sexta-feira, dezembro 31, 2004

O PCP quer ficar á mesa

Alguém devia explicar a Jerónimo de Sousa que aquele seu estilo metalúrgico não liga bem com o jogo que ele tem vindo a fazer que passa por dizer aos quatro ventos que o PCP está disposto a viabilizar um governo PS. Facto que aliás só ao PCP interessaría. É preciso que os eleitores da esquerda democrática e não só se apercebam que o grau de gravidade dos problemas do país exige que saia um governo de maioria absoluta das eleições de 20 de Fevereiro próximo.

Esse governo deverá ser liderado, preferencialmente, pelo PS que é quem está neste momento melhor preparado. E nem o PCP, nem o Bloco de Esquerda devem "atrapalhar" esse raciocínio.

A Jerónimo de Sousa caberá nesta equação a tarefa inglória e ingrata de continuar a acompanhar o lento crepúsculo do seu partido.

Tu és tudo o que me falta no rosto
o pêndulo a água e o metal
a passagem de Julho a Agosto
e uma simetria desigual




(...)



a norte do não
um relâmpago roxo rasgou um sim
na noite do coração

José Manuel dos Santos, Livro dos Registos

Significant Others

Não vou, à semelhança de tantos outros bloguistas, escrever de novo hoje sobre o mau estado do país, ou sobre a falta de qualidade dos nossos políticos, ou até sobre a tragédia do Sudeste Asiático. Vou, isso sim, formular votos de Feliz Ano Novo, de Boas Entradas na companhia dos vossos "Significant Others" (uma expressão que apanhei dos livros de Armistead Maupin) sejam eles e elas quem forem.

quinta-feira, dezembro 30, 2004




Untitled Construction,1922, Tempera and collage on panel, László Moholy Nagy

László Moholy-Nagy




A19 , 1927, László Moholy-Nagy.

Pessoa em inglês

Mood

My thoughts are something my soul fears.
I tremble at my very glee.
Sometimes I feel arrive in me
A dim, a cold, a sad, a fierce
A lust-like spirituality.

(...)

Os Cabeções

Quando o país pede sinais de mudança a Sócrates, eis que ele não só ainda não os deu, como escolheu para cabeças de lista algumas personagens absolutamente enigmáticas, como a viúva de Sousa Franco, ou o "coveiro" de Guterres, o Pina Moura, o mesmo que após ter sido ministro com a tutela da electricidade, aceitou ir para a administração da Iberdrola.

Caro Engenheiro Sócrates o país precisa de conteúdo, substância e sinais de mudança e optimismo. Não de figuras gastas e pouco credíveis, ou de almoços com o Valentim Loureiro.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Perdermos um pouco de nós com a sua morte


Este é de certo um dos livros que mais me marcou. Uma análise sobre a doença em geral e sobre a SIDA, em particular. Leitura fundamental.




Dancing Girls, Pamela Bianco, ou como eu quero passar a última noite do ano.

Lady Hamilton




Um retrato de Lady Hamilton, mencionada no post anterior.

Morreu Susan Sontag




Morreu Susan Sontag (algumas notas biográficas aqui). Para ler o orbituário do Guardian, ou o do Independent (com citações biográficas interessantes). Susan Sontag fica na minha memória por quatro razões: 1ª " O Amante do Vulcão", que é um romance denso, como denso é o fumo emanado pelo Vesúvio, sobre Lady Hamilton e uma época fascinante; 2ª "In America", outro romance, desta feita sobre a América que já foi, e que a América que é já não recorda que foi; 3ª "Regarding the pain of others", de que aqui já se falou, um pequeno livro de ensaios sobre a vulgarização das imagens de morte e, ou sofrimento humano e as suas consequências na nossa sociedade; 4ª e última: o seu activismo político que a levou a contestar Bush e as suas políticas, numa altura em que poucos intelectuais conhecidos o faziam, no momento que se seguiu aos ataques de 11 de Setembro.

Para o Mundo Susan Sontag é, ainda, especialmente a autora de "Notes on Camp", ou do ataque à interpretação, ensaios que a consagraram como uma das grandes figuras literárias americana do século XX.

De recordar umas palavras de Sontag sobre o fascismo (Fascinating Fascism) que mostram Sontag como ela era:

"The color is black, the material is leather, the seduction is beauty, the justification is honesty, the aim is ecstasy, the fantasy is death."

Os Novos Serões da Província

Já alguém reparou como a cobertura mediática da tragédia do Sudeste Asiático se assemelha aos velhos serões da província de Júlio Dinis. Tenho assistido incrédulo a frases do género: «23 Portugueses de Macau desaparecidos; 70 mil mortos é a última estimativa de vítimas», assim mesmo com esta ordem de prioridade, ou «Brasil e Portugal podem beneficiar de novo afluxo de turistas».

Aquilo que já se sabia com a cobertura do Caso da Casa Pia confirma-se agora com a cobertura da Tsunami no Sudeste Asiático: os nossos meios de comunicação social são sensacionalistas, despudorados e despidos de quaisquer tipo de escrúpulos. Em suma fazem-me lembrar de um jornal que, se calhar até já nem existe, mas de que me lembro de na minha adolescência gozar: o Jornal do Incrível.

terça-feira, dezembro 28, 2004

Ler o "Diary" no Spectator, por Barry Humphries, também conhecido por Dame Edna Everage observando os Nova Iorquinos

I love sitting in restaurants here without being engulfed in cigarette smoke. However, it’s mesmerising to watch Americans wrestling with their knives and forks. They don’t seem to be able to use them properly. First of all they twine their fingers around the fork handle in the left hand, holding the instrument vertically over their steak or fish, and then with extreme awkwardness they hack away at it with their knife until they have assembled a plateful of bite-sized chunks. Both utensils then go back on the table, the fork is switched to the opposite hand, and the dissected dinner, by now cold, is forked mouthwards. This maladroit ritual is accompanied by the rattle and crash of iced water constantly administered by illegal immigrants to whom the adjuration ‘no iced water please’ means fuck all. Soup is always cold because a few years ago a woman, possibly of Midwestern decent, burnt her mouth on a cup of McDonald’s coffee and sued for a zillion.

Obrigado Bagão!

