Para lá de Bagdade
«Unless I write something, anything, good, indifferent or trashy, every day, I feel ill.» W. H. AUDEN & «Thanking the public, I must decline/ A peep through my window, if folk prefer/ But, please, you, no foot over threshold of mine» House, Robert Browning, 1874
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Senão fosse pelo Público, teria passado despercebida a passagem dos 150 anos sobre o nascimento de Cesário Verde, o qual recordo pelo "Sentimento de um Ocidental" e por uma frase sua , que via todos os dias durante vários anos na estação de metro da Cidade Universitária:
"Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
A forma como o Economist viu as nossas eleições (cópia de parte do artigo)
..."José Sócrates, the Socialists' new leader, tried to instil some passion by shouting “We did it! We did it!” in his victory speech. Yet the turnout (65%), the highest in ten years, and the big swing to the left were less a vote of confidence in the Socialists than a rejection of the centre-right government. Nobody did more for the left than Pedro Santana Lopes, the former mayor of Lisbon who took over as prime minister last July, when José Manuel Barroso stepped down to become European Commission president.
His government proved so erratic, blunder-prone and media-obsessed that, after only four months, Jorge Sampaio, Portugal's Socialist president, took the unusual step of dissolving parliament and calling elections a year early. His decision has been vindicated by a result that should ensure four years of stable government. Some of the blame should go to Mr Barroso. His centre-right Social Democrats were torn apart by his choice of successor, helping to push them towards their biggest-ever defeat. Not only did the Socialists win an absolute majority, with 45% of the vote, but the left swept up 60%, with hardline Communists and a group of former Trotskyites and Maoists winning close to 15% among them. “Barroso is not innocent in this crisis,” said Angelo Correia, a top Social Democrat. “He fled the country for a position that is highly prestigious for Portugal, but he left a mess behind.”
Interessante esta notícia que apanhei no britânico Spectator
"Bemerhaven zoo was bombarded with protests when it encouraged six Humboldt penguins said to have homosexual tendencies to mate with four females flown in from Sweden."
O João perdoar-me-á concerteza por eu aproveitar-me da letra que ele copiou no seu blogg
MUDAR DE VIDA...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo deMudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens...que ser
assim?...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo demudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser
assim?...
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo demudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar"
PS - Também aqui se constata o génio de Variações.
domingo, fevereiro 27, 2005
Andando, há algumas semanas pelas ruas apertadas e calcárias de uma antiga cidade numa ilha do Mediterrâneo Ocidental, passo em frente de um palácio de aspecto cuidado, pedra amarelecida pelo vento do deserto, em que morava a embaixada do Canadá, a qual estava aberta aos visitantes, ostentava o pavilhão respectivo e visivelmente habitada. Imediatamente me interrogo como será a nossa embaixada, ou consulado. Interrogação que, como por magia, é respondida 10 metros mais à frente, na mesma rua. Deparo-me então com um edifício bonito, com os mesmos tons de sol e deserto, mas sem bandeira, só uma discreta placa da Republica Portuguesa, tudo resto era a porta fechada, nenhum horário de funcionamento, nem bandeira, só o “charme discreto de Portugal”.
Um recado para alguém que agora não está bem
Oásis
Penetraremos no palmar
A água será clara o leite doce
O calor será leve o linho branco e fresco
O silêncio estará nu - o canto
O canto da flauta será nítido no liso
Da penumbra
Lavaremos as nossas mãos de desencontro e poeira
Sophia de Mello Breyner Andressen, O Nome das Coisas
Preocupante o spin de alguns socialistas nos últimos dias. Veja-se o processo de reabilitação em curso de Edite Estrela, com a notícia da sua absolvição parcial, num processo por abuso de poder, ou o crescente whitewash de Guterres.
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Agora é fácil falar...
É o que apetece de dizer quando se ouve as críticas dirigidas por Mendes ao governo de Lopes. Então, como fez campanha ao seu lado?
É também o que dá vontade de dizer, quando Mendes diz que terá transmitido a Barroso que não era entusiasta da sua ida para Bruxelas. Porque não fez, na altura, como outros que abertamente criticaram essa opção?
Mendes aparenta ser, infelizmente, para o PSD e para a democracia em Portugal mais do mesmo.
Bons sinais estes...
...dados por Sócrates, de quem não adormeceu, ainda, à sombra da maioria absoluta.
Tenho gostado desta sua forma de actuar, com serenidade, sem qualquer preocupação clara com a comunicação social, sem falar demais e mantendo, também por isso, o partido "bem comportado", sem aquela costumeira dança de nomes, previsível nestas alturas.
Menezes, o autarca
Confesso que ainda fico admirado com a distância a que certas pessoas estão dispostas a ir para branquear políticamente certas figuras da nossa praça.
Desta vez foi o inefável Ângelo Correia que, defendendo Menezes, falou da sua exemplar acção na autarquia de Gaia. Ora para todos que conhecem Vila Nova de Gaia esta afirmação só pode supreender, pois se Ângelo Correia se estava a referir ao arranjo e animação de um pequeno trecho da área ribeirinha daquela cidade, tinha toda a razão, Menezes mudou, para melhor, aquela zona. No entanto, se Correia se referia à cidade em si, Gaia, não pode ser mais caótica, nem uma entrada mais terceiro mundista para a bela cidade do Porto. Assim, uma espécie de Calçada da Carriche aumentada, sem ordenamento, com mamarrachos, bem ao estilo de uma qualquer Praia da Rocha, ou Amadora.
E depois há que não esquecer aquele comício de Braga, em que Menezes brilhou entre as mulheres...
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
A ler na Visão de hoje
o artigo de opinião de Mega Ferreira sobre a situação política actual, com uma frase magnifica sobre Santana:
"pode abdicar de ser rainha por um dia; mas não renuncia a ser duquesa toda a vida."
Ler os outros
A propósito da sucessão no PSD é importante ler o Editorial de hoje do Público, por Eduardo Dâmaso (link indisponível), que põe o dedo na ferida do PSD, traçando a evolução do partido, desde o drama da derrota de Cavaco contra o baronato social democrata, à insignificante passagem de Nogueira pelo cargo de líder, ao infrutifero remar contra a maré de Rebelo de Sousa, aos medíocres Barroso e Lopes.
Especialmente bem dita a seguinte frase:
"Na segunda maioria absoluta Cavaco tentou levar a cabo uma luta contra as maçãs podres do partido e promover mudanças nas estruturas distritais. Procurou travar o poder dos pequenos, médios e grandes barões que aquele ciclo de poder produziu e a verdade é que perdeu, como reconhece nas suas memórias políticas. E essa foi a derrota que influenciou tudo o resto. O homem que tinha esmagado os adversários políticos, que triturara sucessivas lideranças do PS e do CDS perdeu a luta dentro do seu próprio partido, ao ponto de se ver obrigado a abandoná-lo em condições humilhantes, com o célebre tabu."
