segunda-feira, janeiro 31, 2005

Estaria João César das Neves a pensar em Paulo Portas e no seu "Choque de Valores"...

...quando escreveu o texto, cujo excerto segue mais abaixo? Ou estaria, ainda, recordado de um dos últimos comicios de Lopes (o mesmo que, segundo Louçã, parecia uma "despedida de solteiro")?

Fica a incógnita.

A finalidade da vida é o prazer e o seu instrumento a ficção. Paixão, gula e luxúria são valores de publicidade, programa de partidos, elementos de educação. As bandeiras de campanha são aborto, tabaco, homossexualidade, colesterol, droga. Só há uma coisa sagrada, a sublimidade do deleite. Tudo o resto - família, comunidade, honra, tradição, valores - é relativo, discutível, ridicularizado.

Esta atitude sempre existiu. Nas orgias. Hoje é doutrina oficial. Diariamente assistimos à exaltação pública do deboche por empresas, analistas, investigadores, candidatos. Um indicador claro é que, num tempo que opina sobre tudo e ofende sem dificuldade, um único adjectivo está em desuso, precisamente o que sempre classificou os meios lascivos. Pode-se chamar tudo a todos, menos "porcalhão".


Eleitores Iraquianos esperam a sua vez para votar em Sadr City, foto de Chris Hondros/Getty

Este fim de semana foi histórico para os Iraquianos. Pela primeira vez na sua história puderam votar, ainda que sob um clima de medo e terror. E no entanto, apesar da relativa calma com que este processo correu ("só" morreram cerca de 40 pessoas), fica no ar uma sensação de artificialidade (ideia que também passa se compararmos a atmosfera e participação neste primeiro escrutínio com o que se passou no Afeganistão, ou, mais recentemente, na Ucrânia) em todo este "processo" de democratização, que nos faz interrogarmo-nos sobre se este sistema de eleições pluripartidárias irá sobreviver a uma retirada militar americana, ou mesmo se o exército americano poderá alguma vez retirar do Iraque? Ou, pior ainda, se esta democratização irá sobreviver aos Iraquianos?

Mais um a "embirrar" com o Guerreiro Menino

O comissário europeu de Economia e Finanças, Joaquín Almunia, considera provável que Portugal tenha violado os limites fixados pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) de um défice público inferior a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), noticia esta segunda-feira a revista alemã Focus.

apesar dele gostar dos "bons" colos a "coisa" em vez de dilatar, encolhe

Anti semitismo na Europa?

Estas declarações irritam-me:

One Auschwitz survivor, Elie Wiesel, told a conference in Brussels last year that European Jews were living in fear. “Don't say they are paranoid, they are not. They are simply realistic,” he said. Charles Krauthammer, a columnist, wrote in the Washington Post in 2002 that “in Europe, it is not very safe to be a Jew”, adding that “what is odd is not the anti-Semitism of today but its relative absence during the past half-century. That was the historical anomaly.”
(The Economist, 27 Janeiro)

Irritam-me porque denotam uma tentativa, por parte de alguns Judeus e seus simpatizantes, de, por um lado, empolar uma realidade que está longe de ser como eles a descrevem e, por outro, denota uma tentativa de mentira que não deve ser aceite. É que estas pessoas sabem muito bem que a maioria, senão a quase totalidade, dos ataques anti semíticos registados na Europa, são feitos por cidadãos de origem árabe, ou muçulmana (os quais perfazem menos de 5% da população europeia) e não são minimamente representativos do que as sociedades europeias pensam sobre a matéria. O que não significa que os governos europeus não tenham de fazer um esforço adicional de policiamento destas comunidades de atacantes.

Depois de tanto gritarem: «-Lobo! Lobo!», de cada vez que um imigrante Argelino atacar uma campa Judaica, ou de cada vez que a União Europeia emitir uma nota critica da actuação do Governo Israelita, não se admirem que, no futuro o epíteto de "anti-semita" perca a carga negativa que deveria sempre ter.

Vale a pena ler o texto, reproduzido abaixo do Random Precision, e que descobri linkado no Portugal dos Pequeninos

"Falar-se de casamento entre homossexuais (com esse ou com outro nome) traz necessariamente à baila um tema inequivocamente relacionado, mas muito mais polémico: a adopção de crianças por casais homossexuais.
Aqui as opiniões dividem-se e extremam-se, tanto quanto são inevitavelmente influenciadas mais pelas paixões que lhe são subjacentes do que pela razão a que deveriam obedecer. De ambos os lados da “barricada”, diga-se de passagem.

Quando se fala na eventualidade de uma criança, digamos, de 8 anos, ser adoptada por um casal homossexual imediatamente vemos nos olhos do nosso interlocutor uma fervilhante imaginação a funcionar: um lar composto de dois homens, que dormem juntos na mesma cama, que se beijam, que trocam carícias e onde até um deles, diz o estereótipo, “desempenha o papel” que normalmente caberia à mulher. Tudo isto à frente da pobre criança.
Aqui aparecem as primeiras opiniões contrárias: claro que a criança tem de ser resguardada de tudo isto. Desta “anormalidade”, dirão uns; desta “aberração”, dirão ainda outros.

Claro que, em sentido contrário, existem argumentos igualmente válidos: que considerar a homossexualidade uma “anormalidade” ou até mesmo uma “aberração” é um preconceito estúpido e medieval, que não faz qualquer sentido.
E isso é um facto!
E pergunta-se ainda: mas “resguardar” a criança de quê? E porquê? Qual é o mal de uma criança ser educada num lar onde há harmonia, amor, conforto material e psicológico? Não será tudo isso o que se deve desejar na educação de uma criança, ainda que provenha de duas pessoas do mesmo sexo?

A isso ouve-se esta resposta: mas é que a criança tem de ser educada com valores e referências de masculino e feminino, de homem e mulher, tem de estruturar a sua personalidade de acordo com modelos parentais normais, o que certamente não lhe é proporcionado por uma educação entre homossexuais. E ainda por cima a criança era muito bem capaz de ser gozada e apontada a dedo na escola.

É então que ouço retorquir: quer isso dizer que deveremos pura e simplesmente retirar as crianças às mães solteiras e divorciadas? Ou às que ficam viúvas?
É que nesses lares, então, as crianças também não têm referências de masculino e feminino. E ainda por cima não vêem trocas de carícias como uma coisa normal, pois nem sequer a elas assistem.
Como estruturarão eles a sua personalidade? Que modelos parentais e referências de normalidade vão ter?
E quanto ao gozo na escola, quer isso dizer, também, que devemos retirar as crianças aos pais se um deles esteve preso? É que isso também pode ser motivo de chacota na escola!

Ah, responde-se: mas essas referências podem ser obtidas noutros locais, na escola, nos avós, etc. E mais: essa referência, mais do que física, é principalmente psicológica.Pois! Do mesmo modo que se o casal fosse homossexual. Ou agora isso já não vale?...

Mas, ouço insistir: se a criança crescer entre homossexuais, não estará ela sujeita a vir a ser homossexual também?
E surgem então os argumentos “finais”: e qual é o problema de a criança vir a ser homossexual?
Voltamos ao preconceito, é?
E onde é que está provado que a criança corra um “risco estatístico” de vir a ser homossexual?
E, ainda assim, será preferível que a criança continue numa instituição, onde tantas vezes não passa de mais «um número»?
E então não se discutem os lares onde o pai sova sistematicamente a mãe à frente dos filhos? E às vezes até deles abusam sexualmente? Isso é melhor que viverem numa casa de homossexuais?
E mais: se é pela educação que a criança recebe em casa que pode vir a ser homossexual, deverá então concluir-se que o maior perigo disso vir a acontecer deverá provir dos casais heterossexuais! Pois não são os homossexuais na sua quase totalidade criados numa família “normal”, pelo seu pai e pela sua mãe?...
Não será esta lógica irrefutável???

E a polémica não tem fim.E é então que começam a extremar-se os argumentos.

E já que aqui estamos, permitam-me os mais ferozes opositores da adopção de uma criança por casais homossexuais, também um argumento extremo:Imaginemos a tal criança de 8 anos. Agora imaginemos que a criança é tailandesa. E imaginemos que os pais, pela miséria mais extrema que se pode imaginar, a venderam por um punhado de arroz a um qualquer chulo de sucesso internacional, que a instalou numa casa de prostituição. E então a criança de 8 anos, a troco de meia dúzia de patacos que nem sequer vê, é várias vezes ao dia violada e seviciada por abjectos nababos europeus ou americanos, que se babam pelos cantos da boca quando vêem crianças desta idade, e que à vezes não vão à Tailândia senão para isso.Imaginemos agora um casal de homossexuais, digamos, portugueses: um engenheiro, outro médico e que vivem em Lisboa.
Querem adoptar a criança e levá-la daquele pardieiro onde está enterrada, daquela vida de miséria onde viverá não mais do que meia dúzia de anos, até morrer de inanição ou de SIDA

Quem pode ser contra esta adopção?

Quem defenderá que a criança está melhor na Tailândia que numa casa homossexual em Lisboa?

Mas isto é um caso extremo, dirão.Pois é! É extremo, mas é absolutamente vulgar!!! E sabem uma coisa? Não é preciso sequer ir à Tailândia para assistir a casos semelhantes!

Pergunto então: e que tal se nos deixássemos de extremismos?
E que tal se nos deixássemos de preconceitos?Defender liminar e dogmaticamente que se proíba sempre a adopção por casais homossexuais, não será um extremismo ou um preconceito, igualmente tão perigosos como defender que se autorize sempre a adopção por casais heterossexuais?Porque, antes de mais, é preciso que fique bem ciente de que aqui não se trata de defender os direitos dos homossexuais:
- O que está aqui em causa são os direitos das crianças!!!

Então, porque não dar sempre ao problema da adopção de crianças uma solução que passe pela análise de cada caso, um a um?Que tal se antes de olharmos para o casal que a quer adoptar, olharmos primeiro para a criança?Porque não pensar simplesmente que a adopção de uma criança deve ser aceite se for previsível que "aquela criança em concreto", vai viver melhor, que vai ser alimentada, educada, estimada, amada, independentemente de o ser por uma família heterossexual ou homossexual?