De acordo com o Diário Económico o Governo deu instruções para se atrasar o pagamento dos subsídios da segurança social, por dificuldades de tesouraria e para melhorar as contas do Estado neste final de ano. Trata-se, tenho a mais absoluta convicção, de mais um acto Cristão da parte do Ministro Bagão. O qual deverá estar a pensar que se só pagar estes dinheiros depois das Festas, fará com que as famílias poupem e fiquem menos tentadas pelas compras. Melhorando, pois, o estado das suas finanças.



Fascinante ler para ver como foi, quando foi cá e como esperamos que não venha a ser se tornar a ser cá.

Ler o Portugal dos Pequeninos sobre Alexandre o Grande

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Oh! Como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo, a ver se inda parece,(1)
Da vista se me perde e da esperança.

Camões, Sonetos
1 – Parece é a forma quinhentista correspondente a aparecer.

A Sombra e a Escuridão do Dilúvio: como são vistas vistas por Turner




Shade and Darkness - the Evening of the Deluge,1843.

A lembrar o que se passou e passa no Sudeste Asiático: imagens que nos habituamos a ter só na imaginação e nos cenários especulativos dos "e ses", a ver no cinema americano de grandes orçamentos e nos pesadelos e sonhos de artistas.


Harriet Backer, À Luz de uma Lamparina, 1890.

a imagem da destruição de um Tsunami



Helena Almeida, Seduzir, 2002

sábado, dezembro 25, 2004

Telejornal de dia 24


Ontém no telejornal fiquei a saber que daqui a 15 anos, não haverá bacalhau para a consoada, porque Portugal é um grande consumidor deste peixe e a espécie estará em vias de extinção.
É sempre mais fácil concluir os problemas desta maneira, atirando as responsabilidades para quem não tem, nem teve, grande possibilidade de poder mudar a forma como os mares têm sido utilizados.
As calorias ingeridas por aqueles que tiveram a possibilidade de se refastelarem com a ementa portuguesa também foram noticia e o conselho dado pela RTP para as gastar foi uma hora de sexo enérgico!

sexta-feira, dezembro 24, 2004

O andar da carroça

Depois do Ministro do Governo demitido emanado do Parlamento dissolvido ter dito que se ia demitir para, afinal, não se demitir, foi a vez do sindicato dos trabalhadores da autarquia Lisboeta tere denunciado que estavam muitos trabalhadores a serem pressionados para irem ao jantar do Lopes na antiga FIL, uma vez que esse jantar não podia ter menos gente que os outros dois que ali decorreram recentemente.

Pelo andar desta carroça, daqui até 20 de Fevereiro isto promete.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A Criação

Da folha de papel, amarfanhada,
a mosca sobe aos montes,
desce aos vales,
evola-se.

A mão, armada,
rec omeça a planar
sobre outra folha, lisa,
de papel.

Alexandre O'Neil, A Saca De Orelhas, 1979

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Mais informações sobre Pamela Bianco


"The Sad Dancer", 1926 por Pamela Bianco

Pamela Bianco



Untitled (Summer Reflections), c.1930, Lithograph

A "Invasão" da Baixa




A Baixa tem andado cheia de gente. Desde os que andam nas compras, aos que querem ver as luzes de Natal, passando pelos que vão aos inúmeros espetáculos em cena. Apesar de saber que isto é bom para a Baixa, para as lojas, restaurantes e segurança da zona, muito embora falte estacionamento e o trânsito fique impossível, a mim parece-me uma apropriação de um espaço que me habituei a ver sereno, povoado de marginais e outras figuras que não se vêm em mais nenhum lado na cidade. E parece-me, a mim, que me estão a entrar pela minha casa adentro sem convite.

O Natal

Normalmente acordo para esta época todos os anos só quando o piscar das luzes da baixa, misturado com os encontrões das pessoas que "truca, truca" seguem apressadas no Rossio e na Rua da Betesga se tornam de tal forma intensos que eu deixo de ignorar a quadra festiva. E então acabo por me entregar, eu também, ao planeamento das compras e às contas que é necessário fazer.

Mas, para mim, o que acaba por me converter ao Natal, não são as compras, nem a perspectiva de receber presentes, mas antes o facto de algumas pessoas, nomeadamente alguns familiares (que me dá gosto rever) se sentirem "obrigadas" a reunirem-se e a, pelo menos uma noite, estarem juntos. E a, juntos, recordarem velhas histórias de família, ou, então, a contarem o que têm vindo a fazer, ou, ainda, a trazerem consigo as pessoas com quem vivem.

Claro que a perspectiva do sentimento de "obrigatoriedade" pode, por vezes, inquinar o ambiente em algumas reuniões em que as famílias não se dão tão bem. Ou, então, pode este sentimento, aliado, a um de conformismo com aquilo que é seguido pela marioria, fazer outras "novas" e "diferentes" famílias sentirem-se excluídas do prazer da reunião e convívio. Mas, se todos nos concentrarmos em tornar esta quadra num motivo para estarmos com quem gostamos de estar, nos nossos termos, até talvez não custe muito a passar.

Com esta nota em mente: um Bom Natal!


terça-feira, dezembro 21, 2004

Amar Não Acaba, Frederico Lourenço




Estou quase a acabar de ler este livro de Frederico Lourenço, o qual é certamente mais conhecido pela sua tradução da "Odisseia", do que pelos seus romances autobiogrráficos relatando a seu "acordar" homossexual. E que neste livro nos oferece de forma fragmentada a sua infância, adolescência e entrada para a vida adulta, bem como alguns mosaicos das figuras que mais o inspiraram da sua família.

Há poucos dias contei a um amigo que o estava a ler e dei por mim a ter de o defender e à sua qualidade literária. Coisa que não aconteceria se estivessemos a falar de um livro de Monette, ou de Leavitt, ou até mesmo de Ronan, os quais são também, por sua vez, mais inconstantes em termos qualitativos do que é Lourenço, que mostrou novamente o seu brilhantismo nesta entrevista.

Então porque seremos nós os primeiros a desvalorizar a incipiente literatura gay que temos, especialmente quando, neste caso, ela até é de boa qualidade?

O que é melhor para um Português é melhor para Portugal?