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
É preocupante que, para variar, esteja de acordo com Bush, quanto à necessidade de manter o embargo de venda de armas à China. Algo que alguns líderes europeus pretendem pôr em causa, só devido aos negócios, esquecendo que, provavelmente, as suas armas poderão vir a ser usadas no Tibete, ou, novamente, em Tianamen...
O "Povo de Esquerda" e Cavaco
Não sei se repararam que começou, no dia 21, o "movimento de estorvamento" da candidatura de cavaco a Belém. Soares, ontem, entrou nesse movimento geral das esquerdas, na sua análise mensal da SIC Notícias, nem que para tal tenha tido de criar uma ficção que é a do “povo de esquerda”. E é uma ficção porque quem deu a maioria absoluta ao PS não foi a esquerda, mas o centrão, o mesmo que tanto vota no PSD, como no PS, dependendo dos líderes e dos tempos.
A candidatura de Cavaco está dificultada, mas por outras razões, que têm a ver com o timing das eleições presidenciais, com a dinâmica de poder do PS, com o momento que o PSD atravessa e com a ameaça dos eleitores poderem não esquecer depressa o que se passou nestes 3 anos de governação dos dois partidos, putativos apoiantes de Cavaco.
Não batam no ceguinho!
Ontem, à noite, assisti a outro suposto momento de análise política de Luís Delgado e de Luís Osório. O primeiro, simulando um momento de desabafo, atirou-se a Durão Barroso, dizendo que ele tinha sido um mau primeiro ministro e que tinha mentido aos portugueses. Mais, dizia Delgado que o fazia na sua qualidade de amigo de Lopes. Logo ripostando Osório (outro dos nossos nada isentos comentadores) que todos os políticos deveriam ter um amigo assim como Delgado (acrescentando que o não estava a dizer com ironia).
Ora o que estava a fazer Delgado era tentar, uma vez mais, desculpabilizar Lopes pelos erros cometidos ao longo do seu período de governação e a descredebilizar-se a si próprio, porque passou estes últimos anos a elogiar Barroso, Ferreira Leite e o resto da troupe.
Já Osório integra-se muito bem neste "nacional porreirismo" que não nos leva a lado nenhum e que nos impede de "bater no ceguinho".
terça-feira, fevereiro 22, 2005
O anti elitista e anti sulista avança
a sua candidatura à liderança do PSD. Não há de facto limites à imaginação de Luís Filipe Menezes.~
Isto aquece e promete!
Agora que Lopes aparenta estar a partir
...resta-nos a consolação que o João César das Neves continua e em força, se não atente-se uma sua entrevista ao Independente, que pode ser lida clicando aqui e que tem as pérolas do costume.
O que irão fazer agora aqueles dois senhores (um pouco goriláceos) que acompanhavam Lopes para todo o lado?
Será alívio o que irão sentir? Ou terão de ter algum acompanhamento psicológico?
Uma noite na Ópera
Ontem foi noite de Dionisio Re di Portogallo, numa tentativa de reconstrução da versão original da ópera tal como Haendel a terá composto. A ópera, cuja história se desenrola em Portugal, durante a Idade Média, com D. Diniz, a Raínha Santa, entre outras figuras da época, foi um caso claro em que a música, as vozes e a encenação se sobrepuseram largamente à trama. Poucas foram as vezes, pois, que estiquei o pescoço para ler as legendas.
E depois há que aproveitar todas as óperas bem, uma vez que podem ser as últimas, da forma como as coisas correm a Pinamonti.
A boa notícia do dia
A SIC Notícias está a noticiar que Santana vai deixar a liderança do PSD. Qual irá ser a moeda de troca? O regresso à Câmara? Ou uma putativa candidatura a Belém? Ou, "só", a assunção do seu lugar de deputado eleito pelo círculo de Lisboa?
Os senhores que se seguem?
Será mesmo verdade que o homem que a Contra Informação põe a exclamar "Ganda Nóia" será mesmo o líder que o PSD precisa? Ou, melhor ainda, merecia?
Já quanto ao CDS/PP, Monteiro deve estar arrependido de ter saído do partido, agora que tudo aponta para Telmo Correia, o ex-Ministro do Turismo, como sucessor de Portas. E de facto, não é que os dois têm parecenças de estilo?!?
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
A noite das eleições
1. Ontem confirmou-se que Sampaio errou ao ter dado posse a Lopes. O "povo" não queria esta maioria e muito menos este primeiro ministro.
2. A vitória do PS foi histórica. Pela primeira vez um partido de esquerda tem sozinho maioria absoluta, sem que, ironicamente, esta tenha sido uma vitória da esquerda, mas sim uma do centrão. E no entanto, poucos foram que se deslocaram ao Altis, ou ao Rato. Sócrates, nem conseguiu agarrar este elan e entusiasmar, nem tomou se calhar, ainda, consciência do que por aí vem. Daí um discurso medíocre, que apesar da noite histórica, não entrará para a história.
3. A chegada de Vitorino ao Altis disse tudo daquilo que esperemos seja uma mudança de estilo da governação: «Os jornalistas que se habituem!» disse Vitorino defendendo que os governos não se formam através da comunicação social.
4. Dos discursos dos líderes, aquele que constituiu o momento alto da noite foi o de Portas, que para variar esteve à altura dos acontecimentos.
5. O "anti-climax" da noite chegou, pouco depois, com o discurso de Lopes, em que ele pareceu avançar devagarinho até à beira do precipicio e quando alcançou a altura da queda recuou apressado. Quanto tempo irá o PSD "aturar" esta liderança? E que consequências tem a permanência de Lopes no posto de timoneiro, na estratégia Presidencial de Cavaco?
6. Jerónimo e Louçã com os seus resultados, confirmam que a maioria do PS provém dos abstencionistas por um lado e do eleitorado do PSD/CDS por outro. Daí que, logo na primeira noite, estes Senhores se tenham começado a atirar furiosamente ao PS.
7. Não creio, pois, que à subida do BE corresponda qualquer consequência prática em termos de políticas, ou reformas. Nem a "nova" liderança de Jerónimo significa algo mais, que não seja o adiamento da morte do PCP.
Será que alguma das empresas de sondagens já recebeu alguma notificação judicial para responder aos processos de Lopes?
domingo, fevereiro 20, 2005
agora é a vez da outra metade se ausentar
metade deste blog ausentou-se aqui
a outra metade voará para aqui amanhã
leitura apropriada
Acabei ontém esta leitura, que me acompanhou durante as semanas de campanha eleitoral.
Segundo Le Nouvel Observateur, o filósofo português José Gil é considerado um dos 25 grandes pensadores de todo o mundo.
Vale a pena ler.
sábado, fevereiro 19, 2005
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
Um dos dois autores deste Blogg vai ausentar-se até Domingo.
Vou tentar acompanhar estes últimos dias de campanha a partir de uma fria e ventosa ilha no Mediterrâneo e volto a tempo de votar e, caso encontre por lá um teclado e internet, até sou capaz de postar mais qualquer coisa.
O Tico e o Teco
Continuo a assistir estupefacto ao Lopes e Portas em campanha.
