esquece de esfregar na cara de toda a gente as anedotas criadas pelas diferenças culturais entre a Grã Bretanha e os EUA.
Memorável a crónica que nos fala do melhor campo de golfe do Mundo, situado num jardim Botânico americano e a que nos descreve o ritual que, todos os anos, a mulher do escritor seguia para fechar a casa de Nova Iorque e mudar-se para a praia com os filhos que ele só via e a custo aos fins de semana, deixando-o pois, de segunda a sexta, num estado de liberdade típico de um solteiro. Cooke dizia que então a cidade estava cheia de homens que, como ele, passavm três meses em casas fechadas, de persianas corridas, loiças embrulhadas e mobílias cobertas.
segunda-feira, maio 09, 2005
Desabafo ao deitar
Hoje andei o dia todo acompanhado da interrogação de como tinha sido possível perder o contacto de tantas pessoas de quem já fui tão próximo. Aqui, há uns anos, dizia sempre para comigo que não me iria acontecer o mesmo que a muitos outros e, para aqueles que possam estar a fazer outras interpretações, outras de um ano estarem íntimos de pessoas de que, no ano seguinte, eram meros estranhos. Mas parece que a idade me está de facto a ensinar a inevitabilidade de algumas coisas...
E agora para algo realmente importante:
Passou, lamentavelmente, despercebida a última nota do Banco de Portugal, esperemos que não suceda o mesmo com o aguardado Relatório Constâncio.
domingo, maio 08, 2005
Hoje, no Independent on Sunday:
A propósito do debate em torno de uma lei que tornará quase ilegal a 'blasfémia' e o nosso direito a pormos em causa as religiões:
Joan Smith: "My God given right to be rude"
"Religions control behaviour catastrophically for women, homosexuals, rival faiths and non-believers
Some time ago, a middle-aged woman knocked on my front door and asked whether I had heard the good news about Our Lord, Jesus Christ. I said I had but I wasn't terribly convinced by it - if my house had a name, it would be something like Godless Towers - and she looked crestfallen. A moment later, she asked if I would mind answering another question, pointed at the bay tree in my porch and wanted to know if it was easy to grow in this country. I've never met an evangelist who gave up so easily and I hope she wasn't sent off for retraining when she reported back to HQ, sans convert but with some useful gardening tips.(...)"
De certa forma a vitória de Blair foi vitória da realpolitik à Inglesa. Muito embora ele minta, manipule, entre outros pecados capitais, os eleitores britânicos depressa perceberam que entre um partido que lhes promete tudo, por saber que nunca será governo (os liberais democratas) e um outro que parece tão desligado da realidade quotidiana e das preocupações dos britânicos que até parece fazê-lo de propósito (os conservadores) o Senhor Blair continuava a a encabeçar a única possibilidade de governação.
sarah lucas
Sarah Lucas has challenged sexual stereotypes in a series of provocative self-portraits. She turns against the art-historical tradition of the female seductress or muse, and presents herself in a deliberately androgynous, and occasionally aggressive, series of poses. She adopts masculine gestures and stances, and shows herself in unisex clothing like jeans and T-shirts.
These images also raise questions about the role and appearance of the modern artist. In contrast to the stereotype of the artist as an anguished male, Lucas shows herself as an ordinary person in emphatically ordinary surroundings.
sexta-feira, maio 06, 2005
É quase divertido assistir
...à atrapalhação de alguns líderes partidários, que andaram anos a acarinhar e aliciar monstros autárquicos e agora vêm-nos a ganhar vida própria e a acharem que têm todo o direito a continuarem a fazer o que sempre fizeram. Uns porque dizem que nunca serão acusados de nada, outros porque acham que só tiveram umas conversas a mais...
quinta-feira, maio 05, 2005
Carrilho e as outras
Sinto-me vingado, para já, na minha aposta em Carrilho para próximo edil de Lisboa. Gosto da forma como demonstra estar a preparar-se e até gosto da primeira ideia que saíu cá para fora (a qual já aqui tinha sido defendida) de fazer no Parque Mayer um jardim que crie um corredor verde no centro da cidade entre o Torel, Avenida, Parque Mayer e Jardim Botânico, apostando-se na recuperação do Capitólio e de outros espaços culturais abandonados, como o Odeon, nas Portas de Santo Antão.
Fico, não obstante preocupado com esta aparente multiplicação de outras candidaturas a Lisboa. Parece que desde o PCP, ao Bloco até agora ao advogado Sá Fernandes, todos querem marcar posição à mesa. Parece, pois, que já esqueceram o que aconteceu há quatro anos, quando alguns destes senhores deram a CML de mão beijada a Lopes e com isso mergulharam a cidade numa longa noite Santanista...erro que espero não repitam.