Não será essa a «normalidade» que queremos, e que defendemos para a tal criança de 8 anos? "

A Campanha Sarjeta (II), na semana em que se assinalou o 60º aniversário da libertação de Auschwitz, o Jumento pergunta: AUSCHVITZ Á PORTUGUESA?

Para ler abaixo o referido texto:

"Poucos dias depois de se ter comemorado os 60 anos da libertação de Auschwitz Santana Lopes soltou a questão da homossexualidade no debate eleitoral, e as suas fãs não se cansaram de dizer que ali é que estava o macho. Mais um pequeno passo e os poucos que restam atrás desta alma penada da política portuguesa proponham que os políticos sejam identificados com as suas opções sexuais ou quaisquer outras informações que sirvam para desvalorizar adversários recorrendo à insinuação e difamação.

O Jumento sugere a esta gente que não perca tempo, que use a simbologia nazi; por exemplo, para os homossexuais o sinal usado era o triângulo cor de rosa invertido (...).

Importa lembrar que esta estratégia não tem nada de novo, já nas autárquicas de Lisboa a casa cedida pela CML a uma associação gay foi bem explorada. "

domingo, janeiro 30, 2005

A "febre de sábado à noite" tão bem detectada pelo Causa Nossa

Malraux-Portas

Em entrevista ao Diário de Notícias, Luís Nobre Guedes afirma que Paulo Portas é o Malraux português. Falta apenas a PP ter combatido pelos republicanos na guerra de Espanha, ter escrito a «Condição Humana», ter realizado «L?Espoir» e ter sido ministro da Cultura do general De Gaulle. Como contrapartida biográfica no mesmo terreno, uma originalidade: as manchetes politicamente assassinas do «Independente». Descubra as diferenças...

A Campanha "Sarjeta"

A campanha segue o seu curso, um curso que qualquer pessoa que conheça minimamente o Senhor Lopes, sabe só pode ser este (em artigo da Ana Sá Lopes), tão bem descrito pelo João do Portugal dos Pequeninos aqui também.

Por isso também não é de admirar que Lopes e aqueles que o têm vindo a aconselhar se lembrem agora de levantar a bandeira da possibilidade da legalização dos casamentos homossexuais e consequentes adopções por casais do mesmo sexo, procurando atirar esse suposto "odioso" ao PS. Importa aqui fazer uma clarificação. Encontro-me entre aqueles que acredita que, mais cedo, ou mais tarde, até por imperativo comunitário haverá uma crescente protecção dos direitos das minorias sexuais e, até concessão de novos direitos e extensão de outros aplicáveis aos heterossexuais, independentemente do que os líderes indígenas (indigentes) façam, ou protestem fazer. Também acho que esta evolução, para a qual nós podemos e devemos contribuir é facilitada por uma discussão na sociedade Portuguesa em geral e por um maior activismo lgbt, que seja mais visivel, criativo e que saiba chegar aos correctos opinion makers nacionais. Essa discussão e debate tem de ser promovida, quer pelos vários grupos lgbt, quer, em especial, pelos partidos e grupos de interesses que neles militam do chamado bloco central, os únicos partidos com capacidade decisória e representatividade suficiente para promover alterações a este nível. Ou seja, isto não vai lá, nem com o Bloco, nem com os Verdes. Por último acho que não é necessariamente homofóbico defender outras soluções jurídicas para os casais homossexuais, que não o "casamento".

Dito isto, é óbvio que Lopes e os seus conselheiros olharam um pouco para a campanha do Bush e acham que, à semelhança da América profunda, o país real ainda é capaz de grandes saltos mobilizadores se posto perante uma questão tão "fracturante" como esta e aparecer em catadupa, qual tsunami descontrolada a votar no Lopes para defender a "Familia" tradicional. O único problema aqui é que nem Lopes é Bush, nem os "crentes" nacionais são os religiosos Americanos.

sábado, janeiro 29, 2005

BBC


o documentário que passou na Dois ontém à noite sobre os músicos dos campos de concentração. Muito bom.
A unique tributeWorld-class musicians perform on location at the concentration camp of Auschwitz-Birkenau to mark the 60th anniversary of its liberation Holocaust – A Music Memorial Film From Auschwitz

Visto ontem

Amor, traição
Amor, ciúme
Amor, loucura:

Medea

Uma ópera equilibrada, da qual saímos, não obstante, com a sensação de ter faltado algo na sua componente musical. No final, acabou por saber a pouco. De ressalvar, ainda, a prestação de Dimitra Theodossiou.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Depois do Princípio do Contraditório, o Princípio do His Master's Voice?

Depois de Marcelo, Freitas? E esta gente não aprende?


Pedro Proença para o fim de semana

Uma questão que é urgente esclarecer: esteve o Primeiro Ministro de Portugal com dívidas ao fisco até há dois dias atrás?

Para ler também o Outdoor do Jumento sobre este assunto.

Les enfants sont terribles

A Juventude Socialista comprometeu-se, ontem, a, entre outros temas chamados fracturantes, lançar, na próxima legislatura, a discussão em torno do casamento homossexual, bem como a promover a rápida regulamentação da legislação das uniões de facto, cuja ausência esvaziou de facto aquela lei.

Não obstante, o porta-voz da JS apressou-se a clarificar que este conjunto de medidas e propostas não vinculava a direcção do partido. Ou seja, isto só irá lá quando vier, ou estiver para vir uma Directiva comunitária provocada pela necessidade de harmonização de legislação europeia nesta matéria e pelas dificuldades práticas de aplicação de direitos reconhecidos num ordenamento e negados noutro.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Um excerto do Second Coming de Yeats, porque hoje é dia de memória e porque o mundo vai assim, com uns indignados, outros predadores

...somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant birds.

A Crise segundo Pacheco Pereira

"Não sei, e só se saberá na análise dos resultados do voto, se esta crise é estrutural ou conjuntural, mas os sinais de uma crise de representatividade estão à vista de todos, numa campanha sem emotividade, sem esperança, em que a abominação do presente se faz sem verdadeira motivação para a mudança. "


Foto Jockel Finck/AP

Hoje assinalam-se os sessenta anos da chegada, pelas 5 da manhã, das forças soviéticas a Auschwitz: o maior e mais terrível segredo do regime nazi.

Hoje, como então, sentimo-nos obrigados a um exercício de introspecção e interrogamo-nos: Como foi possível? Como foi possível, especialmente, que seres humanos, capazes de demonstrarem sensibilidade para apreciarem música, poderem, antes e depois de a ouvirem, matar civis inocentes de forma industrial e premeditada? (George Steiner interrogou-se muito sobre este dilema no seu livro "In Bluebeard's Castle"no capítulo A Season in Hell)

Depois, passados 60 anos desde a macabra descoberta, tentamos retirar lições, as quais continuamos a não conseguir assimilar e tornar em actos, veja-se Darfur, ou o Cambodja, entre outros "casos" que ensombram a nossa história recente, daí a importância de lembrarmos o extremo da preversão do poder.

Adenda: Ler também AUSCHWITZ 60 ANOS DEPOIS no Jumento

A Lambisgóia

Paulo Portas ontem, na sua 34ª visita às OGMA, nas últimas duas semanas, declarou que não fazia quaisquer comentários político-partidários enquanto estivesse em funções típicas de Ministro da Defesa. Não se pode de facto deixar de achar graça ao desplante da lambisgóia. É que esta 34ª visita às OGMA, para anunciar pela 34ª vez também a criação de x empregos e da suposta salvação das OGMA (que já parecem a história da central de compras do Ministério, que teve até honras de separata em jornais vários) só serviu para fazer campanha, e para, mais uma vez, passar uma imagem de Portas que não pode estar mais longe da realidade: a de um homem de Estado, à qual ele teima em se colar.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Kit Mãos Limpas




Parece-me apropriada a divulgação deste Kit Mãos Limpas, numa altura em que a Abraço organiza um debate com os partidos sobre as políticas de prevenção, controlo e tratamento da infecção pelo VIH e da SIDA, o qual se realizará às 18h00 do próximo dia 30 de Janeiro, no Auditório da Biblioteca Museu República e Resistência, rua Alberto de Sousa, 10 A, em Lisboa.

Pronto, agora é só aparecerem.

Cartas de Amor, ou arrufos de namorados? A lambisgóia

Acaba de se saber que Morais Sarmento escreveu uma carta ao PP, tentando recordar aos Populares o acordo celebrado entre ambos e dando-lhes um puxão de orelhas por causa dos sucessivos episódios contorcionistas de Portas, o qual tenta, a todo o custo, evadir-se à sua quota parte de responsabilidade no que de mal correu neste governo, faz lembrar os arrufos de namorados, naqueles casos em que a namorada não está lá muito segura se o seu favorito é boa escolha, ou não. Ainda não conseguiu perceber se vai acabar casada com um quadro superior do BCP, ou com um vendedor de automóveis

Quanto mais depressa o PPD perceber isto, mais se poupa a esta humilhação constante da lambisgóia que é o PP.


What I Saw, de Joseph Roth (autor de que aqui já falei) mostra-nos um Roth diferente, na sua pele de correspondente em Berlim, numa época em que a cidade se preparava para o pior, mas em que se respirava não obstante a atmosfera que tornava Berlim uma das metrópoles mais interessantes da época.

Para ler aos poucos, saboreando o estilo de escrita e sentindo saudades de um tempo que nunca vivi. Transcrevo abaixo uma passagem em que Roth escreve sobre os frequentadores de uns banhos públicos, género hamman, chamados os Banhos do Almirante:

"Another a fat man, who might be advised to borrow the equator from the earth as a belt for his dressing gown, looks on with a grimly sadistic expression, until he starts to feel the chill and has to take himself to the hot pool to recoup the calories that his Schadenfreude has cost him. Hed cautiously extends the tip of his right big toe into the water, but it's too hot for him. He would like to watch himself enter the water-only his belly isn't made of glass." (página 71)

Porque é preciso sabermos rir de nós próprios (MJ este é um recado para ti, por mim).