Relativamente àquele que ainda é o nosso Primeiro-ministro, depois de assistir a mais outra entrevista com a Constança Cunha e Sá da TVI, torna-se quase doloroso escrever sobre o que disse e o que fez. Lopes é um animal ferido de morte e como qualquer animal nessa situação é capaz de tudo, não obstante reparar-se no seu olhar, que ali já não mora a esperança, nem a convicção.
É também por isso que é, ainda, mais incompreensível que “personalidades” como o embalsamado Balsemão apareça motivado, como se isso fosse razão suficiente para pessoas que pensem por si, por um sentido de “lealdade orgânica”.
Já quanto a Portas, é, como se diz em inglês, disgusting ver o espectáculo de contorcionismo, que ele diariamente monta, de alguém que não é de estado, mas que ensaia todos os dias “pose de estado”, de alguém que não pode estar mais longe dos chamados problemas quotidianos dos portugueses e que no entanto alarvemente os comenta a todos, como se para todos tivesse solução se lhe forem dados mais um punhado de deputados.
Portas é de facto o que normalmente se diz em show business um artista versátil. Ele adapta-se, quer às feiras, onde choca todas as peixeiras com o seu sorriso de dente arrumadinho e palavra pronta, quer aos eventos de nível. Hoje, nomeadamente esteve num almoço com empresárias do CDS/PP e quando o jornalista lhe perguntou se ali não estava melhor que nas feiras, Portas lá pôs aquele ar “fossangão” e, sorrindo com ar de engatatão de lá da terra dele, respondeu com pronúncia brasileira: -Istá-si bem!
De facto temo bem que esta aventura destes dois pândegos Tico e Teco esteja quase a terminar. É que depois de domingo acredito que iremos ouvir falar menos deles e das suas desastradas aventuras.
O debate
Os debates, este ano, assumiram para mim uma importância maior, semelhante em ansiedade à forma como acompanhei alguns dos jogos do Euro. Tal deve-se, infelizmente, não tanto a qualidade dos intervenientes, mas sim ao estado do país.
Quanto ao debate de ontem, pareceu-me primeiro que beneficiou os três pequenos, especialmente o Bloco e Jerónimo, que pareceu mais um intelecual simpático, do que um dos que votou favoravelmente expulsões de camaradas de partido por delito de opinião. Prejudicou Lopes, que apareceu acossado, com poucas hipóteses de "cantar a canção do bandido" e encantar os espectadores. Sócrates conseguiu ter os seus momentos, especialmente quando ripostava, ou lançava alguns ataques.
O resto assemelhou-se a um baile morno, em que nem a música foi acertada, nem os convidados dançaram.
Está na hora da liderança Israelita mudar também,
ou o processo de paz irá certamente encalhar com notícias como esta.
E onde está a Esther nestas alturas?
O princípio do fim?
Será que isto é o princípio do fim de certas figuras caras ao Cavaquismo? As mesmas que chegaram ao poder com um T2 hipotecado em Linda a Velha e que saíram do poder com quintas em Sintra e "Penthouses" em Lisboa. Figuras como Dias Loureiro, ou Duarte Lima.
E será que mesmo que não seja o fim, poderá pelo menos ser o começo da vergonha, que os faça pelo menos aparecer menos?
A política algures entre o "Big Show Sic" e a "Quinta das Celebridades"
Recebi a carta, que reproduzo abaixo, ontem. Já tivemos maus momentos em política em Portugal. Mas nem o pior momento tinha sido tão mau como este. Um líder partidário que também é primeiro ministro utilizar de forma tão despudorada o sentimento, a vitimização e a desresponsabilização é concerteza inédito entre nós.
É por isso que quando ele nos pede para desta vez irmos votar devemos de facto ir votar massivamente, de forma a podermos correr finalmente com Lopes & Cia.
"Caro(a) Amigo(a), Não pare de ler esta carta. Se o fizer, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses e as portuguesas. Portugal precisa do seu voto para fazer justiça. Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem. Você não costuma votar, e não é por acaso. Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar. E quem são eles? Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma. Incluindo a velha maneira de fazer política. Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso? Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema. Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim? Também o tratam mal a si. Já somos vários. Ajude-me a fazer-lhes frente. Desta vez, venha votar. É um favor que lhe peço! Por todos nós, Pedro Santana Lopes"
terça-feira, fevereiro 15, 2005
New York, New York
Aparentemente o Presidente da Câmara quer dizer que não aos casamentos homossexuais, para lhes dizer que sim...
The city's mayor goes deliberately ambivalent
LAST year San Francisco's Mayor Gavin Newsom began handing out marriage licences to any gay couple who wanted one, only to find himself in a mess when California's courts ruled that the licences had no legal validity. Now New York's Mayor Michael Bloomberg has taken the opposite line. The Republican mayor is appealing against a lower court's decision allowing the city clerk to issue marriage licences to homosexuals (this contradicted two recent court decisions elsewhere in the state) while at the same time promising to push for a change in New York's laws.
This has brought predictable snorts from his opponents. The city council's Democratic speaker (and would-be mayor), Gifford Miller, has joined the crowd calling the mayor a coward. Another Democrat, Fernando Ferrer, Mr Bloomberg's most serious rival in the next election, calls him “opportunistic”. And a fellow Republican, Thomas Ognibene, who would also like the mayor's job, has called him “spineless”.
Legal recognition of a marriage has many practical consequences in America. There are, according to one gay-rights group, 1,100 federal benefits directly tied to marriage, to say nothing of hundreds more provided by states and private employers, as well as rights connected with inheritance and insurance coverage. All this adds to the homosexuals' argument for recognition of their marriages.
If the case now goes directly to the state's highest court, there will either be a full judicial endorsement of gay marriage, which Mr Bloomberg would endorse, or (more likely) the opposite. At present the state's law, as the plaintiffs acknowledge, is quite clear in not permitting same-sex marriage. However, in ruling in favour of five couples who last summer demanded marriage licences from the city clerk's office, the lower court said the law was unconstitutional on two grounds: failure to provide equal protection (by treating people differently because of their sexual orientation); and failure to provide due process (by failing to allow people the right of privacy to arrange their marriage free of unjustified government interference).
These arguments touch on difficult areas of law, and so far have arisen primarily in abortion and sodomy cases; the results have left neither side really happy. The Bloomberg approach, if successful, might ultimately encourage an endorsement of gay marriage to come about through the legislature, by a change of law backed by political will and public opinion. That will not be easy to achieve. Only a third of the people in New York state, on the evidence of current opinion polls, are in favour of gay marriage.
(in Economist)
A renovação "meia leka"
Compreendo, por um lado, o argumento que Sócrates tem apresentado que não pode virar as costas a figuras como António Costa, ou Vitorino. Também eu acho que seria um desperdicio fazê-lo. Acho que ele sabe no entanto, por outro lado, que não são própriamente aquelas figuras entendidas como um sinal do regresso de mais do mesmo do pior de Guterres, mas sim outras como Edite Estrela, que fez um mau trabalho em Sintra, ou Pina Moura, com as suas perigosas energéticas ligações, ou o inenarrável Lello. E para estas figuras não há desculpa, nem devia haver retorno.