Um dos argumentos mais ouvidos dos que defendiam a ida de Barroso para Bruxelas tinha que ver com as inegáveis vantagens que resultariam para o nosso modesto país do facto de ter um seu nacional ao leme na Comissão. Gostaría, pois, de ver as suas caras, quando a Comissão acaba de chumbar, em pouco tempo, duas pretensões do Governo da República: o negócio do Gás e da EDP e, agora, as medidas extraordinárias para conter o défice.

Já eu, por acaso, até acho que estes dois chumbos da Comissão vão acabar por ser benéficos para Portugal. E, para além disso, continuo a afirmar que a grande vantagem de ter Barroso em Bruxelas é quase toda de Barroso mesmo.




O Pai Natal e uns problemas logísticos.

E se o ataque ao Pentágono não tiver sido como nos contaram? Vale a pena ver, antes que este site desapareça.

politicas irresponsáveis

A imprensa lamenta que tenha sido necessário um drama destes para que saia na praça pública "a inconsequência" do tratamento "puramente orçamental" do sistema de saúde. Uma política constante de redução de custos leva à redução de pessoal médico e de enfermagem e ao fecho de centros hospitalares.

E por cá, não é muito diferente, de certeza!

sábado, dezembro 18, 2004

O "Jumento" sobre o chumbo do Constitucional à pergunta para o referendo

"Não me incomodei nada com a decisão do tribunal Constitucional acerca da pergunta proposta para o referendo à Constituição Europeia; para isso contribuíram duas razões: porque não gosto de referendos e porque aquela pergunta mais parecia uma tese de mestrado."

(...)

"Pessoalmente sou favorável à Constituição Europeia, mas tenho muitas dúvidas sobre a utilidade de um referendo a não ser para dizer que o povo apoiou a Constituição ou, pior, para concluir que graças á abstenção uma minoria de portugueses arranjaram um "31" ao país de onde ninguém saberá como sair."

Álvaro Lapa ganha o prémio EDP 2004 para as Artes Plásticas




Este trabalho do autor está na estação de metro de Odivelas.

O Metro e as Colinas

Tenho-me questionado últimamente sobre o que aconteceu à engenharia nacional. A mesma que conseguiu feitos notáveis no passado, a mesma da tradição de figuras como Edgar Cardoso que deixou a sua marca espalhada pelo país e até pelo ultramar português.

Esta preocupação tem a ver com o que se tem passado recentemente numa série de obras no país. As obras do metro no Porto, a ponte Europa em Coimbra, ou a expansão do metro em Lisboa, obras, ou que deixaram os prédios à volta em muito mau estado, com fissuras, ou em derrocada, ou, ainda túneis a meter água, ou a ponte cujas metades do tabuleiro não se encontravam a meio.

Por isso a minha preocupação é maior com o anúncio esta semana que o Metro de Lisboa se prepara para projectar uma nova Linha, a das "Colinas", que atravessará a cidade por Campo de Ourique, Príncipe Real, Almirante Reis e Graça, até Santa Apolónia. Ou seja, uma linha que faz todo o sentido ao ligar bairros degradados, com uma população envelhecida, casas devolutas e com maus acessos aos eixos principais da cidade. Mas será que com o estado actual da engenharia as colinas não virão abaixo?

sexta-feira, dezembro 17, 2004

E se Portugal tivesse aderido à UE em pleno consulado Marcelista? Isso não será a mesma coisa que a Turquia aderir tal como está agora?

Pinto da Costa e Rui Rio




Pinto da Costa acaba de anunciar que vai fazer campanha contra Rui Rio, nas próximas eleições autárquicas no Porto. Não aprecio nem um, nem outro. Rui Rio começou cheio de promessa, mas acaba o seu mandato, mais ou menos, como uma versão "requentada" do Lopes na capital. Vai ficar na memória de muita gente aquela sua tirada sobre a cultura e o livro de cheques.

Pinto da Costa é o típico líder regional caciquista tão frequente na I Républica e, infelizmente, mais frequente do que seria desejável nos tempos actuais. Nada tenho a dizer quanto ao seu envolvimento no caso "apito dourado" uma vez que ele não ocupa qualquer cargo público e não está condenado. Tenho é que dizer que acho inaceitavel o clima de chantagem constante sob o qual todos os autarcas vão passar a viver sempre que ousarem recusar, ou não facilitar tudo aos clubes locais de futebol. Porque vão sempre pensar que podem ter o presidente do clube respectivo a fazer campanha contra eles nas próximas eleições.

E só por causa disso acho que se deve apoiar o Rui Rio. Mesmo que se possa considerar que ele não fez o melhor pela cidade do Porto. Só para remeter o futebol de novo para o seu lugar próprio: dentro do estádio.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Assim não Pacheco Pereira

Já aqui tinha escrito sobre Pacheco Pereira. Tenho consideração pela sua figura, especialmente pelo facto de, depois de ter feito críticas duras a este governo, ter resolvido recusar um cargo muito apetecível de embaixador junto à UNESCO em Paris.

Agora deita tudo a perder. Aparentemente, Pacheco Pereira afirmou que vai votar no PPD de Lopes nestas próximas eleições, sobrepondo a lógica "cordeirística" ao livre pensamento. O que é surpreendente, quando recordamos, ainda, e muito bem o que ele tem andado a dizer, e bem sobre o actual governo. Mas, se calhar esta decisão de Pacheco acaba por ser compatível com o Pacheco Pereira que defende o Sharon, a invasão do Iraque, ou o não no referendo alusivo à Constituição da União Europeia.

Os melhores Blogs

A Visão acabou de publicar a lista daqueles que considera serem os melhores Blogs nacionais. Fiquei inchado de orgulho por ver que colocaram em terceiro lugar o Blog de um amigo. Um amigo antigo, daqueles com quem passamos por muito e com quem esperamos passar por muito mais.

E, ainda por cima, não é que, não contente com a assunção plena da sua identidade, que o Blog dele é mesmo bom!?!

Um abraço João.

Sir Ian McKellan by Clive Smith, 2002




Será mesmo Ian McKellan, ou será Gandalf?

Gosto dele. É dos poucos actores verdadeiramente globais que não esconde a sua homossexualidade, nem se furta a dar uma "mãozinha" onde e como pode.

Portas: o melhor aliado de Sócrates?