Uma boa escolha...




a de Paulo Teixeira Pinto para substituir Jardim Gonçalves à frente do maior grupo financeiro nacional, o BCP. Como o Público diz Teixeira Pinto é um outsider em relação ao BCP, o que pode evitar maiores lutas pelo poder, mas é para mim também uma lufada de ar fresco depois do ar "antigo" de Jardim Gonçalves e representa uma nova forma de estar, mais aberta, menos preconceituosa, mais liberal no bom sentido...


Menez, Sem Título, 1991

Ler o Bloguitica sobre o lapso no debate Louçã-Portas em: RETÓRICA SEM SUBSTANCIA

Sempre achei que a única virtude do BE em matéria de defesa dos Direitos LGBT era o de os trazer à discussão e forçar uma tomada de posição dos outros partidos, num assunto em que muitos prefeririam não ter de tomar posições. Paulo Gorjão, autor do Bloguitica, escreve o texto que segue abaixo, que eu não me importava de ter escrito...

"Entre as «[d]ez prioridades nos primeiros 100 dias para impor a mudança» não estão os direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgender (LGBT), contemplados nas páginas 96-7 do programa eleitoral do BE.Uma constatação óbvia: para o BE é mais importante, por exemplo, exigir a retirada da GNR do Iraque (7a medida) -- que, refira-se, já está programada -- do que defender os direitos da comunidade LGBT com a qual parte -- repito, parte -- do BE tem uma relação privilegiada.Como interpretar este facto?Muito claramente, o tema não é uma prioridade para a elite do BE. Na verdade, o BE quer os votos da comunidade LGBT (e, nesse sentido, faz alguma -- pouca -- coisa para os garantir), mas não considera a defesa dos seus direitos uma questão prioritária e que mereça particular empenho.O que explica este facto?A elite do BE tem clara consciência que uma posição mais activa nesta matéria muito provavelmente corresponderia a menos e não a mais votos. A defesa da modernização da Lei das Uniões de Facto e a alteração do Código Civil, tal como o BE defende (p. 97), seriam medidas relativamente consensuais. O que não seria absolutamente nada consensual é a pretensão da comunidade LGBT do BE de alargar a possibilidade de adopção a casais do mesmo sexo (p. 97). Logo, a elite do BE opta por não dar grande visibilidade a esta questão porque, muito provavelmente, o número de votos perdidos seria muito maior do que o número de votos ganhos.Interrogo-me quanto tempo mais demorará a comunidade LGBT a compreender que, no que se refere às suas aspirações, o BE não é nem pior nem melhor do que os outros partidos. Ou será que o BE está disposto a fazer deste assunto um tema realmente central na sua campanha eleitoral?"

O Virgem Negra (Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras), Mário Cesariny

É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.

O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
até não se poder nem deixar andar
para depois se sumir
E dar vontade de rir e d'ir urinar.

Isso eu o quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
»O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).

Também aquela do »outrora-agora» e do «ah poder ser tu
sendo eu» foi um bom trabalho
Para continuar tudo co'a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.

Nomeado para os Oscars


MR NELSON MANDELA'S ENDORSEMENT OF YESTERDAY
The Nelson Mandela Foundation is committed to raise awareness about HIV/AIDS. At the same time we are building strategic partnerships to facilitate and implement programmes that can make a difference. One such partnership is with Anant Singh and Videovision Entertainment. The script to the film YESTERDAY is truly inspiring, and we are delighted to have supported its production. YESTERDAY shows the commitment of the private sector to move beyond the conventional HIV/AIDS rhetoric, towards real action and active engagement with the pandemic and its devastating impact. YESTERDAY will also contribute to 46664, our global awareness campaign. The medium of film is one that effectively mobilises people from grassroots level, those that may be infected, through to corporates and international donors. We believe that the essence of YESTERDAY is that those who watch it will hear the message, see and grasp it, act on it and pass it on.
We plan to use YESTERDAY as a resource across in our Social Development Programme. The HIV/AIDS and Education projects will be able to allow communities to interact with the film, engage with the circumstances it presents, and with specific responses to the characters portrayed. We are confident that this will assist in spreading the message of prevention, caring for and supporting those infected and affected by the pandemic and most importantly highlight the need to remove stigma and discrimination.
YESTERDAY is an eloquent, unsentimental film that quietly builds an overwhelming emotional force.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Laicismo versus Religiosidades: um dos grandes combates do nosso tempo

Visto no Renas e Veados:
O papa acusa a Espanha de promover o laicismo para limitar a liberdade religiosa. (Público, versão papel).

É incrivel a total falta de racionalidade das posições da SMI (Santa Madre Igreja) que ora diz que os seus fieis e representantes não devem ser excluídos de certos cargos porque eles sabem separar a sua fé da sua acção política, ora dá opiniões, faz pressões e ameaças, ou tenta mover massas através dos seus fóruns procurando determinar a forma da organização da sociedade e do estado em que aquela se encontra inserida.

Claro que esta última é que é a verdadeira face da SMI: manipuladora; maniqueista; intolerante; e acima de tudo poderosa.

Ai os Jovens, ai os Jovens na versão "Portugal dos Pequeninos"

The show must go on.

O PS, ontem, pareceu ter acordado de uma certa letargia e desorientação e colocou o dedo na ferida do PPD ao dizer que a maior parte dos dirigentes daquele partido, estava mais preocupada em debater cenários pós derrota eleitoral e de sucessões e putativas lideranças, do que os problemas do país.

Só assim se pode explicar de facto a forma como Pacheco Pereira, ou Marcelo, ou Marques Mendes, entre outros, têm participado na política nestas últimas semanas. Será que quando eles apelam ao voto no PPD, não estão mesmo é apelar às bases do partido para os nomearem para líder a 21 de Fevereiro? E será que julgam que Lopes sairá com essa facilidade toda?

Qual será para Lopes a medida de um bocado?

O que significará para Lopes dizer que as criticas de Sampaio à forma como está a decorrer a campanha são um "bocado injustas"? Um bocado quererá dizer que 30% do tempo de campanha não tem sido dedicado às questões que realmente interessam? Ou quererá dizer 45%?

Será que ainda iremos ouvir Lopes dizer que o Presidente está a ser um "coche" injusto?


Jean-Antoine Watteau, Gilles e a sua Família (Sous un Habit de Mezetin), 1716

Carta do Porto

Um fim de semana no Porto, com a exposição de Paula Rego como objectivo. Vista a exposição, numa altura em que se conseguiam ver os quadros e não só os visitantes, estava na altura de rumar aos jardins de Serralves e admirar as vistas da cafetaria ao Sol.

Depois, fomos, sempre em boa companhia, rumo à Foz, onde nos misturámos facilmente na multidão heterogénea que enche a Foz ao fim de semana, entre as inevitaveis familias, a tribo fashion e a Teresa Patrício Gouveia agarrada ás saladas. A seguir foi seguir sonolentamente as sinuosas curvas da marginal de volta ao coração granítico da cidade e o descanso merecido no hotel.

À noite ansiosos descemos à Ribeira para nos refastelarmos no D. Tonho que continua a bem receber e a bem servir quem lá vai. Do D. Tonho tem-se uma das melhores vistas para Gaia, emoldurada do lado esquerdo com os ferros da ponte D. Luís. E que jantar foi, desde os pratinhos com que a mesa já estava decorada, até aos pratos que cada um escolheu tudo um requinte a convidar a uma conversa demorada, pontuada pelo vinho, pelo amor e pelo bem-querer.

Continuámos a noite que já ía gelada com o chamado "constitutional" seguido do sono inteiramente merecido, não dos justos, mas simplesmente dos cansados...

ver ao pé os sinos na estrela



Quando desceram ficaram por uns dias no chão e agora estão de volta.
vale a pena passar por lá para admirar estes instrumentos musicais.
PS - a foto não representa os sinos da estrela

segunda-feira, janeiro 24, 2005

A propósito do debate Portas-Louçã

Já muito se escreveu, discutiu e aproveitou acerca do polémico suposto deslize de Louçã. Seguem-se dois exemplos abaixo do Blogg Causa Nossa, por acaso em sentido contrário. Quanto a mim, Louçã errou, não obstante ter errado se calhar só por preguiça, por ser mais fácil naquela altura rebater mais aquele argumento falacioso e demagógico de Portas, daquela maneira, que é pouco pensada, ainda menos sofisticada e típica da forma de funcionar de certas correntes políticas, que por extremas tantas vezes se tocam.

Vital Moreira sobre o debate Portas-Louçã na Causa Nossa

"Concretamente, existirá alguma contradição moral entre ser contra a despenalização do aborto e ser, por hipótese, homossexual? Um homossexual não poderá adoptar uma moral reaccionária nessa matéria (e noutras)? A sua posição antidespenalização tornar-se-á inadmissível só por causa da sua orientação sexual? Por mim não vejo nenhuma incompatibilidade moral entre as duas coisas. Os homosexuais não têm por que ser "liberais" noutras matérias."

E, em sentido contrário, Vicente Jorge Silva no mesmo Causa Nossa

"em abstracto, não me parece lógico nem consequente que um dirigente de um partido que perfilha ostensivamente uma ideologia hiperconservadora no plano moral se ache dispensado de ser coerente com ela em todos os domínios da sua vida privada. Ou seja: eu não tenho culpa de ele ser hiperconservador e utilizar uma suposta superioridade moral contra mim, se acaso infringe as regras fundamentalistas que me quer impor. Isso chama-se duplicidade -- e a duplicidade não pode ser acantonada, conforme as conveniências do dúplice, neste ou naquele campo específico das suas opções morais públicas e do seu comportamento privado."