Sócrates sabe-o, mas o seu ímpeto renovador não parece ter ido longe no seu partido. Resta ver como irá ser em relação ao país.
Os resultados das eleições no Iraque parecem ter confirmado
aquilo que se tem passado no terreno, com uma vitória da lista Xiita apoiada pelo clérigo Sistani, e com uma crença limitada nos valores democráticos que a coligação Americana tem tentado despejar no Iraque. Os outros vencedores destas eleições são os Curdos, que tendo ficado em segundo lugar, tentam obter a Presidência do país, em negociações com os Xiitas. Para já, os primeiros sinais são positivos para os Sunitas, que receiam ser dominados pela maioria Xiita do país.
Ficam, não obstante duas questões por responder:
- Quanto tempo sobreviverá esta construção após uma retirada americana?
- Até que ponto não poderemos vir a estar perante um cenário semelhante ao Argelino, com vitórias nas urnas de partidos, ou facções cujo propósito é o fim das urnas?
Ler "E se melhor for impossível?", no Portugal dos Pequeninos
Quando olho para as perguntas idiotas que os "jornalistas" vão fazendo aos "populares" que se acotovelam para um pequeno exercício de necrofilia "espiritual" junto ao corpo da última "pastorinha", pergunto-me se efectivamente não estará tudo no lugar certo: esta "teoria comunicacional", este "povo", este governo, este primeiro-ministro, a gravata preta do dr. Portas para ele se contemplar nela, esta indigência colectivamente aceite que não dá sinal de melhoras. E se, afinal, melhor for impossível?
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
A canalha/campanha segue dentro de momentos
Lopes e Portas estão assim tão convencidos da esperteza desta decisão de suspender a campanha por causa da morte de Lúcia? Depois dos dois dias do Carnaval, temos estes dois dias da "Vidente". Porquê dois dias e não um? Ou então porque não para sempre? Ora aí estava uma decisão que muito honraria a "vidente", a qual seria, por todos nós, considerada uma Santa Milagreira por ter finalmente calado esses senhores.
Lucia, Super Star
Com a morte da "vidente" Lúcia, morreu talvez o último símbolo de um Portugal, com o qual as gerações mais novas não se identificam e que irá deixar poucas saudades. Tratando-se não obstante de uma portuguesa conhecida, especialmente, em todo o mundo católico, uma "super-estrela".
Lúcia, cuja vida enclausurada não a impediu de exercer um fascínio ininterrupto sobre muitos crentes, estava indissociavelmente ligada ao século XX português. Ela foi a mais política dos "videntes". E contrariamente a outros símbolos (Amália, ou Euzébio) desse Portugal antigo, não procurou adaptar-se aos tempos modernos, também porque não precisava de o fazer.
Constituindo sua única ousadia, nos últimos anos, o ter consigo um computador. Será que tinha internet? Leria Blogs?
Ler Sócrates e a Vontade no Resistente Existêncial
está lá praticamente tudo dito sobre a entrevista de Sócrates, que ontem passou na RTP2.
Só falta dizer o quão dificil deve ser para qualquer jornalista entrevistar Sócrates, que a cada pergunta mais complicada que lhe é feita, ou uma crítica que lhe é dirigida e às suas políticas, responde com um ar de enfado, impaciência e quase irritação perante tamanhas "impertinências".
Este comportamento faz antever um exercício das funções de primeiro ministro fechado, com poucas hipóteses de comunicação para o exterior e constantemente "à beira de um ataque de nervos".
domingo, fevereiro 13, 2005
Hora H, António Gedeão
A Primavera cheira a laranjas.
(Há umas granadas de mão, redondas e pequenas, a que chamam laranjas.)
O cheiro das laranjas enche a noite luarenta de mistérios.
(Dizem que as noites de luar são as melhores para bombardeamentos aéreos.)
É preciso não esquecer
Não devemos esquecer-nos de quem são os criadores do "fenómeno Lopes". É que entre os jornalistas que agora gozam com ele, ou os políticos que agora lhe viram as costas (incluindo o Professor Cavaco) estão quase todos os que ao longo das últimas duas décadas deram guarida a este Senhor, que agora fingem nem sequer conhecer.
De facto não foi só a chamada imprensa menos séria que promoveu Lopes. Quantos de nós recordamos um artigo que faça uma análise séria da passagem de Lopes pela Secretaria de Estado da Cultura? Ou as Câmaras da Figueira da Foz, ou Lisboa? Não há nenhum, ou quase nenhum texto que desmonte os seus "sucessos" naquelas paragens. Quantos outros políticos se poderiam gabar da mesma condescendância por parte dos media?
Mas essa relação de "criador, criado" também é a principal razão porque Lopes sente mais as tiradas trocistas do Público, ou as menos leais do Diário de Notícias.
Lopes e comunicação social: uma relação de amor-ódio com fim à vista?
Adenda: Sobre isto ler CRIADORES E CRIATURA no Portugal dos Pequeninos
Excelente!!!!!
Daniel Day Lewis
É "o melhor de todos", "o mais intenso", "o melhor actor da sua geração". Só faz cinema quando acredita mesmo que acontece "uma revolução em fogo lento". De resto, "é feliz a não fazer absolutamente nada". Terça-feira, Daniel Day-Lewis é homeageado no Festival de Berlim, onde estreia o seu último filme, "The Ballad of Jack and Rose".
Manifesto de notáveis exige nova política de droga
Iniciativa interessante em plena campanha eleitoral. O artigo explora igualmente a mudança de interesses dos dois principais partidos sobre o tema da droga.
sábado, fevereiro 12, 2005
Cognac é cognac.
O que é interessante nesta sondagem do Expresso é que os eleitores portugueses parecem valorizar menos aqueles com quem gostariam de passar férias, ou ir tomar uns copos, do que aqueles a quem comprariam um carro. Contrariamente ao cenário americano em que os eleitores locais preferiam tomar uma cerveja com Bush e logo votavam nele, parece que nós por cá preferimos separar as águas. Nem tudo é mal pois
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
A Birra
Já se percebeu que estes próximos 9 dias, até às eleições vão ser pontuados pelas birras de Lopes. Irracionais, "cómicas" e graves, porque o autor será, ainda, um Primeiro Ministro em funções.
A última birra foi a de mandar fechar as portas aos jornalistas que iam cobrir a assinatura de um protocolo de transferência das instalações do Museu dos Coches para um outro edificio próximo, reagindo assim às acusações de aproveitamento do Palácio de São Bento, para após um "constitucional" com os filhos, falar de nada aos jornalistas (os quais, como cãezinhos amestrados, se prestam a tudo).
A insinuação
Depois das insinuações sobre a vida privada de Sócrates, é agora a vez das insinuações sobre o seu desempenho enquanto governante. Mas parece que também estas se irão transformar depressa em mais um tiro no pé dos seus autores.
E a PJ? Será que a Casa Pia não serviu de lição a ninguém de lá?