Será que Portas não percebe que ao dizer que se o PP e o PPD tiverem, em conjunto, mais deputados que o PS após as eleições, o Presidente tem que os chamar para formarem governo, está a auxiliar o PS e a lógica da bipolarização?

É que os portugueses ao realizarem isso mesmo, vão, obviamente, votar em massa no PS. Uma vez já bastou.

Andy, o vocalista dos Erasure é um homem de coragem

"Thank you to all the fans for their concern expressed on the Erasure forum over my H.I.V. status. I found out I was H.I.V. + in June 1998 when I had a bout of pneumonia in Mallorca, since then I have been taking combination therapy & I am feeling fine in fact I have never felt better.
Being H.I.V. does not mean that you have a.i.d.s. My life expectancy should be the same as anyone else's' so there is no need to panic, there is still so much hysteria & ignorance surrounding H.I.V & a.i.d.s lets just get on with life i.e. making music, doing a live tour & generally having a good time."

A nova Directora fala sobre o "seu" Museu Nacional de Arte Antiga

Dalila Rodrigues, a nova Directora, fala hoje ao Público sobre as suas estratégias para fazer aquele museu recuperar a dignidade e número de visitantes de outrora.
Eu, por mim, começava por alterar os horários de abertura. Já vai em 3 o número de vezes em que chego ao Museu, ou para o mostrar a algum amigo estrangeiro de passagem, ou para usufruir do excelente restaurante e jardim, e dou com o nariz na porta, ou do museu todo, ou do restaurante, que salvo erro, fecha ao domingo e só abre na tarde de segunda, ou terça.
Se, como parece pelas suas declarações, Dalila quer dar a volta ao museu, talvez não fosse mal pensado começar pelo mais simples, que era tê-lo aberto com horários semelhantes aos seus congéneres europeus: o Prado, o Louvre e so on...
Mas para isso se calhar não era preciso mudar de Director...

Estado não sabe quanto gasta neste combate

Hoje foi apresentado no CCB o relatório da avaliação da estratégia da luta contra a droga e a toxicodependência.
Muitas questões ficaram no ar e creio que apesar de ser um acto inédito, esta avaliação ainda enferma de conceitos sobre droga demasiado estereotipados para o meu gosto. As palavras usadas, combate, luta, são nitidamente desadequadas, assim como o discurso moralista onde só parece faltar a palavra pecado... Para quando uma visão pragmática da situação?
O relatório estará disponível no site do IDT

quarta-feira, dezembro 15, 2004

A Lap Pillow. Mais uma invenção do Japão



Para quem tem dificuldades em dormir sozinho(a), porque há as duas versões da lap pillow com colo de mulher, ou de homem.

ainda sobre o anúncio do entendimento pós eleitoral

Ontem ficámos a saber mais algumas coisas para além do facto de o PPD e o PP irem coligar-se só após as eleições, se juntos puderem garantir uma maioria absoluta no parlamento. Ficámos a saber, por exemplo, que a ida de Barroso para Bruxelas foi, nas palavras de Lopes, um acto "irresponsável".

Ficámos a saber que Portas não tem qualquer respeito por Lopes, por afirmar insistentemente o contrário, ou estão a ver o Portas a ter dito o mesmo a Barroso há dois anos atrás no Tivoli?

Ficámos, também, a saber que ambos os dirigentes sentem-se satisfeitos por acharem que condicionaram o outro. O PPD consegue dividir os louros da derrota com o PP e este não pode ir a correr coligar-se com o PS (as if?).

Ficámos, por último, com uma clara impressão, quando comparados os discursos, que Lopes perdeu o brilho e a capacidade de discursar com paixão e convicção. Parece que olha com vertigem para onde está, vendo já a altura da sua queda e percebendo, simultaneamente, a sua incapacidade em fazer melhor.

A Sobremesa

Continuando a empregar um jargão alimentício aquilo que os Senhores Portas e Lopes ontem nos prometeram foi uma coligação em jeito de "sobremesa". Não é preciso comer nem a sopa, nem o prato principal. Não nos querem sequer obrigar a comer as couves de bruxelas, ou os bróculos. Podemos todos passar directamente à sobremesa.

O problema é que esta sobremesa é toda ela chantilly, leve e ligeira mas muito má para as artérias.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Adivinha quem vem para jantar?

Já a 4 de Dezembro tinha escrito aqui sobre o "negócio" da coligação ("O Bazar"). O que se tem passado entretanto confirmou as minhas piores suspeitas expressas na altura. Portas e Santana continuam, entre os recados que mandam cá para fora, as acusações que atiram a tudo e todos que possam "justificar" a incompetência dos próprios e a completa abstração das suas qualidades de membro e chefe de um governo, numa dança macabra à qual só eles mesmos e seus respectivos "ecos" é que podem achar graça.

O país assiste incrédulo e, infelizmente, impávido.

A não perder: Jordi Savall na Gulbenkian




Jordi Savall vai apresentar uma noite de música da época "Isabelina" espanhola relacionando as peças musicais com 20 momentos da vida daquela monarca reconhecida pelo epíteto e "A Católica". Ou a raínha responsável pela conquista de Granada, implantação da Inquisição, "descoberta" da América, verdadeiro elo forte do casamento com Fernando de Aragão. Para mim, especialmente, depois de ter tomado conhecimento da figura da "Beltraneja" foi também a usurpadora.

Ler o "spin" de Portas muito bem detectado pelo Resistente Existêncial em "Semear e Colher"

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Ao rapaz que dorme
surge o corpo do amor.
O que destrói.
Pedras sem adeus.

Sobre o dia do seu coração
cai a tribo do crepúsculo.
Crescem os braseiros,
os sarros, os saques.

Queres que viva e evite a vida?
Ame e evite amar-te?

Os olhos dizem-lhe que não.
O fatigado alarme do corpo
ergue-se noutra chama.

O mundo vai morrer neste poema.


Joaquim Manuel Magalhães, segredos, sebes, aluviões

Os "Dez Melhores Livros de 2004", segundo o New York Times

A Lista dos Livros do Ano, do Times

Sebastião Salgado e os vulcões do Ruanda (projecto Genesis)




When Nyamulagira erupted, it sent a fast-moving river of lava out through Congo, the intense heat and ash destroying much of the surrounding forest and creating a landscape of desolation.

será que alguns dos nuestros hermanos irão ter de começar a vir até Barrancos?