Não é a "Campanha Alegre", mas sim "Tagarela", como escreve o Portugal dos Pequeninos

A CAMPANHA TAGARELA

Prossegue a campanha tagarela de Santana Lopes contra o mundo e as mais diversas galáxias. Marcelo, apesar de já ter dado um ar da sua graça, continua a ser displicentemente "o comentador". Se estivesse nas suas mãos, Santana não teria qualquer problema em correr com, por exemplo, Marques Mendes das listas. E Sampaio, uma vez que recebeu "o comentador", tinha agora a "obrigação" de chamar Sócrates para o "obrigar" a debater com ele. As aparições públicas de Lopes, quando não está a descerrar lápides atrás de lápides, começam a ser confrangedoras. Ao contrário do que ele pensa, o universo não gira exclusivamente à roda do seu umbigo. O PSD - não sei se lá dentro se aperceberam disto - joga a sua credibilidade para os próximos tempos neste carrocel solipsista e ensimesmado. Será que vale mesmo a pena?

sexta-feira, janeiro 21, 2005

baralharam (se) e voltaram a dar...

ou vira o disco e toca ao mesmo...

quinta-feira, janeiro 20, 2005


Jean-Antoine Watteau, A Lady in her Toilet Toilet), 1716

Bush acaba de tomar posse como o 16º Presidente Americano a conseguir um segundo mandato.

Para consultar, no Almocreve alguns links úteis sobre aquilo que os analistas prevêm para o segundo mandato do inimitável Bush.

Enquanto algumas vozes nos dizem que o segundo mandato vai ser mais conciliador que o primeiro, até porque os EUA não têm capacidade para se esticarem mais, outros dizem-nos que esta Administração pode estar prestes a embrenhar-se em mais outra operação problemática: invasão do Irão. Uma operação para a qual precisariam de auxílio internacional que não irão receber por terem perdido credibilidade após a forma como geriram o dossier Iraque.

E, no entanto, no seu discurso inaugural, Bush diz que vai continuar a levar a democracia aos países onde ela ainda não vigora...vamos lá ver como o vai fazer.

O melhor do cão polícia

é este senhor que dá pelo nome de Gedeon Burkhard e que hoje apanhei na televisão do café e...de repente o café ficou doce.

A Canção de Santana

Vale a pena lê-la até ao fim. Estava há dias, aguçado pelos telejornais que passavam excertos desta musiqueta, a tentar consegui-la, eis quando senão o Jumento a publica na íntegra:

«Guerreiro Menino (um homem também chora)», de Gonzaguinha, letra de Gabriel o Pensador.

Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura
Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
Que os tornem refeitos
É triste ver este homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito
Pois ama e ama
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E a vida é trabalho
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz

em vez de usar a planta...

os laboratórios farmacêuticos tentam a todo o custo encontrar medicamentos à base de canabinóides. E o custo é mesmo muito, muito maior do que seria se a produção da planta fosse autorizada.
Esta não é a primeira tentativa, o Marinol, já está no mercado.

Boucher Seductive Visions na Wallace Collection em Londres até 15 de Abril, ou mais uma razão para apanhar um voo da Ryannair


François Boucher, Marte e Vénus surpreendidos por Vulcan, 1754

Os autarcas e a bola

O Poder Local volta a estar em foco esta semana e, mais uma vez, pelas piores razões. Na mesma semana em que Mário Soares chama a atenção para algo que todos os portugueses sabem, ou suspeitam, o fenómeno da corrupção, desordenamento do território e outros dislates nas autarquias, Nuno Cardoso, homem de quem até tinha boa imagem, faz uma conferência de imprensa em que dispara a torto e a direito para se defender.

Uma pessoa até pode considerar "curioso" que esta operação do "apito dourado" se tenha cingido até agora a dois clubes do Norte e suas respectivas teias de interesses, mas seguramente mais importante que isso é o perceber se ainda assim houve, ou não lugar a ilícitos e ilegalidades por parte dos autarcas em relação aos "seus" clubes e dos clubes eles mesmos. Depois, logo se descerá para o Sul, ou não...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Parece que o futebol faz mal à saúde. Sendo assim não se poderia proibi-lo?

A Caixa

Sinto-me perseguido, acabei de perder um texto sobre a CGD, será que estou mesmo a ser perseguido pela Caixa?
Estava a contar que de cada vez que lá vou para tratar de algo vem-me logo uma enorme vontade de mudar logo de banco. E desta vez isso não mudou. Eu explico, fui até lá pedir que me renovassem o cartão de crédito, porque o meu está a caducar. Eles precisam da minha assinatura em dois sitios diferentes e mais uma cópia do meu IRS. De nada lhes serve receberem o meu salário todos os meses, ou conhecerem-me desde os 17 anos.
Resultado, para conseguir renovar o meu cartão de crédito são necessárias duas deslocações a uma agência. Isto, numa altura em que só se fala da reforma da administração pública, faz-nos lembrar que também no sector privado há problemas...

A não perder, a partir de amanhã no CCB


Helena Almeida e João Tabarra, dois dos candidatos ao prémio BESPHOTO.


Um soldado de Sua Magestade pratica a sua técnica de surf no Iraque.

Muito se tem escrito sobre a "especial relação" entre Bush e Blair. Mais ainda sobre a forma como Blair muda a sua postura, a sua forma de comunicação e até alguns tiques de cada vez que está ao lado do Presidente Americano. Tudo, segundo o próprio, em nome de uma suposta capacidade de influência da política do Texano, sem qualquer concretização até ao momento.

Não obstante esta proximidade, até física entre Blair e Bush, a generalidade da sociedade Britânica tem até agora cultivado uma cautelosa distância em relação à sociedade americana responsável pela eleição e reeleição de Bush, com uma opinião bastante hostil quanto à própria invasão do Iraque. Mantendo, ao mesmo tempo, um curioso "orgulho" quanto à acção no terreno das suas forças militares, as quais seriam mais humanas, melhor integradas e, logo, mais eficazes.

Esta é uma assunção que acaba por cair por terra com a divulgação destas imagens. Alguns cidadãos Britânicos interrogar-se-ão sobre o que levou os seus militares a imitarem os "broncos" americanos. A resposta, quanto a mim, não é fácil, mas claro tem a ver com a chamada "moral" das tropas que percebem estão a actuar num cenário de "excepção", que ameaça transformar-se a curto prazo num "atoleiro" igual ao do Vietname, numa operação de invasão cuja licitude é inexistente e cuja legitimidade levou outro rombo com a admissão de que não há armas de destruição massiva e que acaba por se repercutir na forma como as chefias e os seus subordinados se comportam.

Este será seguramente mais um sinal de que a tão badalada relação especial entre o Reino Unido e os EUA deveria ser revista à luz dos efectivos benefícios que resultam da mesma para o Reino Unido. Se calhar se os Britânicos sujeitassem este relacionamento a um crivo igual ao que é utilizado para a sua relação com a União Europeia, as conclusões poderiam ser surpreendentes, no sentido de perceberem que as vantagens resultantes da sua integração na UE são bastante superiores às que resultam da sua proximidade com os EUA.

terça-feira, janeiro 18, 2005

O Virgem Negra (Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras), Mário Cesariny

O Raul Leal era
O único verdadeiro doido do "Orpheu"
Niguém lhe invejassde aquela luxúria de fera?
Ivejava-a eu.

Três fortunas gastou, outras três deu
Ao que a vida não se espera
E à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
O único não-heterónimo meu.
.
Eu nos Jerónimos ele na vala comum
Que lhe vestiu o nome e disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
Dos extremos do mal a continuar-se.
.
Não deixou versos? Deixei-os eu,
Infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Trêtas da arte e da era. O Raul era
Orpheu.

Lido no Portugal dos Pequeninos:

UMA BOA NÃO PROMESSA


... de José Sócrates, a de que, com ele, não haverá lugar a candidaturas megalómanas à realização de grandes eventos desportivos entre nós, designadamente esse extraordinário delírio dos jogos olímpicos.

Orlando, Virginia Wolf

Um maravilhoso livro de amor e "aventuras", ao qual fui levado não só pelo estatuto de clássico, mas por uma descrição atraente feita por Lia Gama de um dos episódios do livro: a primeira paixão de Orlando, que é por uma princesa Russa e que cresce e solidifica da mesma forma que o Tamisa gela e se "vai" da mesma forma que o Tamisa degela.

Entre as muitas passagens de que gostei deixo esta:

"he was a nobleman afflicted with a love of literature. Many people of his time, still more of his rank escaped the infection and were thus free to run and hide or make love at their own sweet will. (...) It was the fatal nature of this disease to substitute a phantom for reality, so that Orlando, to whom fortune had given every gift - plate, linen, houses, men-servants, carpets, beds in profussion - had only to open a book for the whole vast accumulation to turn to mist. The nine acres of stone which were his house vanished; one hundred and fifty indoor servants disappeared; his eighty riding horses became invisible; it would take too long to count the carpets, sofas, trappings, china, plate, cruets, chafing dishes and other movables often of beaten gold, which evaporated like so much sea mist under miasma. So it was, and Orlando would sit by himself, reading, a naked man."

Páginas 52, 53, Penguin Classics

As novas travessias

Com estes anúncios estarão os demissionários ministros à espera que as pontes sejam uma passagem para a "outra margem"?


Fred Tomaselli Natural Selection, 2000

Depois das fraldas, os casais

Depois da conversa das fraldas ter levado ao que se viu ("É bom para o avô e para o bébé") vem a conversa dos beneficios fiscais para os casais. Eu interrogo-me, ainda mais? Não está já essa fórmula de organização social suficientemente protegida? Não haveria outras formas mais criativas e até talvez mais eficazes de pronover a natalidade, que é o que toda a gente no fundo quer.

Cocktail Americano

Há a registar, nos últimos dias, a condenação de um dos comandantes americanos responsável pelas atrocidades cometidas na prisão de Abu Graib em Bagdade, bem como as suas declarações à saída do tribunal de que não se arrependia de nada. Claro que aqui é caso para se dizer que só se apanhou o "peixe miúdo".

Depois há que registar a entrevista concedida por Bush, em que este levanta a hipótese de um ataque ao Irão (resta saber se feito por Americanos, ou pelos Israelitas) e em que ele, ainda, desvaloriza a questão da inexistência de armas de destruição massiva no Iraque, continuando por enfatizar que o Iraque estava hoje em dia muito melhor do que antes da invasão americana. Todas estas declarações regadas com uma boa dose de expressões faciais de desafio e teimosia típicas deste Texano. E o pior é que se começa a falar que em 2008 nos deveremos preparar para a tentativa de um outro membro do clã Bush de se candidatar à Presidência: o mano Jeb da Florida.