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Mais outro resultado da invasão do Iraque
Desde o momento da invasão do Iraque que qualquer ditadorzeco sabe que só tendo armas nucleares está a "salvo" dos nossos aliados americanos. Como se vê agora com a Coreia do Norte, que não descansou enquanto as não conseguiu.
O Jantar
Santana convidou ontem para jantar uma série de figuras, alegadamente, ligadas à cultura. Entre os convocados encontravam-se o inevitável Ruy de Carvalho, ou a Senhora, que nem sei que faz, do cabelo pintado de Azul, ou se calhar o seu talento está todo ali no azul do cabelo...
Claro que já toda a gente percebeu que a maioria dos que deram para este peditório cabem todos numa telenovela portuguesa da TVI, não vão muito mais longe, nem em credibilidade, nem em qualidade.
Parece que a Simone Oliveira também percebeu isso, levantou-se e saíu.
Da Importância da Genealogia
Ontem, num noticiário da SIC Notícias, vi Lopes a perguntar a uma Senhora Algarvia, da aldeia de Alte, chamada Maria Silva, se era familiar do Professor Cavaco Silva. Como a Senhora, por sinal pessoa humilde, negou tal ligação, Lopes com aquele seu ar entre o canastão e o de convencido do brilhantismo daquela sua blague, olha para a câmara de filmar (que é como quem diz, olha para nós) e diz, justificando-se, podia ser que fosse, podia ser que fosse, não contendo um sorriso de quem já se imagina a contar aquela graça no próximo encontro com a Cinha.
Mais uma vez Lopes continua a prestar um óptimo serviço à democracia, bem como aos valores da república, em que cada um deve valer em função de quem é, e não em função de quem eram os seus pais. Mas é compreensível que Lopes, sempre facilmente deslumbrável, se queira agora atirar a Cavaco, só não o é, que o faça com o velho argumento do Professor ser "filho do bombista".
quarta-feira, fevereiro 09, 2005
Será mesmo verdade que José Castelo Branco já aderiu ao PP? Que outra razão para aparecer, com aquela pose, entre Lobo Xavier e Bagão Félix? Dá-se, ainda, um prémio a quem reconhecer a senhora transformista atrás de Portas...
PS-este Outdoor faz lembrar, ainda, uma velha campanha do Continente do Belmiro de Azevedo.
O "Senhor Silva"
Claro que este PPD já percebeu que não vai ganhar no dia 20. O que se joga, pois, a 20 é saber que score eleitoral irá permitir a esta gente continuar em cena durante as autárquicas e, acima de tudo, presidenciais, brincando aos candidatos.
Cavaco pode, pois, ter não só um dificil mês, mas um inenarrável ano pela frente. Estará ele disponível para isso?
Adenda: Sobre isto ler "PONTO FINAL" no Portugal dos Pequeninos
Steve Bell, Guardian, 2005
"This is a time of opportunity," said Yasser Abed Rabbo, a former cabinet minister and ally of Mr Abbas. "We could create a momentum that would entrench the peace by showing the Palestinian people the benefits and hold out the promise that the Israelis are serious about ending the occupation in a just way."
But Mr Abed Rabbo said there was a widespread suspicion among ordinary Palestinians that, while the Israeli government is keen to end the violence, it wanted to stave off political talks so that Mr Sharon could carry through his plan unilaterally to impose the borders of a Palestinian state, annexing a significant part of the West Bank to Israel. "Sharon clearly wants a final status without negotiation," he said. "He's turning the wall [the West Bank barrier] into a border and they're expanding the settlements in order to annex the maximum amount of Palestinian land."
"The Israelis in their inimitable way say 'let's not rush into talks'. The deception behind the Gaza thing is the whole world is looking at Gaza when the real game for Sharon is the West Bank.
"It's all down to the attitude of Americans. Sharon will continue inventing all kinds of excuses and pretexts. He will have more and more pretexts. He's occupied with one thing. He wants to complete the map he has in his mind for the West Bank. Unless the Americans interfere and say stop, it won't change."
Já há muito tempo que uma Americana não provocava este frisson em Paris. Josephine Baker, há quase um século, Rice agora. A Senhora Secretária de Estado de Bush veio para convidar a Europa a abrir "um novo capítulo" nas relações com a toda poderosa América.
Claro que se pode dizer que os EUA estão desejosos de abrir um novo capítulo, porque ficaram quase exauridos com o último capítulo, em que foram únicos responsáveis pelo curso dos acontecimentos. Claro, ainda, que nada mudou na cabeça de Bush & Cia, mas o défice orçamental e os avisos da China de que não vai continuar a comprar títulos do tesouro Americano durante muito mais tempo pesam. Como pesa o encargo do Iraque que carregam sózinhos.
O principal, do ponto de vista Americano, é que não podem fazer o mesmo erro com o Irão. Por isso também precisam da Europa. Assim como a Europa também já percebeu que, sem os EUA, não passa de uma boa fonte de receitas para os dois intervenientes do conflito Israelo-Palestiniano, sem credibilidade aos olhos dos Israelitas, nem capacidade de sozinha fazer avançar o roteiro para a paz. Pelo que por ora teremos uma Europa mais aliada, do que rival da América, assim como uma América menos unilateralista também.
São estes pois os dois principais temas, em que registaremos alguma colaboração UE/EUA este ano: Irão e Médio Oriente.
terça-feira, fevereiro 08, 2005
A Namoradinha de Organdi, Variações em Sousa, Fernando Assis Pacheco
Como na dança ritual dos patos coelheiros se te amei
foi a cem por cento da minha capacidade metafórica
mas copiado de livros onde o herói sempre enviuvava
cruzei imensas vezes sob a tua varanda com glicínias
pensando numa cena infeliz à moda do Harold
eu sonhava contigo?
eu assoava-me ao pijama!
Todos os que acham enfadonha esta discussão em torno dos valores de tolerância em que a sociedade Portuguesa devia apostar cada vez mais
...deveriam consultar "The Rise of the Creative Class", por Richard Florida, em que o autor procura explicar porque é que parecem condenadas certas cidades, ou regiões americanas, enquanto outras não param de crescer e de se desenvolver. O autor cita exemplos como Buffalo, ou Okhlahoma City, ou Detroit para ilustrar casos em que as cidades não registam o mesmo sucesso de Seattle, Boston, ou São Francisco. E, para o mesmo autor, o problema passa pela falta de uma política que aposte nos "3ts": Tecnologia, Talento e Tolerância.
"In a nutshell, we found that creative people are attracted to, and high tech industry takes root in, places that score high on our basic indicators of diversity - the Gay, Bohemian and other indexes"
"To some extent homosexuality represents the last frontier of diversity in our society, and thus a place that welcomes the gay community welcomes all kinds of people."