Pois eu acho, mas não sei se posso, não depende de mim...
mais uma vez voltamos à estaca zero de um debate fundamental, vai ou não vai haver troca de seringas nas prisões???
Segundo João Goulão:
... o IDT tem competências para coordenar a política de droga de vários ministérios mas "não tem jurisdição directa" para avançar com a medida, que depende do Ministério da Justiça.
ela disse...só por cima do meu cadáver...
Elza Pais, ex responsável pelo IPDT, disse num debate público sobre VIH e SIDA que o PS era a favor das trocas de seringas nas prisões.
quarta-feira, maio 04, 2005
O acesso à educação das mulheres é uma questão de vida ou morte
Portugal está em 19º lugar na lista no que toca à situação das mães, à frente de países como a França (20º) e da Polónia (25º). Para esta posição contribuíram uma taxa de cem por cento de partos efectuados por pessoal especializado, um baixo risco de morte materna (uma mulher em cada 11.100) e uma taxa de mortalidade infantil de quatro em cada mil nascimentos.
Sabendo-se que em Portugal, as estatisticas são mesmo uma batata, tenho dúvidas sobre a fiabilidade destes dados, no que se refere aos partos - 100% de partos efectuados por pessoal especializado. Isso não acontece em nenhum país, quanto mais não seja, porque basta pensar que muitas mulheres parem a caminho do hospital, sem qualquer aviso, já para não falar das que parem em casa, por opção ou pura e simplesmenet por medo de serem denunciadas às autoridades, caso sejam imigrantes ilegais.
Por outro lado, sabe-se que a taxa de infecção pelo VIH nas grávidas na região da grande Lisboa, apresenta um valor considerado de epidemia grave, próximo do padrão africano.
Como tal, estamos conversados.
terça-feira, maio 03, 2005
Água
se lavarmos os dentes com a torneira aberta gastamos mais ou menos 19 litros, se a fecharmos enquanto escovamos os ditos gastamos 3 litros !!
Presidente aborta Aborto
Antes de mais importa clarificar que nunca fui, nem sou favorável à realização de um referendo sobre a despenalização do aborto, tal como não seria favorável à realização de referendos sobre o direito de voto das mulheres, ou sobre a pena de morte e tortura. Acredito que referendar direitos subjectivos e liberdades só pode dar mau resultado (como temos visto). Mais o referendo é ele próprio se não for bem regulamentado uma perversão da democracia representativa que temos, que pode levar in extremis ao pedido de referendos sobre tudo, demitindo-se os eleitos das suas responsabilidade e competências enquanto tal.
Dito isto, apesar de compreender a dificuldade do PS em contrariar aquilo que defendeu (e mal) durante a campanha eleitoral, penso que face à recusa presidencial em prioritizar esta questão e ao constante bloqueio da direita, deveria a maioria de esquerda no parlamento assumir a sua responsabilidade e resolver este problema once and for all. Quem vier depois que assuma que quer voltar para trás...
Porto é recordista
Não é de futebol que se trata, mas para isto não parece chover dinheiro de lado nenhum.
A pobreza gera fome e a fome conduz à doença e nisto Portugal é campeão. Este é o estado da tuberculose em Portugal.
..."deixa de trabalhar e pode passar meses à espera de uma baixa que não chega", de quem tem facturas sem conta de luz e água por saldar, frigoríficos vazios, lágrimas nos olhos, cansaço no corpo.
Vamo-nos habituando e já não nos revoltamos!
Bacilos de Koch
segunda-feira, maio 02, 2005
O Beijo da Mulher Aranha
Será o ódio que faz correr Santana Lopes, ou uma qualquer distorcida vontade de imitar o discurso de Cavaco em relação ao seu próprio Governo, aquilo que o leva a fazer hoje elogios ao Governo de Sócrates?
Um Governo que, recorde-se, vive, nestes primeiros meses, como uma constante recordação detudo aquilo que o anterior não foi, nem soube ser.
O Grande Jogo
A Igreja, acordada da sua letargia por uma série de "casos" como o aborto, uniões homossexuais, entre outros, parece apostada em entrar num jogo de gato e rato perigoso. Por um lado reclama para si uma participação maior no governo da cidade. Por outro, reclama quando, por isso, se vê excluída de cargos públicos. Veja-se o que está a acontecer em Timor-Leste, ou em Espanha. E o que aconteceu com Buttiglioni.
É um grande jogo que, a ser bem sucedido, pode levar a uma mudança da maré secular que varre a Europa desde o Século XVIII. Mas que a não ser bem sucedido pode levar a uma reacção "alérgica" que afaste, ainda mais, as estruturas eclesiásticas da vida quotidiana da maior parte dos europeus, uma vez que noutros continentes a história será diferente.