Morreu Zhao Zyiang



Para mim ele foi a "única" face humana de um regime brutal. E foi a "única" voz sensata a ter se ouvido durante um dos acontecimentos que mais me marcou e condicionou o desenvolvimento da minha consciência política: a revolta de Tianamen.

Há imagens icónicas que dificilmente esquecemos. Uma delas é, sem dúvida, a do jovem estudante chinês que enfrenta só um tanque, cujo condutor parece de repente ter ficado desarmado com aquela atitude. Também me recordo da imagem de Zhao a deambular entre aquela massa humana acampada naquela praça fria e infinita com uma estátua "votiva" à Liberdade e, nos seus olhos, nas suas palavras o sentimento de quem já só falava com fantasmas e de quem sabia que já nada mais podia fazer.


Ler os outros

Vale a pena ler o Briteiros sobre o "Caso do Embaixador Tsunami".

segunda-feira, janeiro 17, 2005

a fome a pobreza no mundo



pequenas coisas podem fazer a diferença, segundo o relatório da Nações Unidas:
eliminar as propinas escolares
fornecer refeições gratuitas nas escolas
distrubuir redes mosquiteiras tratadas com insecticidas às crianças dos países onde a malária é endémica
distribuir e ensinar a colocar preservativos
etc, etc
Os países ricos falam, falam mas não cumprem o prometido.

Os "Marrões"

Como é que é possível que Sócrates se deixe enredar e acabe a debater "detalhes", ou a fazer promessas dando uma imagem quase tão trapalhona, ou desesperada do PS como a que o PPD tem agora?

Quando é que os nossos líderes terão a coragem para assumir perante os jornalistas e fazedores de opinião que eles nem têm de saber de cor os números do PIB, nem o valor ao cêntimo do défice. Têm, isso sim, que saber ver como se estivessem no topo de uma colina, com visão de conjunto e convicções fortes quanto à direcção a seguir.

É que isto definitivamente não vai lá com "marrões"...

A não perder

A não perder hoje no serão da RTP1 um Prós e Contras sobre a actual situação política do país, com a presença, entre outros, de Mário Soares, Freitas do Amaral e Adriano Moreira.

Será como é óbvio uma boa oportunidade de matar saudades de um debate político à séria.

Vera Drake



"Vera Drake", um filme de Mike Leigh que os nossos políticos deveriam ver antes das eleições. Leigh conta-nos a história, passada nos anos 50 em Londres, de uma mulher, boa dona de casa, boa mãe de família, boa empregada e, até uma operação que corre mal, boa "abortista".

Alguns excertos de uma entrevista com Fred Tomaselli, pintor "psicadélico" de que muito gosto.




Chris Martin (Rail):
Rail: Theme parks, you mean like Disneyland?
Tomaselli: Yeah, I grew up next to Disneyland.
Rail: What a lucky kid. So was that a formative influence?
Tomaselli: Yeah. Going to Disneyland and then happening to go into a Bruce Nauman retrospective is a good indication of the dichotomous level of my formative growth (laugh). Also LSD had been a formative influence on how I saw the world. I was making these works based on theme parks with light trapping corridors that expanded into larger rooms. The subject of the works were their own artificiality and the mechanics of perceptual modification.
Rail: Which are very much theme in your paintings now.
Tomaselli: Yeah, what happened was the installation format seemed to have run its course and my work kept getting flatter and flatter, and I started thinking about the pre-modernist ideal of painting as a window into an alternate reality. I started seeing lots of comparisons between the utopian aspects of art and the utopian counter culture and also seeing the dystopic side as well. I felt that painting could be both a window and a mirror to the world. It's important to remember that I entered the art world as it was imploding into post-modernism and I was coming into the counter culture as it was collapsing into disco and cocaine. There was all this failure and loss of idealism and I was interested in digging through the rubble to see if there was anything worth keeping.
Rail: The art world was ruled by cynicism. Painting was discredited. You were coming in investigating utopias when everything seemed hopeless.
Tomaselli: Yeah, it didn't go well at first, which made me feel like I was on the right path. I really was pretty alienated from the art world discourse it seemed like so much arid theory for disembodied heads that had nothing to do with life. I didn't want to make art if it had to be like that.
Rail: When did you first collage actual drugs into your paintings?
Tomaselli: In 1989. It came out of my life experience. My friends were dying of AIDS and taking masses of pills. I mean at the time I started making this work drugs had morphed from agents of enlightenment and pleasure, to tools of survival. There was the rubble of the visionary quest that devolved into Studio 54 while the terror and enslavement of the crack epidemic raged through this crime ridden city I was trying to figure out if there was anything worth saving in all of that. That's sort of what got me into doing it and part of it was self consciously searching for a new way to make painting. I wasn't disregarding my own doubts but I was going ahead and doing it anyway. I was trying to put the contents of my personal life into the work in an attempt to talk about some thing bigger.
Rail: You first became acknowledge as guy that puts real drugs in his paintings. Did you ever find yourself in trouble for exhibiting marijuana and drugs?
Tomaselli: Not really. This isn't an attempt on my part to be transgressive or to push anybody's buttons. This is work that comes out of the way my life is. If I can make a life in the anonymity of the art world, that's all right with me. In a funny way, I've destroyed the drugs, or at least rearranged their use value. In my work, they travel to the brain and alter consciousness through the eyes.
Rail: There were no legal problems?
Tomaselli: I've had some issues come up. Once, I think 1994, the works were temporarily arrested in Paris by customs but were eventually released from the contraband prison. It was funny - I had an opening with no art in it. I showed at a gallery that was associated with a lot of conceptual art, so showing an empty gallery was initially interpreted as a Yves Klein style statement of the futility of art making. I was saying, "No I make paintings but they're locked up in customs' and they were like "That is so boring. You are so boring". (Laughter). There have been a few institutions that have tired to purchase my work that encountered a board of directors that felt they could get in trouble for it. By the way, I don't consider it my right to have my work purchased by museums - if they think it's too controversial, that's fine"
Rail: Most artists of our generation grew up surrounded by drugs. I think many of us were changed by our use of psychedelics. For me they helped open up a visionary world - a spiritual dimension. That was true of so many friends and contemporaries, and yet few of us put it directly into the work. I am really struck by how you made it the subject and content of your painting, which seems such an obvious but wonderful thing to do.
Tomaselli: Well, it came to me from a lot of different angles. It is one of the great repressed discourses in contemporary culture - this massive effect of psychedelic drugs on consciousness and its tremendous effect on American culture. But it's not talked about all that much.
Rail: Not only are you putting actual drugs into the paintings, but there's conscious depiction of psychedelic vision.
Tomaselli: More and more so - yes. It's complex fusion. I think of my work as truly hybrid in that it's made of photographs, objects and paint cohabiting different levels within the same picture plane. It's hard to tell what's what.
Rail: A physical hybrid of materials?
Tomaselli: It's a physical hybrid and a historical and stylistic hybrid. I'm borrowing from lots of different cultures and traditions, many of which are enemies to one another. I get a lot of juice from Asian art, German Romanticism, Pop Conceptualism and so on and so forth, but also, and very importantly, my brain has been hybridized by the use of hallucinogenic drugs (laughter). These works reflect a mind that has been conceptually, psychologically and perceptually altered from the use of these substances. I consider myself to be a hybrid creature. LSD has colonized part of my DNA and I'm trying to put that into my work.
Rail: Are you talking about an openness to a certain kind of visual phenomenon? An openness to psychological and art historical influences?
Rail: Do you still use hallucinogenic drugs?
Tomaselli: I haven't taken LSD since 1980. I think sometimes you need to remove yourself from intense experience and get some distance to really use it as subject matter. So my heroic doses of LSD are long over.
Rail: Are you involved with Tibetan Buddhism as a practice?
Tomaselli: No I'm like everyone else in the art world I'm Buddhist friendly, which is such a wimpy position. I'm not like Alex Gray who is totally committed to it. I'm very sympathetic to the Tibetan view of the common but I'm just not ready to throw my allegiances to any one particular ideology. I'm afraid of becoming too sure of things - too orthodox.
Rail: I think that's important to separate spiritually from religion. They sometimes coincide but they often don't.
Tomaselli: I'm uncomfortable with the term spirituality. It seems like it's a catch all for whatever people want their feel good stuff to be. So much of it is so narcissistic and being from New Age California, I have a slightly jaundiced view of that. My work is based on a certain amount of skepticism. I can't seem to get behind any particular program.
Rail: Fred, I can remember seeing paintings of yours which had a sunset landscape underneath this psychedelic patterning of pills. I thought that some of those paintings were the best visual illustration of actual psychedelic vision. They had that sense of looking at the landscape and seeing a dancing tracery on top. With certain psychedelics that's very much what happens - there is this overlay of a pulsing patterning on whatever it is your seeing. Were you conscious that your paintings were illustrations of that?
Tomaselli: Well, I was, I think that the first time I really saw the world through an actual scrim of other information was under the influence; It was later that I began to see nature itself through a scrim of politics and different ideologies. You know, the history of the American landscape was this imposition of utopian belief on nature and the perception of nature is always deformed by ideology. I started thinking about nature in terms of a vision of psychedelic but also in terms of the history of ideologies and this buzzing electronic scrim of politics, chemicals and pollution. Nature isn't pure and I wanted to access something that was real as opposed to sometime that was idealized. I want to get to where nature is in my head. On one hand, it can contain a visionary experience but it's also this social political construct that is sick and cranky.
Rail: This really reminds me of Frank Moore, whose landscape paintings of Niagara falls and Yosemite National Park addressed those same issues. Did you know Frank's paintings?
Tomaselli: Oh yes, we were friends and had a lot in common.

Morreu Victoria de los Angeles


Victoria de los Angeles, em 1979, o ano em que se retirou dos palcos.