Adenda: Os últimos trabalhos de Florida parecem confirmar a sua teoria. Os estados que americanos que figuravam no topo da tabela em matéria de criatividade foram exactamente os primeiros a "legalizar" o casamento entre homossexuais (Massachussetts, ou regiões da Califórnia) e os primeiros a tentar contrariar essa tendência, são os estados no fundo da tabela ("Revenge of the Squelchers", pelo mesmo autor)
Como se costuma dizer o "Homem é mesmo macaco"
A RTP assinou com Marcelo para reeditar os comentários de domingo do Professor, mais ou menos, nos mesmos moldes dos comentários que fazia na TVI. O problema está claro em que a RTP, como estação pública, tem deveres especiais de isenção, que ficam longe de garantidos com a presença regular de uma figura como Marcelo, nitidamente conotada com um partido (não podemos esquecer que Marcelo até faz campanha pelo PPD de Lopes). Só que depois de toda a confusão em torno do que se passou com a sua saída da TVI e dos ataques ferozes que se fez ao Príncipio do Contraditório, como é que se vai falar agora deste tema, sem por os pés pelas mãos? E mais quem irá levantar a lebre?
Mais outro processo para Americano ver?
Prepara-se mais uma cimeira para tentar relançar o processo de paz no Médio Oriente, a ter lugar numa estância egípcia do Mar Vermelho. Contrariamente a muitos não olho para este processo com grande entusiasmo, mas oxalá esteja enganado. É que para que este “novo” alento ao processo de paz tivesse avanços igualmente aceites por ambas as partes, era necessário que tivesse havido também uma alteração substancial da liderança Israelita, bem como da composição, quer do Knesset, quer do próprio governo, quer ainda da percepção da sociedade em geral em relação a este tema.
Mais, esta fórmula, que me recorda outros momentos, em que um ocupante da Casa Branca acorda um dia e “resolve resolver” os problemas do mundo também não me parece a mais eficaz. Também não acredito que Abbas resista, um dia que seja, aos milhares de refugiados e ao Hamas, depois de fazer todas as concessões que irá ser obrigado a fazer para poder ser apresentado por Bush e Sharon como a solução para o problema, demonstrando simultaneamente que eles é que tinham razão em não lidar com Arafat.
É que tudo aponta para que Israel esteja disposto a ceder apenas cerca de 18% (e claro que esta “cedência” irá ser objecto de uma acção de propaganda modelar que dará a entender que Israel está a ceder um braço e uma perna) da área total da Palestina original, ou, ainda, 80% dos actuais territórios ocupados, sem o retorno dos refugiados expulsos durante a fundação do Estado de Israel (para as suas antigas casas, o que implica que o exíguo território de uma futura “Palestina” ainda terá de se preparar para absorver algumas centenas de milhar de refugiados sem quaisquer condições) e sem a concessão de direitos iguais aos cidadãos Israelitas de origem Palestiniana (sim, actualmente em Israel a lei não é igual para todos…).
Por isto, não ponho a mesma fé que o Nuno neste reavivar do processo de paz. Acho que ele só está a ser reavivado por falta de alternativa de Israel, porque seria injustificável não o fazer e não porque Telavive esteja finalmente disposta a fazer as concessões adequadas. As quais, para mim começariam por um sentido pedido de desculpa ao povo Palestiniano por ter “carregado” o pior da herança da “Shoah”, mais ainda que os próprios Alemães.
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
domingo, fevereiro 06, 2005
Parabéns
World Dramatic Grand Jury Prize
The Hero
Zézé Gamboa’s The Hero (Angola/Portugal/France) received the World Cinema Dramatic Grand Jury Prize. Carla Baptista wrote the film which tells the tale of a 20-year veteran of the Angolan civil war who returns to the capital city of Luanda where he faces the challenges of assimilation and survival. "To a director with his first feature film and coming from an unknown part of the world, Angola, Africa where there is no film industry this is an incredible honor,"
Estará o Expresso a passar-se?
Tem passado relativamente despercebido um inquérito, com perguntas, mais ou menos, fixas, que o Expresso tem vindo a promover junto de várias individualidades da sociedade portuguesa, entre as quais se contam, por exemplo, João Soares, ou Maria de Medeiros, ou mesmo Nuno Delgado. Nesse inquérito consta uma questão quanto à concordância do entrevistado sobre os casamentos homossexuais. Todos até agora, sem excepção manifestaram a sua concordância. Trata-se de uma iniciativa de louvar do Expresso, o jornal que mais “forma”, ou “deforma” (conforme a perspectiva) opinião em Portugal. E trata-se de fazer exactamente aquilo que deve ser feito num momento prévio ao lançamento de qualquer iniciativa legislativa, um debate com a criação de consensos, com a participação de personalidades, as quais, independentemente, das suas orientações sexuais, exprimem a sua concordância com a matéria e põem o “Zé Povinho” a pensar: «Alto lá! Se o Nuno Delgado, o Judoca concorda, porque não hei-de eu concordar? Ele até é muito homem!».
Parabéns ao Expresso pois, e esperemos que Espada e sua entourage continuem distraídos…
O Expresso desta semana traz-nos, ainda, outra informação interessante, o facto de João César das Neves ir responder em tribunal, num processo que lhe foi levantado pela Opus Gay, por um dos seus inenarráveis textozinhos, em que equiparava a homossexualidade à pedofilia. Afinal, não está este senhor constantemente a apelar à responsabilidade? Vamos lá a ver se o Juiz, a quem vai calhar este caso, não é ele também um “Abominável Homem das Neves” (o que é o cenário mais provável).
Engripado como a campanha
Estou engripado. Tenho febre e, por isso passei o final de sexta e todo o sábado de cama. Foi concerteza uma consequência do meu estado febril o ter nestes dias julgado ouvir e ver algumas coisas: coisas como Lopes a afirmar que Cadilhe era Ministro no seu próximo governo numa entrevista em que Judite de Sousa demonstrava o quão inexistente pode ser o nível de isenção e imparcialidade de um jornalista; ou ver um outdoor de Nobre Guedes, fazendo novamente um aproveitamento populista e demagógico de uma matéria séria como é a do destino que se deve dar aos resíduos industriais perigosos; ou, ainda, Helena Lopes da Costa a debater com Vital Moreira na SIC Notícias (mas esta gente não se enxerga?!?) e a claro está a ser "desmascarada" não só na sua pouca inteligência, mas também na sua "residual" competência.
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Visto na Avioneta Malabarista, que por sua vez viu na Praia
casamento
(imitando José Hermano Saraiva)
E foi AQUI, nA Praia, que finalmente alguém tomou uma posição política igual à minha a propósito do casamento. Tal como o Ivan, também eu “estou à direita de Santana Lopes” e também eu “vislumbro na posição de Santana Lopes sobre o casamento entre homossexuais um permissivismo que ainda me inquieta.” Não basta proibir o casamento entre homossexuais, “chegou a hora de proibir o casamento tout court”.
Escravo Doutros
A KARNART C. P. O. A. A. decidiu repor o espectáculo ESCRAVO DOUTROS dada a grande afluência de público e o interesse geral nesse sentido manifestado.