Leonor de Castro, Figura Masculina, 1995

Há certas imagens que nos fazem fantasiar. Esta serigrafia de Leonor de Castro é, sem dúvida, uma delas. A mim transporta-me para o universo das histórias infantis, povoadas de florestas encantadas, em que tudo podia acontecer com um simples adormecer e sonhar.

A tentação da fuga

Segundo notícias hoje publicadas, Lopes terá querido abandonar as suas funções de Primeiro-Ministro, como forma de reacção á intervenção presidencial. Só tendo sido travado nessa intenção por Portas e Sarmento. Se, por um lado, é compreensível esta tentativa de fuga em frente perante o cenário de um governo de gestão, que nem o vai deixar distribuir o bodo aos probres, nem o vai deixar actuar como líder partidário em campanha como ele gostava; por outro, seria um cenário sem precedente na história da Républica e uma extremização da estratégia da vitimização que poderia mesmo ser contraproducente: «lá está o Lopes a fugir de novo!».

Portas de facto evoluiu com esta experiência de governo. Está longe de ser confiável como homem de estado e como demagogo que é. Mas este episódio, em conjunto com a forma como ele geriu a incógnita da coligação, demonstra uma evolução. Cuidado com ele!

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Remember, Christina Rossetti

Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando eu não te tiver mais ao meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.

Quando mais não puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.

No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares

Um resto houver do afecto que em mim viste,
-Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.

(Trad. Manuel Bandeira, in Rosa do Mundo)




#1, 2, 3 e 4, Lisbon Portões nª1, 2, 3 e 4, Lisboa, 1997 esmalte sobre vidro, batente de portas [enamel on glass, door frames] foto Attilio Maranzano coleção Museum Moderner Kunst, Stiftung Ludwig, Viena

Uma instalação de Pedro Cabrita Reis a fazer-nos lembrar uma passagem de André Malraux:

«We are told that our individualist art has touched its limit, and ist expression can go no further. That's often been said, but if it cannot further, it may still go elsewhere.» (The Voices of Silence)

Lanche na Garrett

Comemorou-se, há pouco tempo, uma efeméride relacionada com Almeida Garrett (cuidado ao lerem o seu último apelido, é que ele, aparentemente, "afinava" com quem perante um nome com dois ts, nem lhe pronunciava um). E a propósito dessa mesma efeméride, lembrei-me da última vez que voltei à Garrett do Estoril, o meu café de lanches e encontros, especialmente durante os tempos de universitário.

A Garrett é talvez o último dos "grandes" cafés do antigo Estoril e como tal, ainda que recentemente redecorada e reactualizada, poiso para alguma fauna muito especial.

Como já lá não ia há alguns meses, não deixei de ficar surpreendido com as pessoas, ou estereotipos que apesar de ter conhecido toda a vida, não deixam de me surpreender. Desde a possidoneira do um beijinho, à conversa sobre os costados, desde os cabelos cuidadosamente escovados com gel, a roçar o blazer monogramado de sábado à tarde, ao olhar blasé de quem finge não reconhecer quem se conhece.

Entre as "familias" que estavam sentadas ao meu redor, encontravam-se as de, pelo menos, dois ministros, que por acaso por essa altura tinham acabado de saber que iam deixar de o ser. Nos seus gestos, olhares e deporte nada os traía. Afinal não são eles filhos, netos, ou sobrinhos dos senhores que nos governavam antes? Afinal não estarão eles tranquilos relativamente à certeza que têm que o tempo deles, num país que se recusa a avançar, voltará, senão nas suas vidas, pelo menos na dos seus rebentos?

Espalhados nas mesas, o material de leitura que estas "familias", representantes da nossa classe dirigente e, em parte pelo menos, da nossa elite, folheavam distraídas entre um cumprimento a um primo e uma dentada num brioche: a revista Caras e o jornal 24 Horas.

A (Des)Ordem dos Advogados

Acaba de ser eleito novo Bastonário da Ordem dos Advogados. Pela primeira vez é um advogado formado na Universidade Católica e dissociado das maiores sociedades de advocacia do país.

Entre as primeiras declarações que o novo Bastonário, Rogério Alves, fez está a sua manifesta oposição à despenalização do aborto. Pelo que qualquer novo impulso que este senhor dê ao sistema judicial, no sentido de o tornar mais célere, mais eficaz e mais transparente, irá ter como consequência o mais rápido julgamento e eventual condenação das mulheres que abortarem. E até é pena que assim seja, porque Rogério Alves parecia a lufada de ar fresco de que a Justiça anda tão carecida.

O Violinista, ou como, por vezes, a História se repete

Mais outro país abre a porta à legalização dos casamentos homossexuais

O Canadá acaba de "legalizar" os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Contrariamente a nós, este país subdesenvolvido, cuja sociedade e orgãos de soberania se econtram, evidentemente, em falência técnica e prestes a soçobrar, entendeu que todas as pessoas independentemente da sua orientação sexual merecem igual respeito da Lei.

Nós por cá, entendemos exactamente o oposto. Mas é também será concerteza por isso que a nossa sociedade civil é mais aberta e instruída, os nossos cidadãos mais felizes e realizados e o nosso Estado mais desenvolvido e eficaz do que aquele miserável estado Canadiano.

Escrevo Do Lado Mais Invisível Das Imagens, Daniel Faria

Escrevo do lado mais invisível das imagens
Na parede de dentro da escrita e penso
Erguer à altura da visão o candeeiro
Branco da palavra com as mãos

Como a paveia atrás do segador
Vejo os pés descalços que correm
E escrevo para os que morrem sem nunca terem provado o pão
Grito-lhes: imaginai o que nunca tivestes nas mãos

Correi. Como o segador seguindo o segador
Numa ceifa terrestre, tombando. Digo:
Imaginai


De Dos Líquidos, 2000


tem uma voz do tamanho do mundo


Canta Lover Man como ninguém. Basta ouvir a versão dos Communards com Jimmy Somerville. É um prazer!

quinta-feira, dezembro 09, 2004

parece mentira, mas não é

Parece mentira, mas não é. O, ainda, Ministro Morais Sarmento, o mesmo que há uns tempos dizia que era mais barato mandar uns portugueses à Lua, que continuar a fazer o magazine cultural Acontece; ou o mesmo que uns tempos depois, dizia que a consagração plena da mulher passava acima de tudo pela maternidade; ou o mesmo que, passados outros tempos, dizia que a programação e informação da RTP devia ser decidida pelo governo, pois esse é que tinha legitimidade popular para tal; ou, ainda, o mesmo que, na semana passada, depois de duas remodelações governamentais em tempo recorde, dizia ter este governo todas as condições para governar. Pois este senhor acusou o Presidente de caudilhismo na decisão que tomou de dissolução do Parlamento.