Não tive o privilégio de a ouvir no São Carlos, porque o São Carlos que eu sempre conheci e conheço nada tem a ver com o teatro de ópera que recebia as melhores vozes mundiais. Mas tive o privilégio de a ouvir em gravações diversas e de admirar a sua voz cristalina e "angelical".

Mais informações aqui, ou abaixo:

VICTORIA DE LOS ANGELES was a singer whose charismatic personality and knockdown charm secured her a vast public, but in the process sometimes obscured that her deep musicality, remarkable technical accomplishment, catholicity of taste and — above all — a lyric soprano voice of unsurpassed beauty must cause her to be rated among the greatest singers of the second half of the 20th century.

sábado, janeiro 15, 2005

Segundo Balcão dos Bombeiros, Fernando Assis Pacheco

Nesse tempo eu já lera as Brontë mas
como era um adolescente retardado
passava a noite em atrozes dilemas
que mais vale: amar, ser doutrem amado?

.

ainda não descobrira o simples disto
nem o essencial disto que é tão claro
se tudo no amor vem do imprevisto
deitar regras ao jogo pode sair caro

.

por isso eu amo e sou ou não benquisto
depende do instante bem ou mal azado
amor tem alegria, tem enfaro
o happy end é coisa do cinema

Frederico Lourenço

Acabei hoje de ler o último livro da trilogia de Frederico Lourenço, "À Beira do Mundo". Foi uma das leituras mais motivantes e "refrescantes" dos últimos tempos. Gosto do estilo de escrita de Lourenço. Não obstante, achar que, por vezes, roça, em certos trechos, o "pedantismo". Ou será que somos nós que já não estamos habituados a ler romances que misturam sentimentos crus com referências de qualidade académica a grandes autores, como Camões?

Ao longo destes três livros o leitor deixa-se ir num novelo incerto, sem conseguir prever onde a próxima volta da história e da vida de Nuno, o personagem central, o levará. E depois tudo acaba perto donde começou, de forma elíptica, com os regressos quase a donde partimos.

Estou certo de que se Frederico Lourenço fizesse um trabalho de adaptação para o mercado internacional, estes livros poderiam ter um consideravel sucesso. Houve mesmo alturas na história, em que o meu envolvimento com as personagens foi semelhante ao que senti com as personagens de um livro que marcou a minha transição dos 19, para os 20 anos de idade: a série de seis volumes de Armistead Maupin, chamados de "Tales of the City". E dá vontade, também por isso, de implorar a Lourenço a continuação da história de Nuno, ou outras histórias.

Gostei, em especial, desta passagem do terceiro volume da trilogia:

"Houve uma certa atrapalhação na despedida: nem foi bem um aperto de mão nem um abraço; antes o reconhecimento tácito de que haveria outras exteriorizações mais vocacionadas para a tradução fiel dos gestos interiores."

Frederico Lourenço, "À Beira do Mundo", in página 193

sexta-feira, janeiro 14, 2005

O Ministro Incontinente

Uma das bandeiras que este governo acenou, acenou e tornou a acenar foi a da redução do IVA para as fraldas. É estranho, pois, que agora que a Comissão Europeia veio dizer que essa redução não está conforme com a legislação comunitária sobre a matéria, Bagão Félix comece por dizer que não tem tempo para perder com essas miudezas, porque tem assuntos mais importantes para tratar. Então, afinal a redução da taxa do IVA aplicável às fraldas era importante, ou não?

E, já agora fazem pena estas incontinências do Ministro. Então não é que Félix, logo depois de ter desvalorizado as fraldas e o seu IVA se pôs a falar sobre o baixo IVA dos preservativos. É caso para se dizer que este governo anda com umas obsessões no mínimo estranhas, ou que acordou finalmente para a importância da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, ou então ainda, que depois de se "virar" para umas necessidades, se "vira" agora para outras.


Eduardo Batarda, 1988

Carta de Bruxelas

Um dos aspectos que se tornou mais interessante nas minhas frequentes deslocações a Bruxelas foi o da viagem em si. É que com a, cada vez maior, comunidade nacional lá radicada de políticos, assessores e outros tecnocratas não é invulgar dar de caras com o Pedro R0seta a passarinhar como uma marioneta desengonçada em direcção à capela, ou como lá se diz em "politicamente correcto" espaço de culto, do aeroporto de Bruxelas. Ou, então Deus Pinheiro, acompanhado da sua fiel assessora numa segunda bem cedo pequenino e, ainda mais, pequenino no meio de todos os passageiros que querem entrar depressa para o avião. E ele sem nunca perder a postura e, como diria Queiroz, o " chic".

Depois, também houve a vez em que viajei quase ao lado da mulher de Barroso, a qual me pareceu genuinamente cansada, mesmo "estoirada", não pude deixar de reparar que carregava vários presentes, pequenas peças de prata do Leitão, pelo menos a ourivesaria nacional está a ser promovida por terras brabantes.

Mas até agora a cereja no topo do bolo tem de ser a viagem que fiz ao lado de Miguel Portas. Fiquei intrigado ao vê-lo. É que carregava num bolso, já deformado, do seu, convenientemente verde, blazer de veludo um grande calhamaço de um qualquer intelectual francês. Livro esse obviamente muito manuseado, de tal forma manuseado que a lombada estava totalmente vincada e os cantos a enrolarem. Pensei logo eu com os meus botões, que não ficava atrás, e levantei ainda mais a capa do segundo volume da trilogia de Lourenço "Curso das Estrelas" para também ele poder reparar que não era só ele a ler coisas interessantes. Qual não foi o meu espanto pois, quando o vejo a enfiar o seu livro mais o blazer no cacifo por cima da sua cadeira e retirar repimpado, para repimpadamente passar a viagem toda a ler o Timtim em francês. Pensei logo eu com este bloco, para além de ser tudo fogo de vista, para americano ver, a literatura, nem a de bolso.

um novo blog

pode ser que ajude

http://www.margensdeerro.blogspot.com/

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Ora queixe-se lá Senhor Buttiglioni

Parece que a SMI, Santa Madre Igreja, já se começou a manifestar em relação à intenção anunciada pelo PS de promover outro referendo sobre o aborto. A SMI diz que vai manter o PS sob vigilância.

Primeira coisa a incomodar é este tom de ameaça. Segunda coisa é que, mais uma vez, a SMI demonstra não saber conviver com um Estado laico e com a necessária separação de planos, ou seja, a Igreja e os seus agentes não são isentos na sua capacidade de influência. Isto vem confirmar, ainda que a posteriori, que os que se opuseram à nomeação de Buttiglioni estavam inteiramente certos. É que com este tipo de crentes não há respeito nem pelas convicções diferentes, nem pelas liberdades pessoais.

Será que isto é mesmo verdade?!?

Carta de Bruxelas

Desta vez o bom tempo impera em Bruxelas. Está Sol e apesar de também estar frio, sabe bem andar pela cidade.

Acertei em cheio na altura de saldos e aqui ainda por cima encontro coisas para a minha altura. Portanto também passiei pelo Boulevard Waterloo, na parte alta da cidade e, depois, fui tomar um café com leite ao Mokafé, um estabelecimento cheio de senhoras com um ar antigo de chapéu, sentadas umas viradas para as outras a tentarem roubar olhares às vizinhas e, por vezes, aos empregados, com quem se comportam como meninas. Lido o jornal, passado em revista as compras, estava na hora de ir à Fnac e à Waterstone's.

Sempre me intrigou o facto de Bruxelas, cidade rica, cosmopolita, com gente que gosta de ler, só tivesse uma Fnac, especialmente considerando que a periférica Lisboa tem duas, mas outras duas nos arredores. Mas, ainda assim, e apesar do horário conventual, é uma delícia ir à Fnac e à sua secção de DVDs e Livros estrangeiros.

Como também é para mim uma experiência fenomenal entrar na Waterstone's de Bruxelas, que é a livraria Inglesa do burgo e, que como o nome indica, pertence a uma cadeia de livrarias Britânicas. Intrigante, ainda, a sua localização. É que fica numa avenida, a Adolphe Max, que se percebe já ter sido uma elegante artéria. E que, hoje, com os seus prédios acizentados e lojas de sexo faz lembrar a Almirante Reis, também pelo fluxo constante de imigrantes que pavoneiam as suas diferenças, orgulhos e inseguranças, reclamando uma parte da cidade.

E com tudo isto fez-se noite, apeteceu-me ir trincar uma "sandes" especial a uma cervejaria antiga, escondida atrás da Bolsa, a Bécasse. Onde os empregados já me conhecem e onde há umas saladas com pão e jambon ardennaise do melhor. O ambiente estava particularmente merry porque havia um grande grupo de americanos de meia idade em quem a lambic doce (da casa) já tinha produzido efeito. Para tornar o cenário perfeito bastou a entrada de dois rapazes que íam tomar uma cerveja. É que um deles, por sinal o mais bem parecido dos dois, antes de se sentar desejou-me -«Bon apétit!»

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Um estudo importante


Red meat is strongly linked to cancer
A diet packed with burgers, sausage and steak boosts the risk of developing colon or rectal cancer, a study confirms, lending weight to nutritionists' call for a switch to healthier alternatives.
...Researchers are not yet clear which ingredient of meat might trigger cancer. Possible culprits include iron, toxins formed during cooking or the nitrates and nitrites used to preserve processed meats.

imagens de uma viagem pelo continente indiano



terça-feira, janeiro 11, 2005

O Luso-Tropical

Hoje, acabo de assistir, com interesse, a uma conferência de imprensa oferecida pelo ainda Ministro Morais Sarmento a propósito da sua viagem a São Tomé. Pensei eu que se o Ministro convocou esta conferência era porque tinha alguma coisa importante a dizer. Tal como esclarecer por que razão fretou um avião, ou escolheu chegar numa sexta, em vez de uma segunda. Em vez disso, o Ministro preferiu proferir umas banalidades sobre a importância da cooperação e a pobreza e isolamento de São Tomé e acrescentar o já pouco "original" pedido de demissão (copiando por um lado o seu colega de governo Nobre Guedes, mas não demonstrando, por outro, a mesma esperteza que ele na gestão do processo) de um Governo que se demitiu. Ou seja, falou muito e disse muito pouco.