REPOSIÇÃO DO ESPECTÁCULO
11, 12, 13, 17, 18 e 19 de Fevereiro 2005, 22.00h
ESPAÇO KARNART
KARNART- Criação e Produção de Objectos Artísticos, AssociaçãoRua da Escola de Medicina Veterinária, 21, 1000-127 LisboaTel. 213 152 192 Fax. 213 152 192
O debate
Começando pelo fim, acho que Sócrates ganhou o debate. Mas não o ganhou por KO e até evidenciou algumas fragilidades que me surpreenderam, as quais terão tido a ver, em parte, com o formato negociado para o debate.
Assim, se é certo que Sócrates demonstrou assertividade, preparação e, acima de tudo, credibilidade, não é menos certo que não conseguiu prender suficientemente Lopes ao fracasso das políticas do Governo e, em especial, das trapalhadas dos últimos 4 meses. Acabando Lopes por conseguir transformar o debate numa apresentação das suas propostas para os próximos anos, em vez de uma explicação dos últimos 4 meses.
Se, por um lado, compreendo a importância de o PS apresentar propostas concretas para o futuro, muito embora os debates não sejam os locais mais adequados á "explicação" de matérias complexas de engenharia financeira que a maioria dos portugueses não entende; por outro, não revelou acumen o facto de Sócrates não ter insistido em relembrar os portugueses a forma como os professores não foram colocados este ano, ou a maneira como a descentralização de ministérios se transformou em deslocalização de algumas secretarias de estado e os custos que isso acarretou, ou, ainda, a forma como eram prometidas medidas e o facilitismo e pouco estudo por detrás da grande maioria delas (nomeadamente a proposta da criação de um cartão de utente do serviço nacional de saúde, para conter informação quanto ao pagamento das taxas moderadoras diferenciadas, ou, ainda, o passe social tão mais caro quanto o rendimento declarado no IRS).
Para a história da noite ficam ainda as propostas muito "fashion" de Lopes sobre a colocação de idosos pobres a fazer formação profissional, ou, ainda, a formação de jovens para o artesanato, demonstrando uma crescente dissociação da realidade.
Por último, um comentário ao começo do debate e à questão dos boatos e dos casamentos homossexuais. Aqui Sócrates esteve bem ao encostar Lopes às cordas quanto à forma como ele tem conduzido a campanha, a falta de nível da mesma e, ainda, sobre o facto de Lopes estar a querer trazer assuntos que, nem estão na ordem do dia, nem tiveram o debate necessário e maturação adequadas na sociedade portuguesa.
Por outro lado, no entanto, Sócrates perdeu a oportunidade para reafirmar a fidelidade do PS aos princípios da Liberdade e do respeito e protecção da diversidade, princípios aliás que constam da Constituição Europeia e que um número crescente de países europeus acolhem. Tendo sido a primeira vez que o assunto dos direitos lgbt foi debatido em campanha eleitoral pelos dois principais partidos, Sócrates perdeu uma oportunidade de entrar para a história, mas talvez tenha ganho São Bento.
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
O levantamento popular de um Ministro "Popular"
Nobre Guedes, o ainda Ministro do Ambiente, o mesmo que apesar de já ter ameaçado bater com a porta depois de estar demissionário continua a afiançar que leva até ao fim o concurso para o tratamento dos resíduos industriais e, assim, espera amarrar o próximo governo à sua solução, teve hoje a original ideia de apelar a que os cidadãos de Coimbra impeçam Sócrates de lá entrar. É de facto original ser um ministro, que até agora até tem tentado transvestir-se de cordeiro, a solicitar um levantamento popular. Fico curioso quanto ao que dirá, sobre isto, o seu colega de Governo da Administração Interna?
(in Economist)
Será que Hillary Clinton e o Partido Democrata encontraram finalmente o caminho para rebater a retórica "ensopada em Deus" (God drenched rhetoric), expressão de Peggy Noonan, autora da maioria dos discursos de Reagan, de que os Republicanos tanto abusam?
Os Democratas, liderados por Hillary, querem mudar o foco dos políticos religiosos dos casamentos gays, ou do aborto, para incidir mais sobre o combate à pobreza ou à guerra: "Jim Wallis, who has the rare distinction of being both an evangelical preacher and a Kerry voter, points out that the Bible has 3,000 references to alleviating poverty."
Será este o bom caminho? Mais importante ainda, não implicará este caminho cedências noutros temas, que podem implicar um retrocesso civilizacional com a consequente perda de direitos?
Abdsolutamente imperdível...
...esta entrevista de Alain Minc a Teresa de Sousa, no Público de hoje.
Imperdível pela forma "francesa" como se pronuncia sobre alguns temas, ora com condescendência ( "Mas quem haveria de pensar há quinze anos que Portugal estaria hoje no primeiro círculo europeu? Vocês nem sequer se dão conta do que conseguiram."), ora com acutilância ("O vosso primeiro-ministro gostaria de ser Berlusconi mas não tem nem os instrumentos, nem o talento, nem o "savoir-faire". Se um Berlusconi bem sucedido é, já de si, perturbador para um velho democrata, um Berlusconi que falha é ainda mais perturbador. Embora tenha a vantagem de ser passageiro.").
O "Polígamo"
Santana cobiça Lisboa, piscando o olho à outra, a Belém
Ao que consta Santana preparar-se-á para um regresso a Lisboa, qual Regresso da Múmia, cenário primeiro da sua inepta gestão. Cabe-nos a nós Lisboetas suportar estoicamente as consequências do facto do resto do país já não o querer "aturar". E assim lá irá ele voltar à "sua" casinha com piscina em Monsanto, com vista para o Tejo, onde perdido em pensamentos sobre o que poderá fazer a seguir para se aproximar de uma outra casa rosa, também com vista para o Tejo, passará, como tudo indica, um último Verão, como líder, na capital.
Cocktail Nacional: Cartas do Casal Portas e Bagão; Barreto e o país das maravilhas; porque se calam os Barões do PPD; uma boa opção de Sócrates
- Soubemos hoje que os Ministros Portas e Bagão usaram a base de dados do Estado, com a lista dos cerca de 400 mil ex-combatentes contemplados com os 50 cêntimos de complemento nas suas reformas, e enviaram-lhes propaganda política do seu partido PP. Em qualquer outro país já teriam tido, no mínimo de se explicar, ou então arrepiado caminho, reconhecendo, de caminho, a grave falha de ética dos Ministros, os mesmos que querem poder viver as suas religiões na praça pública, mas que pelos vistos são pouco praticantes da ética que essa mesma fé postula para estas situações...
- O sociólogo Atónio Barreto defende que, como para ele é indiferente que o candidato a primeiro ministro seja homo, ou heterossexual, que os mesmos deveriam revelar as suas orientações sexuais, achando, ainda, não obstante, que têm o direito de recusarem essa divulgação. Interrogo-me sobre em que realidade é que viverá Barreto, já que o país em que ele vive conhecemos muito bem, pelo que todos sabemos o que aconteceria no minuto a seguir a estes coming outs.