Ainda se tivesse dito que o Presidente não tinha seguido um procedimento mais claro, ou então que tinha sido "oportunista" aproveitando um, aparentemente, "caso menor" - para não prolongar a agonia da "besta" em que se tinha transformado este governo. Mas não, caudilhismo foi a opção.

Infelizmente neste caso já nem se pode dizer: "It takes one to know one."

quarta-feira, dezembro 08, 2004

W. H. Auden




Now tell me what your children are?
Pocket editions of their papa.

1931

W. H. Auden e o simbolismo do Corpo Humano

Isn't it true however far we've wandered
Into our provinces of persecution
Where our regrets accuse, we keep returning
Back to the common faith from which we all dissented,
Back to the hands, the feet, the faces?

Retirado de uma carta escrita a Richard Crossman, em 1936, na Islândia

"Umas verem as outras e as outras a uma"

Posso não ter ido ao concerto da Madonna, mas fui ao jantar dos 80 anos do Dr. Soares. O qual juntou a maior parte do país "político" dos últimos 30 anos. O jantar decorreu sob o lema da sobriedade, quer na forma da homenagem a Mário Soares, quer nos discursos da noite, proferidos por Vieira de Almeida e pelo próprio. O prímeiro procurando recordar as vicissitudes do caminho para a democracia e aquilo que deveriam ser as decorrências lógicas do regime, entre as quais o não querer-se, ou dever-se mudar os outros à força.

O segundo, proferido por Soares, relembrou-nos o facto de cerca de 30 anos da sua vida terem sido passados na resistência, sem certezas, mas antes só a esperança que as coisas um dia mudariam para melhor. Soares acrescentou que, embora retirado da política partidária, continua comprometido com a sua intervenção "político-cívica", manifestando o seu pesar pelas circunstâncias não lhe terem permitido dedicar mais tempo a actividades que, quando as fez, lhe deram enorme satisfação. Actividades como o jornalismo, ou a advocacia.

Soares termina dizendo-se preocupado, por um lado, com a situação actual do país, fazendo um apelo ao que chamou a jovem "safra" para o serviço ao país no respeito pelos velhinhos ideais republicanos, que defendiam que o serviço da res publica pela res publica era recompensa suficiente para o servidor. E por outro, com a situação política internacional e Europeia.

Paralelamente a este jantar de 2000 "amigos" e "amigas" ocorreu a dança de cumprimentos e olhares dos que apareceram, entre estes algumas surpresas e algumas ausências. E à semelhança da ópera, o que era importante era umas verem as outras e as outras a uma.

Final

A morte é grande,
nós somos dela
de boca ridente.
Quando nos julgamos no meio da vida
ousa ela chorar
no meio de nós.

Rainer Maria Rilke, Livro das Imagens (1902)

Ai, pássaro, como tomas balanço
para o coração! Quem ousava
esperar que o íntimo
assim dele jorrasse?

Rainer Maria Rilke (Duíno, 1912)

terça-feira, dezembro 07, 2004

Os 80 anos dos 5 Soares




Soares foi primeiro, para mim, o nome que comecei a ouvir, de entre os vários que eram mencionados na altura como resistentes à ditadura. Logo depois encarnou a única voz que se conseguiu fazer ouvir e sobrepor às vozes mais radicais de certa esquerda com tendências totalitárias.

Depois, em segundo lugar, Soares foi o governante que se deixou enredar, justa, ou injustamente, ainda não sabemos, no drama da descolonização, algo que muito portugueses não lhe perdoam. Em terceiro, Soares foi o governante menos feliz, porque corajoso e com poucas preocupações populistas.

Em quarto lugar, Soares reaparece, após uma travessia do deserto, como pai da nação, ora “monarca bonacheirão”, ora “mandão”, sempre bem recebido pela generalidade dos portugueses.

Por último, em quinto lugar, Soares quase regressa aos seus velhos tempos de contestatário, aliando-se a uma série de movimentos e questões que irão marcar os próximos anos, senão décadas. Ele passa a “estar” com os sem terra no Brasil, com os Índios no México, com os anti-globalização, com os que procuram encontrar novas respostas ao terrorismo internacional, bem como com os que cá contestam a progressiva promiscuidade entre negócios e política. Aqui ele sente-se mais autêntico, como actor da grande politica, terreno onde sempre se sentiu à vontade.

É o conjunto destas cinco faces de Soares que lhe garantem um lugar único, quer na História de Portugal, quer mesmo na da Europa.

vazia de estrelas a noite perde-se no fundo
nave sem destino no oceano dos céus
e roda sobre si e chega ao fim do mundo
encontrando aí a escuridão de Deus


José Manuel dos Santos, "Livro dos Registos"

Estatística, António Gedeão

Quando eu nasci havia em Portugal
(em Portugal continental
e nas ridentes,
verdes e calmas
ilhas adjacentes)
uns seis milhões e umas tantas mil almas.
Assim se lia
no meu livrinho de Geografia
de António Eusébio de Morais Soajos.
Hoje, graças aos progressos da Higiene e da Pedagogia,
já somos quase dez milhões de gajos.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Sampaio e os Contras

Nos meus tempos de miúdo, havia um programa chamado Ripley's Believe it or not, que acho que em Português se ficava por uma mais bombástico "Isto é Íncrivel". Nesse programa eram exibidas uma série de "bizarrias" e "anormalidades", do género do homem que conseguia fazer mais caretas, ou da mulher que conseguia torcer-se para além do que uma vulgar contorcionista conseguiria.