Se é verdade que a Lopes ficava bem um pouco mais de solidariedade com os seus correligionários de Governo, não é menos verdade que um Ministro de Governo, numa altura pré-eleitoral tem de estar consciente do maior escrutínio das suas actividades e, logo, perceber que uma visita dispendiosa que começa a uma sexta, para terminar numa segunda vai ser alvo de muitos levantamentos de sobrancelhas.

E já agora Portas é que deve continuar a rir...


Ana Vidigal, Blind Date, 2002

Os Mandarins

Sampaio está na China, na popular. Levou consigo a maior comitiva de sempre e só para justificar esse facto o, também muito eficaz spin, de Belém deitou cá para fora uma série de números sobre a classe média chinesa, ou sobre o número de turistas chineses que se vão começar a passear pelo mundo e que. claro está, vão preferir visitar a Torre de Belém e não o Big Ben, ou o Castelo de São Jorge e não Versailles. A coisa foi mesmo apresentada como se Portugal tivesse acabado de descobrir o "ouro do brasil" e a hipótese de novos "negócios da China" fosse a receita mágica para evitar 10 anos de sacrifícios para reduzir o défice e, como tal, fosse preciso ir fazer o kow tow aos Mandarins de Pequim.

Espero que estes senhores que acompanham Sampaio façam bons negócios, que o país precisa ( e eles também!), mas gostava de ter ouvido mais qualquer coisa sobre Macau e, já agora, se não fosse muito incómodo sobre Direitos Humanos.

para variar, uma boa notícia.

também quero ir...de férias


à venda na galeria da Abraço online


Artista – Luís Alves costaTitulo: “O Anjo do Apocalipse” Tipo: técnica mista sobre papel Preço: 750€ Medidas: 48X51

Artista – Margarida Lagarto Titulo: Sem titulo Tipo: Pigmento s/ papel Preço: 350€ Medidas: 95X44

Vozes lúcidas

Luís Fernandes é uma das vozes mais lúcidas que reflete sobre assuntos como a pobreza, a criminalidade e o uso problemático de drogas. O poder não gosta e reage mal às criticas, comme d'habitude...

Luís Fernandes, investigador da Universidade do Porto, traçou a evolução histórica da droga, apontou a tentação da "criminalização da pobreza" e focou a intervenção urbana nos chamados bairros negros do país como falsa solução: Casal Ventoso, Sé e São João de Deus. "É como se a droga tivesse tomado a rua e os políticos dissessem: 'É tomando a rua que se resolve o problema da droga'", sustentou.
Fernandes criticou as "intervenções paliativas, que não têm em conta o que está a montante da droga, a quantidade de factores que produzem fenómenos como os arrumadores e que procuram, de algum modo, limpar as ruas e tranquilizar o cidadão comum". Os problemas "não desaparecem, deslocam-se", avisa, reivindicando "programas de intervenção social de fundo", o que, em seu entender, "não é apelativo aos políticos" que se regem pela apresentação de resultados a "curto prazo".
Mota Cardoso reagiu mal. Passou por cima de intervenção de Carlos Farate, antigo director do CAT Oriental e actual supervisor da Estrutura Intermédia, um novo projecto da Fundação Filos, acusou Luís Fernandes de estar a fazer política e enalteceu a "coragem" da autarquia liderada pelo social-democrata Rui Rio (que, recorde-se, resolveu tomar as rédeas do combate à toxicodependência).


Menez, Atelier, 1987

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Ler os outros: O Orbituário de Susan Sontag no Economist

Segue, abaixo, um excerto:

IT IS hard to be an intellectual in the United States. In France, a wizened man or woman in a black beret, smoking unfiltered Gitanes and with a copy of Sartre's “La nausée” in his pocket, is considered a national treasure. Reverent circles form around him in cafés. When he wishes to muse about the existentialist paradigm, he is given a double-page spread in Le Monde. His brief but seminal work, “Fifi et le nouvel hermeneutique”, wins the Prix Goncourt and is seen being read on the Métro.

In America, by contrast, intellectuals are mocked as “pointy-heads” and “nattering nabobs”. They are a tiny, struggling species, whose habitat is confined to a few uptown apartments in New York and the faculties of certain universities. There they swap thin, sad monographs on self-image and the role of gender in criticism, or vice versa, while Oprah Winfrey is hailed on national TV as the arbiter of literary taste.

Susan Sontag therefore achieved the near-impossible: she was a European-style intellectual in America, and many Americans had both heard of her, and read her books. Moreover, she wrote clearly and well, in short words and short sentences that were blessedly free of the tech-tosh that passes for English in most haunts of intellectualism. Educated Americans were delighted to find someone who had not only read Roland Barthes and Elias Canetti, as somehow they felt they ought to every time they opened the New York Review of Books, but who could tell them what those guys were talking about, and whether they were any good.

Did the Pope 'steal' Holocaust children?

Tudo indica que o Papa Pio XII, para além de ter sido cúmplice no Holocausto, foi também o autor da seguinte política:

In October 1946 a letter containing papal instructions was sent to the papal nuncio in France, Cardinal Angelo Roncalli, the future Pope John XXIII.

He was a man of known compassion for Jews, who was working to reunite Jewish children hidden in Catholic institutions during the Holocaust with parents, relatives and Jewish institutions. The letter ordered Roncalli to desist and to hold on to the Jewish children: “Those children who have been baptised cannot be entrusted to institutions that are unable to ensure a Christian education.”

Pius XII’s intent to deprive Jewish parents of their children was unequivocal: “If the children have been entrusted (to the church) by their parents, and if the parents now claim them back, they can be returned, provided the children themselves have not been baptised. It should be noted that this decision of the Congregation of the Holy Office has been approved by the Holy Father.”

Not returning baptised Jewish children was thus presented as a general church principle and policy — decided upon by the church’s authoritative Congregation and personally approved by Pope Pius XII. So it stands to reason that this policy was to be implemented across Europe.



"Inverno" ou "A Montanheira"
Aguarela 1927
Dordio Gomes

Que outra desculpas irão eles agora arranjar?

As eleições para a Presidência da Autoridade Palestina decorreram com relativa normalidade, tendo sido declarado vencedor Abbas, aliás o candidato preferido por Israel e pelo Ocidente. Não obstante, fica uma impressão que este não passa de um exercício quase fútil, assim como que os guardas de uma prisão de alta segurança delegassem, por um lado, uma série de obrigações e deveres aos prisioneiros relacionados com a sua própria governação, sem lhes permitirem, por outro, qualquer liberdade.

A culpa é do Miguel Sousa Tavares

Aparentemente Morais Sarmento e respectiva entourage deslocaram-se até São Tomé para assinarem um acorpo de cooperação com a TV local e depois foram passar o fim de semana para o melhor resort da região. Os partidos da oposição já manifestaram a sua discordância, com os argumentos habituais da falta de moralidade que tal comportamento implica.

Eu, por mim, acho que a culpa deste impulso para melhor conhecer aquelas ilhas é toda do autor de "Equador".

domingo, janeiro 09, 2005

Tem estado frio

As Putas da Avenida, Fernando Assis Pacheco
.
Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
.
vi-as às duas e três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena
.
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios daLorena
.
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Balde de Água Fria II

Ainda sobre as listas, em particular a do PS, e porque não estou inteiramente de acordo com o que Vasco Pulido Valente escreveu ontem na sua crtónica habitual, cumpre tornar a chamar a atenção para a aparente "limpeza" que certos sectores do Partido fizeram, nomeadamente, de mulheres com opiniões um pouco mais progressistas em matérias como a despenalização do aborto, colocando, em lugar destas, outras e, pior, outros que sempre votaram contra uma alteração legislativa que fosse nesse sentido.

Até acho que se calhar as pessoas que fizeram isto, nem são visceralmente contra a despenalização do aborto, mas "apenas" querem evitar "chatices". O que a ser verdade aponta para um certo regresso ao pior do Guterrismo. Espero que não, espero que não.

Para quem o reconhecimento reiligioso da sua relação homossexual importe, esta poderá ser uma boa notícia:

Bishop sanctions service for gays

A SENIOR Anglican bishop has commissioned the Church of England’s first official service to recognise gay couples and cohabiting heterosexuals.

John Saxbee, Bishop of Lincoln, has instructed staff to draw up the liturgy in which those in “non-marriage relationships” are able to step forward in church and give thanks to God for their union.

leituras de hoje

A metade do céu - um excelente artigo de Ana Sá Lopes
Afinal quantos somos? - nesta área como em outras (SIDA, HepatiteB, C, Sífilis, gripe, etc) ninguém sabe a quantas andamos e as propostas de resolução são no mínimo ridiculas. Será que o Ministério da Saúde quer mesmo saber a quantas andamos? É óbvio que NÃO!
Deixa-me rir, esta história não é nossa... Um país livre de drogas. Importam-se de repetir!

Homero, Sophia de Mello Breyner (O Búzio de Cós)

Escrever o poema como o boi lavra o campo
Sem que tropece no metro o pensamento
Sem que nada seja reduzido ou exilado
Sem que nada separe o homem do vivido

sábado, janeiro 08, 2005

O Presidente Errático e Egoísta

Alguém imagina como estaria o país político, caso tivesse sido Soares Presidente a ter feito as propostas que Sampaio ontem fez na SIC Notícias? De facto este Presidente desacreditou o cargo da Presidência, porque foi e é um Presidente errático. Ora nomeia Primeiros-Ministros por haver maiorias parlamentares, ora os demite, ainda que tenham a mesma maioria parlamentar por trás deles só porque, aos olhos da maioria da população, o Presidente começava a ser olhado como cúmplice dos disparates governamentais. E poderiam ser dados muitos outros exemplos quanto a preocupações manifestas na cena internacional, que depois não correspondem a qualquer acção a nível nacional, ou de diplomas vetados, enquanto outros são promulgados sem que haja um aceitavel fio condutor a nortear a sua acção. Ou será que há?