- Apesar da parangona de hoje, continuo a não ler, nem ouvir quase nenhuma dissidência por parte dos Barões e outras cabeças bem pensantes e influentes do PPD. Acho que aqui, com as excepções de Pacheco Pereira, ou de Miguel Veiga, os dirigentes do PPD, que sabemos devem sentir-se "desconfortáveis" com o rumo dos acontecimentos, ainda esperam para ver se Santana acaba na mó de cima, ou de baixo, para então avançarem, ou não; algo que também diz muito sobre a qualidade das figuras.
- Uma boa opção esta de Sócrates de não aproveitar a familia e filhos em campanha (mesmo que o beneficiasse em termos de votos), mas afinal não deve ser esse um dos primeiros corolários da Républica?
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Mutatis mutandis não se deveria aplicar o mesmo à sexualidade?
Paulo Portas, sublinhou o valor da tolerância religiosa e a importância da religiosidade "vivida no espaço público", após visitar a Sinagoga e a Mesquita Central de Lisboa.
O líder do CDS-PPs (...) Com estes encontros, disse pretender "dar um sinal" de que "nas sociedades liberais a liberdade religiosa é absolutamente fundamental" e destacou a "tolerância religiosa". A firmeza dos valores não é incompatível com a tolerância com que encaramos quem não pensa como nós", reforçou o líder democrata- cristão, defendendo depois que "a religiosidade deve ser vivida no espaço público" e não na "clandestinidade".
"Há uma tendência de um certo jacobinismo, a meu ver ultrapassado, para respeitar as religiões, mas pretender que estas sejam vividas numa certa clandestinidade", afirmou, embora sem especificar a quem dirigia a crítica.
Questionado sobre o nível da campanha, Portas disse, citado pela Lusa, pretender transformá-la "numa campanha de causas" e não de "episódios".
3 preservativos por ano...
Segundo a ONUSIDA, na África sub-sahariana, cada homem tem (em média) acesso a 3 preservativos, por ano.
Assim não vamos lá!
Ler "Em quem votar?" no Bloguítica
Tenho 36 anos. Nos 18 anos em que tive a possibilidade de votar, houve diversas vezes em que optei por não o fazer.
Desta vez, porém, as coisas são diferentes. Diria, sem exagero, que nunca na minha vida me senti tão motivado para votar como agora.Por duas razões.
Em primeiro lugar, porque eu quero correr com Pedro Santana Lopes do mapa político. Nesse sentido, quero ter a minha consciência tranquila para poder dizer que fiz aquilo que pessoalmente tinha de fazer, i.e. cumpri o meu dever cívico e votei.
Em segundo lugar, porque eu não quero que José Sócrates tenha uma -- uma única -- desculpa.Uma maioria absoluta é um cheque em branco?Estou-me nas tintas se é em branco, visado, ou careca.
O que eu não quero é desculpas. Se tiver maioria absoluta e não conseguir governar de forma competente e eficaz, então daqui a quatro anos cá estarei para cobrar a factura.
Faz hoje 35 anos que morreu Bertrand Russell, como aliás muito bem assinala o Random Precision. Talvez seja altura, portanto, de se começar a reconhecer a importância e capacidade de influência de Ottoline Morrell na vida e trabalho de Russell.
Ainda sobre exclusões e formas de tratamento das notícias pelos media
Lido no Spectator da semana passada:
Diary, Veronica Wadley
The legendary Daily Mail editor David English had a point: would you buy a paper with the headline ‘Hollywood actress returns home to her own bed’?
terça-feira, fevereiro 01, 2005
Ficámos hoje a saber que para
Silva Pereira (que acabo de ver no Frente a Frente da Sic Notícias com Guilherme Silva), estrela ascendente neste PS Socrático, a infâmia da insinuação de Lopes no célebre comicio de Braga é dupla: por um lado é uma infâmia porque marca um precedente de ataques pessoais em política; mas por outro, e esta é a "melhor parte", é uma infâmia porque ela é falsa.
De facto a nossa Constituição pode evoluir até por cambalhotas, que estes nossos constitucionalistas e cientistas políticos (áreas que Silva Pereira lecionou) estão-se pouco marimbando.
O Menino Esquizofrénico
Não sou especialista em patologias do foro psiquiátrico, no entanto, sempre ouvi chamar esquizofrénico às pessoas que tinham uma certa dissociação da realidade, ou então que não sabiam ter feito, o que tinham feito, ou, ainda, aos que estam convencidos de sucessivas conspirações que os visam.
Depois de ter ouvido Lopes culpar tudo e todos pelo embargo das obras do túnel do Marquês, menos um lapso dos serviços que ele próprio tutelava; ou dizer que não ia atacar o PR pela decisão de dissolver a AR e depois atacar repetidamente; ou então, este último caso, em que ele é estrela principal num comicio em Braga, donde saem um chorrilho de asneiras e insultos (algo em que o anti-elitista Menezes também ajudou) e lançamento torpe de boatos sobre a vida íntima de outros candidatos, vem agora Lopes manifestar a sua surpresa e indignação por uma putativa reacção do PS às mesmas, porque alega ele que nunca, em política, faz acusações pessoais...não vos dá isto a ideia também que o senhor poderá sofrer de uma qualquer forma de esquizofrenia?
Adenda: sobre este assunto ler "Da Duplicidade" no Portugal dos Pequeninos
Painel do PPD muito bem "apanhado" pelo repórter Jumento, o qual pergunta se não estará Morais Sarmento a coordenar a colocação de cartazes?
Esta intenção anunciada
preocupa-me. É que não vejo Sócrates a reagir como devia reagir: por um lado, com indignação pelo levantar de questões que não devem ter lugar numa campanha eleitoral; mas, por outro, também com uma tomada de posição firme condenando a intolerância e homofobia que lhes estão subjacentes.
E, como já aqui escrevi várias vezes, Portugal precisa de políticos convictos, sem se preocuparem constantemente, nem com sondagens, nem com a aritmética rigorosa dos votos que as convicções podem custar, ou conquistar.
Breves momentos de luz e claridade numa tarde passada sem luz, nem claridade
No céu, o infinito
do Amor e Ódio
sem rasgos, nem hesitações
em pleno, como numa praia
a olhar o mar.
Aquele que está para ali no "desacato"
que nem é gato, está babado
tropeça numa lata, com uma beata lá enfiada
e segue, olhar turvo, língua molhada
uma mão na algibeira enfiada
e uma trôpega passada.
Alta, esguia, sinuosa
olha, com a vertigem dos tacões altos
a sala, que indecisa
entre os folhos da mini saia
e a perna que se lhes segue
aguarda aguada a vez para segurar no micro.
uma outra forma de exclusão
quem não aparece na TV ou na comunicação social não existe
No fundo, só existe o que se apresenta nos média e, nomeadamente, na televeisão. É o espaço exclusivo, prepotente, despótico da presença pública. Quem lá não entra tende a desaparecer da vida pública (e, nesse sentido, não somos nós todos uns potenciais desaparecidos da vida pública?). Mas, quem entrar tem a sua existênci pública assegurada (mesmo que precária, durante "um quarto de hora de eternidade").
in Portugal, hoje - O medo de existir de José Gil da Relógio d'Água