A realidade nacional, mesmo após as notícias de dissolução do Parlamento, tem-me continuado a parecer algo saído do universo desse programa. O Primeiro Ministro mais entertainer do século, os Ministros mais descoordenados desde a I Républica, o Presidente mais insignificante da democracia, enfim a lista poderia continuar e todos os itens apontariam no mesmo sentido: a "palhaçada" e o extraordinário no poder.

É, por isso, menos surpreendente a notícia que acabo de ler: o Presidente Sampaio, sim o mesmo que achou que não tinha nada a explicar aos cidadãos, vai hoje participar, autísticamente, num programa televisivo chamado "Prós e Contras" sobre a língua portuguesa. Talvez lhe ensinem todos os possíveis significados da palavra "atabalhoado".

O que eu gostava de receber este Natal...

Em alternativa para quem, como eu, não pode estar agora a pagar cerca de 11.500 Euros pela obra completa, pode sempre, ou ir aqui para ler as destacadas da semana, ou aqui para receber todos os dias por correio electrónico "vidas".

Another Voice, por Matthew Parris (Spectator, 20 de Novembro)

The Right has won the argument, so why is it so angry and sour?

My father made a surprising remark to my mother and me last week. ‘I have the impression,’ he said, ‘that young people are more intelligent these days.’
‘What do you mean, Dad?’ I said.
‘Just that. Listening to what they talk about, what they know and what they are interested in, I just get the impression that people were duller and more limited when I was a young man.’

A esta hora já está.

Resta agora saber o que fará Belém com a proposta de Lei de Orçamento para 2005. Sabendo que se o promulgar, o PS já fez saber que se for governo a partir de Fevereiro próximo irá apresentar um Orçamento rectificativo.

Mas afinal não era este um mau orçamento, vindo de um mau governo que até vai cair por isso? Então para quê promulgá-lo Dr. Sampaio?




Esta imagem faz-me lembrar qualquer coisa entre um anúncio aos corpos danone e aqueles "reclames" do género adivinha o que tem a coiso e tal dentro da mala, que é, ou um penso higiénico, ou um tampão.

O Bazar

Por estes dias temos sido brindados com uma cena digna do melhor Bazar em Marrocos, ou afim. O Portas e o Lopes têm estado a fazer de conta que negoceiam se querem ou não avançar para uma coligação pré eleitoral. Isto quando o primeiro sabe que é a única forma de evitar o pior do cenário da bipolarização e o segundo sabe que é também a única solução para evitar assumir inteira responsabilidade pelo desaire eleitoral que muito provavelmente o PPD irá sofrer em Fevereiro próximo, dizendo que a culpa foi do PP.

Enquanto um finge ouvir os seus lugares tenente, que sabem só existir graças ao líder, o segundo finge que os seus lugares tenente falam por todo o partido. O pior é o que passa cá para fora que é uma imagem parecida com o desenrolar de uma negociação num Bazar qualquer no mundo Islâmico, em que o cliente finge nem ter muito interesse em comprar e o vendedor em empolar o preço inicial para receber uma fracção desse valor.

domingo, dezembro 05, 2004

A insónia

Hoje está me a custar ir para a cama. Ou melhor já lá estive depois de uma maratona de cinema/dvd no sofá e de umas páginas de um livro que estou a ler e agora o que me custa é voltar para lá. Não tenho sono. Tenho fome. Tenho vontade de ler mais. Já peguei nuns livros de poemas, até copiei alguns para aqui, mas não me veio o sono. E eu até sei porquê.

É que sábado tive aquilo a que costumo chamar um dia de puta. Cama até tarde, pequeno almoço na sala, a ver a SIC Notícias e a seguir as últimas dos cinco (Lopes, Portas, Amaral, Sócrates e Sampaio), seguido de mais cama com um livro e depois mais outro longo sono.

E é que depois de ter tornado a acordar, lá pelas 4 e meia, também não me cansei muito. Limitei-me , após a banhoca, a ir buscar os jornais, o que no meu caso significa um passeio de 20 minutos, 10 para lá e 10 para cá e a um desvio na loja dos museus nos Restauradores, onde ganhei o dia com os saldos de livros que eles estão a fazer. Basta dizer um livro sobre o Carlos Relvas (um dos pais da fotografia em Portugal) a 15 Euros, quando o preço inicial era de 40. Valeu bem a pena.

Quanto regressei a casa, estendi-me no sofá e atirei-me aos jornais. Primeiro ao Público, depois ao Expresso, que acho que li mais depressa que o primeiro. Ainda tive tempo para folhear o número desta semana do Times Literary Supplement que publica uma lista dos livros do ano (o que explicará este nosso fascínio com a publicação de listas?). E depois, ala moço que a barriguinha já pedia alimento.

Lá fui jantar, mais o maridão e aproveitar as Amoreiras vazias para fazer mais umas compras de Natal.

Bem, pensando bem, até que podia estar cansado. Mas não estou. E eu que durmo sempre bem e sonho sempre muito, não estou mesmo nada habituado a esta insónia.

São sete. Há alguns anos, quando era estudante em Lisboa e, ainda, cá não morava era a esta hora que acordava. Ou, quando não estava muito preocupado com o curso, era a esta hora que, chegado a casa de uma noite na "má vida" do comboio das 5 e meia da manhã, ia direitinho à padaria ao pé de casa para ir comprar o pão fresco para os melhores pequenos almoços de sempre.

A Musa, Anna Akhmatova




Como viver com esta maçada,
E ainda lhe chamam Musa,
Dizem: «Tu e ela nos prados...»
Dizem: «O murmúrio divino...»
Abanará mais duro que uma febre,
E de novo o ano inteiro caladinha.

(Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev, Relógio D'Água)

As Danças da Noite, Sylvia Plath




Um sorriso caiu na relva.
Irrecuperavelemente!

E como irão perder-se
As tuas danças nocturnas. Na matemática?

Tão puros saltos e espirais -
Certamente viajam

Eternamente pelo mundo, não hei-de ficar
Despida de belezas, o dom

Do teu pequeno sopro, o cheiro
A terra molhada, lírios, lírios.

A sua carne não aguenta aproximações.
Frios vincos de um ego, o narciso,

E o tigre que se embeleza a si próprio -
Sinais e uma chuva de pétalas de fogo.