Será que a única coisa que move o Presidente é um instinto de sobrevivência pessoal? De tomar as decisões que menos custos polítcos lhe darão?

E já agora, cabe na cabeça de alguém lançar uma discussão séria sobre uma reforma séria numa entrevista a um canal de televisão? E, ainda por cima, por cabo?

Fernando Pessoa

Soneto Já Antigo, Álvaro de Campos, 1922
-
Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
Dizer aos meus amigos aí de Londres,
Embora não o sintas, que tu escondes
A grande dor da minha morte. Irás de

-

Londres pra York, onde nasceste (dizes...
Que eu nada que tu digas acredito),
Contar àquele pobre rapazito
Que me deu horas tão felizes,
-

Embora não o saibas, que morri...
Mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
Nada se importará...Depois vai dar

-

A notícia a essa estranha Cecily
Que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Hoje sinto-me assim!


depois de ter passado as últimas semanas a contactar com várias pessoas constipada, chegou a minha vez. Tenho uma constipação, o que é diferente de ter gripe.


Joaquim Rodrigo, Pesadelo, 1961

Balde de Água Fria

Está prestes a acabar o circo da formação de listas. Com a excepção do PSD, o processo de formação de listas foi relativamente pacífico, como pacíficos podem ser estes processos.

Podem-se, pois, tecer algumas considerações. A primeira, as listas do PSD são a corporização da maior parte dos aspectos negativos da personalidade de Lopes, com a inclusão de uma série de individualidades cujo único mérito parece ser, ou a sua relação pessoal com o líder, ou o mediatismo que possuem. Mais, a composição que se adivinha das listas deixa antever um período pós eleitoral, pós-derrota difícil para o partido com o Senhor que se seguir a ter uma tarefa hercúlea para conseguir arrumar uma casa, com uma série de personagens que lhe serão hostis instaladas no hemiciclo.

A formação de listas do CDS/PP confirma a boa gestão de Portas e torna plausível um cenário de uma subida significativa do resultado eleitoral daquele partido. Especialmente "esperta" a mexida de Nobre Guedes de Lisboa para Coimbra, prevendo-se para aí um debate ainda que perfeitamente populista sobre a co-icineração.

Quanto ao PCP, as listas confirmam no essencial aquele que tem sido o percurso do partido nos últimos meses, com o afastamento de quase todos os "renovadores".

Já o BE pode acabar por surpreender, à semelhança do outro partido pequeno da Direita, pela positiva, muito embora, para quem quer ter responsabilidades acrescidas na governação do país se note que no BE continua-se a criticar sem apontar alternativas.

As listas do PS essas foram um balde de água fria e bem fria. Se é certo, por um lado, que não clamo, como certas pessoas, a vinda de um tirano para o governo de Portugal, por outro, é para mim claro que quem vier a ser o próximo primeiro ministro de Portugal irá ter de ter convicções fortes, ideias claras e um rumo definido para o país.

A formação destas listas não deixam antever nenhuma destas qualidades de forma nitida. Se não vejamos afastam-se algumas personalidades que embora polémicas dão muito do "sabor" que o PS tem, como Helena Roseta, mantêm-se outras que são unanimemente apontadas como causas para o último e recente débâcle partidário, como é o caso de Pina Moura, ou, ainda, vão-se buscar personalidades que, não obstante ninguém pôr em causa as suas qualidades pessoais, ninguém lhes conhece as qualidades políticas, como é o caso da viúva de Sousa Franco (situação aliás que permite uma leitura ainda pior: aproveitamento partidário da morte do Professor pelo PS e pela própria viúva). Por último dá-se ainda o caso daquela que seria sempre uma decisão difícil, mas necessária e que acaba por não ser tomada, que era a do afastamento de Pedroso, uma vez que o próprio não se auto-excluiu, e que revela uma aparente pouca inclinação para a tomada de decisões penosas.

Pobre país, pois, que se prepara incrédulo para aquilo que parece ir ser um valente banho de água fria.

Ler Vasco Pulido Valente e o sonho da Europa em Portugal

Portugal é um sítio para onde escorre um bocado de Europa, como não escorre para o Haiti ou para o Darfur. É um sítio feliz, no fundo. Com um "atraso", claro, mas normal, que não explica ou desculpa o melodrama em curso. Por tudo isso, e para lá das ridículas peripécias de um regime desacreditado, de uma falência financeira sem concerto visível e de uma corrupção quase universal, Eduardo Lourenço oferece o consolo da mediocridade pacífica. Ele, que durante 30 anos persistentemente encorajou o "excesso dos nossos sonhos", desistiu de excessos. Portugal vale o que vale, "não mais". Fim de capítulo. Santana e Sócrates podem entrar.

Visitar os outros

O Bloguítica tem estado a fazer uma análise evolutiva do cartaz "não autorizado" do PSD que vale a pena ver.

"Isto o que faz falta é animar a malta, o que faz falta..."

O PSD marcou ontem uma conferência de imprensa para o final da tarde para divulgar as listas finais, mas acabou por retardar o anúncio para mais tarde. Na ocasião, o secretário-geral, Miguel Relvas, chamou a atenção para o facto de Santana Lopes estar disponível para aceitar quaisquer debates com os líderes dos partidos da oposição.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Quem é que disse que Lopes era divertido? Parece que afinal é mesmo uma grande "seca"!


Edouard Manet, Masked Ball at the Opera, 1873

Corredor de fundo

Desenganam-se aqueles que profetizam o fim do fenómeno Portas. Pelo contrário, pelo seu comportamento recente, creio que esse Senhor está para durar, senão vejamos as diferenças: enquanto Lopes regateia com o seu partido nomes para as listas de deputados, Portas limita-se a mandar anunciá-los; enquanto os nomes apresentados pelos primeiros estão unicamente ligados ao chamado universo santanista, os dos segundos estão ligados ao próprio imaginário do Partido Popular (basta ver o exemplo de Narana Coissoró).

Mas há mais, Portas passa cá para fora uma imagem de quem, não obstante estar num governo de gestão, governa e continua preocupado com os assuntos relacionados com o Ministério que tutela. Comportamento aliás comum à maioria dos Ministros do PP.

Claro que este "talento" de corredor de fundo irá beneficiar o PP a 20 de Fevereiro, tornando prováveis duas coisas: primeira, o PP vai captar muitos eleitores que apesar de desencantados com o PPD, não "conseguem" votar PS; segunda, o PP pode voltar a um resultado eleitoral de dois dígitos.

quarta-feira, janeiro 05, 2005


A filha de René Goscinny estava, há uns tempos, a limpar o sotão da casa do pai, quando deparou com uma série de histórias do pequeno Nicolas, as quais, para sua maior surpresa, eram inéditas. Precisou de pouco tempo para preparar este livro que as reune, em número de 80 histórias e que é já um dos livros mais vendidos em França. Resta-nos esperar pela tradução para reencontrar o pequeno Nicolas.


Marcel Broodthaers, The Visual Tower, 1966

Dispersão, Mário de Sá Carneiro

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era o labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
*
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
*
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhá nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
*
(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:
*
Porque um Domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).
*
O pobre moço das ânsias...
Tu, sim, eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.
(...)

Pôncio Pedroso 2

Quanto ao primeiro, confirma as minhas suspeitas de há pouco em relação à incapacidade de Lopes em aprender e fazer melhor. As últimas notícias relativas ao segundo confesso que me preocupam mais, porque elas revelam um Sócrates que, ou não quis impor a sua vontade, ou pior, não a pôde impor, ou, pior ainda, fez cumprir a sua vontade ao incluir o nome de Pedroso na lista de deputados (ainda que em lugar não elegível).

terça-feira, janeiro 04, 2005

desculpem, mas não resisti


Roubado ao Renas e veados
Mai um incidente pré-campanha eleitoral.
Isto promete!

Gosto da pintura do Nuno


Absolutamente redonda

Pôncio Pedroso

Hoje falou-se em dois nomes de forma insistente: Paulo Pedroso e Pôncio Monteiro.

Num caso porque o próprio não revelou sentido de estado, no outro porque o seu líder não tem sentido de estado. Ou seja, Paulo Pedroso, não obstante poder ser penoso para ele e, provavelmente, injusto, deveria ter tomado a iniciativa de se auto-excluir neste processo de formação de listas de forma a não criar uma situação dificil para o PS e para Sócrates. Uma vez que não fez o que devia, deverá Sócrates assumir em definitivo a exclusão ditada pela distrital de Setúbal.

Relativamente a Pôncio Monteiro, a situação revela falta de sentido de estado por parte de quem o escolheu. Mais uma vez Lopes foi buscar um amigo, sem se lembrar de quem é o amigo. As lições do passado, ainda que recente, não aproveitam ao nosso primeiro ministro em gestão.

Faces in the Crowd - Picturing Modern Life from Manet to Today



"Les Trois Camarades" de 1920 por Ferdinand Leger é uma das obras representadas numa exposição na galeria Londrina de Whitechapel intitulada "Faces in the Crowd - Picturing Modern Life from Manet to Today" e que reune uma série de obras que nos mostram como certos artistas, tais como Max Beckmann, Francis Bacon, Cartier-Bresson, Jeff Wall, Duchamp, Richter, ou Toulouse-Lautrec, entre muitos outros, apresentaram e deram força ao "individual" na metropolis.

Alguns dos livros que estão para aí a vir em Inglaterra (esperemos que alguém da FNAC do Chiado leia isto...)

Ler no Economist "Babel Runs Backwards" sobre línguas em vias de extinção



Este artigo que aponta o Português como o oitavo idioma mais falado a nível mundial termina com uma citação que achei particularmente forte:

The demise of any language is a loss for all mankind, but most of all a loss for its speakers. As one Navajo elder, quoted by Mr Yamamoto, told his grandson:


“If you don't breathe,
There is no air.
If you don't walk,
There is no earth.
If you don't speak,
There is no world.”


referer referrer referers referrers http_referer Who links to me? More blogs about http://paraladebagdade.blogspot.com.
Visited Countries
My Visited Countries

Get your own Visited Countries Map from Travel Blog