Os cometas
Têm um espaço tão grande a atravessar,

Tanta frieza, esquecimento,
Assim se esfumam teus gestos -

Calorosos e humanos, depois a sua luz rosa
A sangrar e a pelar

Entre as negras amnésias do céu.
Por que me dão

Estas luzes, estes planetas
Caindo como bençãos, como línguas de luz

De seis pontas, brancas
Nos meus olhos, lábios, cabelo

Ao tocarem desfazem-se.
Em lugar nenhum.

(Tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D'Água)

Vale a pena ler este artigo sobre outros crimes de Kissinger: sim, o mesmo que deu o OK à invasão de Timor

Kissinger Declassified
Newly released records hint at a horrifying U.S. complicity in dark deeds of right-wing dictators

Por Christopher Hitchens

sexta-feira, dezembro 03, 2004

é preferível estar para lá de e não lá.

Terá Sta. Teresa, aqui reproduzida no seu extâse (autor Bernini), se lembrado das declarações de Feytor Pinto alusivas ao sexo seguro?




O presidente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde defendeu hoje um maior empenho das organizações católicas na defesa do sexo seguro como forma de prevenir a sida, evitando a sua "confusão" com o uso do preservativo.

Uma boa receita para a Ucrânia e para Portugal: As Laranjas Dançarinas






Alguém percebe porque é que um governo que não é competente suficiente para governar (e que por isso vai ser demitido) pode, ainda assim, aprovar o seu mau orçamento?

No meio deste folclore, uma voz de sensatez: Mota Amaral, o único, até agora, a concluir o óbvio: esta assembleia está ferida de morte e não devia aprovar mais nada.

quinta-feira, dezembro 02, 2004




Este é o último exemplo de uma série de campanhas que, por esta altura do ano, a Comissão Nacional de Luta contra a Sida lança. Todos os anos, já sabemos este organismo oficial abandona a sua pesada letargia e ganha vida porque é preciso parecer estar a fazer alguma coisa no dia mundial de luta contra a SIDA, que se assinala a 1 de Dezembro. O resto do ano é passado numa gestão de secretaria, ou dando negas aos pedidos de apoio que uma série de ONGs apresentam para fazer o trabalho que a Comissão não faz, ou engendrando novas formas de chegar ao final do ano e devolver fundos orçamentados, mas não gastos de volta ao governo, o qual agradece.

Entretanto, os números de infecções novas vão de preocupantes para assustadores. Entretanto continua a não haver delineação de estratégias de prevenção e acompanhamento pensadas em função dos grupos que se pretende atingir. Entretanto continua a não haver educação sexual nas escolas, nem informação quanto a práticas de sexo mais seguro entre os jovens e os preservativos são raros, caros e olhados com preconceito, porque não houve uma aposta em projectos que tornassem estes profiláticos uma coisa comum e "normal". Entretanto, os presos em Portugal, mesmo quando entram "saudáveis" para os nossos estabelecimentos prisionais, arriscam-se a sair infectados com o VIH, entre outros bicharocos porque o estado continua a preferir assobiar e olhar para o lado, em vez de criar condições para que os presos tenham acesso em condições dignas a seringas e preservativos.

Também aqui este é o país de "tecto baixo". A diferença é o resultado mortal que neste caso tem o preconceito, a indiferença e a incompetência.

A Pastelada (2)

Não gostei da decisão de Jorge Sampaio em Julho, assim como não gosto da sua decisão de agora. Não gostei do resultado da sua decisão na altura, estou, contudo satisfeito com o resultado da sua decisão agora.

Passo a explicar. Na altura Sampaio devia ter dissolvido a Assembleia e convocado eleições. Não o ter feito na altura foi ter legitimado a prática futura de todo o tipo de golpes intra partidários, desde que não ficasse posta em causa a solidez da maioria parlamentar que apoiava o governo em causa. Os Presidentes passariam assim a estar sujeitos a qualquer “gato-sapato” que fosse designado pelo partido no poder, quer tivesse sido eleito, ou não pelo próprio partido, quer tivesse sido eleito, ou não pelos cidadãos. A decisão de Sampaio foi má, ainda, porque significou uma espécie de “rapto” do poder de legitimação dos governos do eleitorado para o ocupante de Belém, isto na sequência de uma série de desaires eleitorais e outros do governo, ainda liderado por Barroso.

Mais, seguindo a sistemática do pensamento e da prática presidencial de Sampaio, se ele na altura considerou que não devia dissolver o parlamento, face àquela situação em concreto, dificilmente o poderia vir a fazer, salvo um erro grave deste Governo. Isto se formos rigorosos claro está.

Nada do que se passou entretanto justifica, quanto a mim, face à interpretação que Sampaio sempre fez dos seus poderes, aquilo que o Presidente acabou por decidir: a dissolução.

Senão vejamos, houve contradições entre ministros? Houve remodelações sucessivas? Seguidas de mais remodelações? Houve mau gosto e falta de sentido de estado por parte do primeiro ministro, entre outros? Sim a todas estas perguntas. Mas será que estas situações todas não se verificaram já noutros tempos? O tabu de Cavaco, ou o pântano de Guterres. A tanga de Barroso, ou as zangas de ministros de Soares. Sem que nenhum destes governos fosse demitido por isso (excepção feita talvez em parte a Guterres que se retirou). Houve já, pois, uma série de situações ao longo destes últimos 30 anos pelo menos parecidas com a actual.

Há, contudo, uma grande diferença: a qualidade dos protagonistas. E penso que foi essa a diferença que ditou esta incoerente actuação presidencial. Ou seja, nem Portas nem Lopes são tão maus como o pior do Guterres. Algo que já toda a gente sabia em Julho e que pode confirmar ao longo deste quatro meses.

Mas afinal ficamos sem perceber a forma como Sampaio encara a sua função, ficamos sem perceber se o próprio saberá sempre o que faz e, mais importante, se o faz com convicção. Daí estas duas decisões serem, por razões diferentes, más. Uma provocou perda de tempo, de dinheiro, estagnação e desprestigio para o Governo. Outra porque, embora surja com bons propósitos, não é tomada da melhor forma e desprestigia ela também o próprio Presidente.





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